CONJUNTURA

BC avalia que pressão inflacionária é maior do que a esperada

Ata da última reunião do Copom mostra preocupação da autoridade monetária com pressões inflacionárias e leva analistas a projetarem aceleração do processo de alta das taxas de juros. Crise hídrica e aumento do custo da energia complicam o cenário

A força da inflação surpreendeu o Banco Central (BC). A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, avaliou que a pressão inflacionária tem sido maior que a esperada, principalmente entre bens industriais. Foi com base nessa percepção que o colegiado decidiu, na semana passada, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 4, 25% ao ano. Para a próxima reunião, em agosto, a previsão é de nova alta de 0,75 ponto percentual. O BC avisou, no entanto, que se a inflação continuar pressionada, pode adotar ajustes mais duros.

O colegiado também considerou que a deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribui para manter a inflação elevada no curto prazo, mesmo com a recente valorização do real ante o dólar americano. Para boa parte dos analistas, o texto da ata indica que o BC está disposto a acelerar a elevação dos juros, alcançando mais rapidamente o chamado patamar neutro, em que os juros não estimulam nem inibem a atividade econômica e os preços, que seriam, atualmente, de 6,5% ao ano.

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimento, com todos os fatores de risco da economia, o BC não terá outra opção a não ser elevar a Selic “mais rapidamente para seu patamar neutro”. Mas a decisão futura do Copom vai depender das alterações da inflação, principalmente dos serviços, e como as expectativas vão se comportar. No entanto, esses fatores, diz ele, tendem a piorar nas próximas semanas, tendo em vista a recente alta da energia elétrica. “Mantemos a leitura de que a autoridade monetária irá subir em 1 ponto percentual a Selic na próxima reunião, e o que justifica isso são os motivos apresentados no próprio documento”, assinalou.

As metas perseguidas pelo BC para o Índice de preços ao consumidor Amplo (IPCA) são de 3,75% neste ano e de 3,5% em 2022 — com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. Segundo a ata do Copom, o cenário para a inflação envolve fatores de risco em duas direções. Por um lado, espera que uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local, o que produziria trajetória de inflação menor. Por outro, considera novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.

“Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, assinalou o BC.

Com base nas estimativas para as taxas de juros e de câmbio do mercado financeiro, reunidas na pesquisa Focus, as projeções de inflação do Copom estão em torno de 5,8% para 2021 e 3,5% para 2022, com juros se elevando para 6,25%, neste ano, e para 6,5%, em 2022. “Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,7% para 2021 e 5,1% para 2022. Adota-se uma hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia elétrica, que se mantém em ‘vermelha patamar 1’ em dezembro de cada ano”, reforçou a ata.

Rachel Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, afirmou que, se o BC for bem-sucedido na tarefa de controlar a inflação (especialmente no ano que vem, já que a política monetária demora um tempo para fazer efeito na economia real), a alta dos juros é um movimento positivo, e o resultado será a economia voltar ao normal, crescimento saudável da inflação e do crédito, sem necessidade de impulsos adicionais. Diante das decisões do Copom, ela destaca que “o investidor deve esperar a intensificação dos impactos vistos na semana passada, especialmente na renda fixa (redução da inclinação da curva de juros — maiores taxas de curto prazo, menores de longo prazo), e, no câmbio, o reforço da tendência de apreciação do real”.

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Economia real

Para o economista Cesar Bergo, sócio consultor da Corretora OpenInvest, o BC está no caminho certo, embora não seja possível ficar dentro da meta neste ano. “Em 2021, os juros devem ficar em 6,5%, mesmo patamar que a inflação, ou juro real zero. Significa que o BC vai retomar as expectativas iniciais, pelo menos de 1 ponto percentual”, afirmou.

O grande problema, disse Bergo, é a economia real. “O crédito deve ficar mais caro. Os bancos devem repassar imediatamente essa alta. E o objetivo é esse mesmo, para reduzir a liquidez. Até porque a previsão para o IPCA, divulgado no Boletim Focus do BC, já está em 5,8%, em 2021”, apontou o economista. Se, por um lado, a alta da Selic a princípio afeta o tomador de crédito, por outro, pode evitar que a população tenha que conviver com a chamada inflação inercial, que é a remarcação preventiva de preços, destacou.

Receita libera segundo lote de restituições do IR

A Receita Federal vai liberar, a partir das 10 horas de hoje, a consulta ao segundo lote das restituições do Imposto de Renda de 2021. No total, serão devolvidos R$ 6 bilhões a 4,2 milhões de contribuintes. A lista inclui restituições residuais dos exercícios de 2008 a 2020, referentes a declarações que foram retidas na malha fina. O dinheiro será depositado nas contas bancárias indicadas pelos contribuintes em 30 de junho. Para saber se a restituição está disponível, é preciso acessar a página da Receita na internet (www.receita.fazenda.gov.br), clicar em "Meu Imposto de Renda" e, em seguida, em "Consultar a Restituição".