Energia elétrica

Especialistas do setor elétrico defendem gerenciamento dos recursos hídricos

Para Jerson Kelman, ex-diretor-geral da Aneel e ex-presidente da ANA, apesar da crise hídrica, ainda dá tempo evitar apagões

Vera Batista
postado em 17/06/2021 15:33 / atualizado em 17/06/2021 15:40
 (crédito: Fré Sonneveld/ Unsplash)
(crédito: Fré Sonneveld/ Unsplash)

De olho na Medida Provisória (MP 1.031/21), que define a capitalização da Eletrobras, e também no possível conteúdo da MP que deverá ser divulgada pelo governo para resolver a crise hídrica — que acarretou a necessidade de racionamento de energia e alta nos preços da conta de luz —, especialistas do setor elétrico defendem um gerenciamento dos recursos hídricos e energéticos no país. O foco do debate é se o Brasil vai ou não retroceder à grave situação de apagão vivida em 2001. Para alguns, a conjuntura é mais leve nesse momento, porque existem alternativas térmicas que estão sendo usadas. Para outros, o baque agora é pior, diante da crise sanitária causada pela pandemia, que já afeta o crescimento econômico.

Todos eles, por outro lado, discordam do item da MP 1.031, “um jabuti”, sobre a inclusão de usinas térmicas nas regiões Norte e Nordeste. Em debate, nesta quinta-feira (17/6), durante o evento virtual “20 Anos Depois: a escassez hídrica e os riscos de falta de energia”, pela Agência epbr em parceria com o Instituto Escolhas, Jerson Kelman, ex-diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), garantiu que o contexto de 2021 é diferente, embora demande “ações urgentes, rápidas e responsáveis”. Ele destacou a importância de remanejamento da demanda em momentos de pico, alteração de vazão mínima de reservatórios e criação de comitê com diferentes órgãos do governo para lidar com a situação.

“Em 2001, era necessário diminuir o consumo. Hoje, é possível remanejar a demanda de pico. Estamos ainda em tempo de tomar medidas para evitar que, mesmo com uma situação hidrelétrica desfavorável, não tenhamos uma crise”, afirmou Kelman. Há necessidade, ainda, segundo ele, de que o comitê a ser criado possa tomar decisões e estude todos os dados disponíveis para apontar as “consequências dos usos múltiplos das bacias e os impactos no sistema elétrico”.

No entender de Luiz Eduardo Barata, engenheiro e ex-diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o governo não pode abrir mão da criação da Câmara de Regras Operacionais Excepcionais para Usinas Hidrelétricas (Care), para lidar com a atual crise.

Barata admite que o Brasil vive uma crise hídrica, mas concorda com Kelman de que não vai haver crise de abastecimento. Ele também é a favor da proposta de convencimento do setor industrial para deslocar a demanda dos horários de pico de consumo e de campanhas institucionais. “Sou favorável a um esclarecimento da população para que se evite desperdício em todos os segmentos. Acho que vamos passar por esse risco de abastecimento com um alto custo”, afirmou. Ele lembrou que, em 2001, a população, rapidamente, aderiu aos hábitos de racionamento. “Mas isso se perdeu com o tempo”. Disse, ainda, que é preciso que a indústria aceite negociar preços. “Quando se junta os ganhos de todo mundo, fica difícil para quem vai pagar. Aí, a gente não sabe porque a inflação está alta”, provocou.

Plano de saída da crise

Larissa Rodrigues, gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas, acredita que a crise energética já está em curso no país — "independentemente de termos ou não apagões" —, com sérias consequências no crescimento do país e na inflação, porque “vários setores terão que frear projetos de desenvolvimento por falta de energia”. Ela defende o uso equilibrado das energias renováveis e aponta que o risco de a MP da crise hídrica que vem sendo “rascunhada pelo governo incluir a inclusão das térmicas no Norte e Nordeste é grande”. “Temos que fazer uma boa gestão para não deixar que os reservatórios se esvaziem. Temos que mudar a lógica”, afirmou.

A gerente do Instituo Escolhas chama a atenção para o atraso do país na renovação da eficiência energética de vários eletrodomésticos. “Se o consumidor, como fez em 2001, for trocar de geladeira, por exemplo, não vai encontrar na loja uma peça eficiente. Desde 2006, não houve mudanças no nível de eficiência energética”, alerta Larissa Rodrigues. “Temos que fazer uma boa gestão para não deixar que os reservatórios se esvaziem. Temos que ter um plano de saída da crise”, afirmou.

 

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