CONJUNTURA

Atividade econômica avança, mas ainda em ritmo lento

Indicador de atividade calculado pelo Banco Central sobe 1,14% em junho, mas alta no trimestre é de apenas 0,12%. Para analistas, números mostram recuperação em relação ao tombo de 2020, mas ainda estão longe de indicar retomada consistente da economia

Fernanda Fernandes
postado em 14/08/2021 06:00
 (crédito: FGV/Divulgação)
(crédito: FGV/Divulgação)

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apontou alta de 1,14% em junho, na comparação com o mês anterior. O resultado veio acima do esperado pelos analistas. Mas na comparação do segundo trimestre com os três primeiros meses do ano, o indicador, considerado uma prévia do comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), mostrou estabilidade, com avanço discreto de 0,12%.

De acordo com os dados do BC, no acumulado em 12 meses, houve avanço de 2,33%. Já na comparação de junho passado com junho de 2020, o avanço foi de 9,07%. Se observado o mesmo trimestre do ano passado, o crescimento foi ainda maior, com alta de 13,17%.

Os aumentos expressivos na comparação por período podem indicar a retomada da economia, após os estragos causados pela pandemia de coronavírus no país. No entanto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, observou que o cenário ainda é de recuperação, mas não exatamente de crescimento.

Segundo explicação de Campos Neto, os 9% de avanço no IBC-Br em junho, na comparação com o mesmo período do ano passado, são equivalentes ao que o Brasil gastou com medidas para atenuar os efeitos da pandemia.

“O Brasil gastou em torno de 9% do PIB. Essa estratégia foi boa para atenuar a recessão, ajudar a recuperação mais rápida, mas não garante que o crescimento estrutural vai ser mais alto. Pelo contrário, a tendência é DE que seja prejudicado”, disse o presidente do BC durante o 4º encontro Folha Business.

O IBC-Br é um indicador importante, mas os resultados oficiais do PIB são divulgados trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A diferença entre as pesquisas é que o indicador do BC traz estimativas para agropecuária, indústria, setor de serviços e impostos, mas não considera a demanda, incluída na pesquisa do IBGE. Os dados do PIB referentes ao segundo trimestre de 2021 serão divulgados pelo IBGE somente em 1º de setembro.

Ambos os indicadores mostram que o Brasil tem se recuperado do “tombo” da pandemia desde maio do ano passado, com o retorno da indústria e das atividades de bens e serviços. No mês passado, o governo federal elevou a expectativa de crescimento do PIB em 2021 para 5,3%. O BC segue com uma previsão mais discreta de crescimento, de 4,6%.

“O mercado projeta um crescimento mais forte esTe ano do que o previsto pelo BC. A gente começa a ver, de fato, parte de serviços que estava com uma performance pior, se recuperando, lembrando que serviços são dois terços da economia, então, isso é bastante importante”, reforçou Campos Neto.

Para 2022, porém, a maioria das previsões a respeito do PIB é de crescimento bem menos acentuado — e as estimativas têm diminuído. Ontem, por exemplo, a consultoria MB Associados reduziu de 1,8% para 1,4% a projeção de alta no próximo ano, seguindo movimento de outras instituições, como o Itaú Unibanco que, na quinta-feira, reduziu a expectativa para 1,5%.

Desastre
O doutor em economia e pesquisador associado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), Cláudio Considera, afirma que é natural que os números do PIB sejam positivos neste ano, considerando que 2020 foi marcado pela fase mais crítica para a economia durante a crise sanitária de covid-19. “O ano passado foi um desastre total. Um exemplo é o transporte aéreo, que vem subindo consideravelmente, porque foi um setor que praticamente desapareceu em 2020”, explicou.

Ainda assim, para Considera, as estimativas do mercado financeiro estão altas demais. “É possível que tenha um crescimento de 4% este ano, vamos estar recuperando os 4% que caiu no ano passado, mas não acredito nesses 5% e 6,5% como alguns analistas estão falando. Houve um certo exagero”, disse o pesquisador.

Para Roberto de Góes Ellery Júnior, economista e professor da Universidade de Brasília (UNB), é difícil avaliar se a alta de junho é uma tendência ou foi apenas um aumento pontual, o que é comum na economia, especialmente no setor de serviços. “Depende da dinâmica da pandemia que, infelizmente, ainda não acabou. O efeito da pandemia não se resume a leis de distanciamento social, mas se deve ao comportamento das pessoas e à incerteza que tende a reduzir investimento e a compra de bens duráveis”, explicou.

(Colaborou Rosana Hessel)

 

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Guedes: "Rico tem que pagar imposto"

 (crédito: Isac Nóbrega/PR - 3/5/21)
crédito: Isac Nóbrega/PR - 3/5/21

O ministro da Economia, Paulo Guedes, resolveu partir para o ataque em defesa do projeto de lei que reforma o Imposto de Renda e está provocando uma série de críticas de estados, municípios e entidades empresariais. Segundo o ministro, a proposta é importante, porque vai tributar em 20% os dividendos, pegando uma fatia mais abastada da população que hoje não é tributada.

“Você não tem que ter vergonha de ser rico no Brasil, mas rico tem que ter vergonha de não pagar imposto. É um absurdo isso”, afirmou Guedes, em entrevista à rádio Jovem Pan, defendendo uma padronização de práticas internacionais. Segundo ele, um empresário que recolhe 27,5% de Imposto de Renda do empregado não pode querer pagar zero de imposto sobre o rendimento do capital. “O estado brasileiro foi capturado. Virou uma fábrica de desigualdades e de privilégios”, afirmou.

Ele criticou as aposentadorias do setor público, “que garante aposentadoria 10 vezes maior do que a maioria dos brasileiros” e a política de campeões nacionais, “que privilegiou o crédito barato do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para grandes empresas”. “Há muito barulho”, acrescentou, defendendo a proposta de reforma tributária do governo “em capítulos”.

De acordo com Guedes, há 25 anos, os rendimentos sobre o capital não pagam impostos no Brasil. “Justamente os super-ricos, que vivem de dividendos e a classe média alta estão sendo convidados a contribuir”, disse ele, citando que apenas Brasil, Letônia e Estônia não tributam dividendos. Segundo ele, o Chile, que está na vanguarda justamente com esse tipo de política, cobra 40% sobre os dividendos, mas cobra 10% no lucro das empresas e o Brasil vai aplicar uma das “menores alíquotas” praticadas no mundo ocidental. De acordo com o ministro, quem não paga vai pagar, mas quem tá pagando não vai pagar mais, “desde que todos paguem”.

De acordo com Guedes, o governo quer reduzir "drasticamente" a tributação sobre as empresas e tributar mais a renda da pessoa física, pois, no ano passado, foram pagos R$ 400 bilhões em dividendos e quem recebeu não pagou um centavo de imposto. “É importante o Brasil dar um sinal de que vai passar a tributar menos as empresas, desonerando empresas e os assalariados”, declarou. Segundo ele, 20 mil pessoas que receberam esses R$ 400 bilhões de dividendos é que estão fazendo barulho.

 

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação