CONJUNTURA

Ipea prevê inflação ainda mais alta em 2021 e acima do teto

Instituto atualiza de 5,9% para 7,1% a expectativa de elevação do IPCA neste ano. Aumento da carestia tem sido provocado pelos fortes reajustes dos preços da energia elétrica e da gasolina. Cenário para 2022 é de desaceleração

Gabriela Chabalgoity*
postado em 25/08/2021 06:00
 (crédito: Ronaldo de Oliveira/CB)
(crédito: Ronaldo de Oliveira/CB)

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aumentou para 7,1% a previsão de alta da inflação neste ano — acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5,25%. Em junho, o Ipea previa que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminaria o ano em 5,9%. Uma das razões da revisão é a expectativa de reajustes mais acentuados para a gasolina e a energia elétrica, que provocaram uma elevação da projeção de preços monitorados de 9,5% para 11,0%.

A nova previsão coloca o Ipea em linha com as projeções do mercado financeiro, que aposta numa alta de 7,11% do IPCA em 2021, de acordo com o último relatório Focus, do Banco Central. De acordo com o IBGE, o indicador oficial da inflação acumula elevação de 8,99%. Mas a pesquisadora Maria Andreia Lameiras, do Grupo de Conjuntura do Ipea, prevê um cenário de desaceleração inflacionária, sobretudo em 2022.

“Essa desaceleração vai vir por conta de uma pressão menor dos preços administrados. Estamos imaginando que tanto combustível quanto energia elétrica não vão pressionar tanto a inflação ano que vem, seja por uma manutenção do preço internacional do petróleo, seja por conta do fato de que essa crise hídrica já terá sido, pelo menos, em boa parte, decepada com a volta dos reservatórios e com a queda no uso de energia de termelétricas”, explicou.

Por outro lado, a especialista diz que o ciclo de aperto de juros, iniciado pelo Banco Central justamente para segurar a inflação, vai continuar em 2022. De acordo com ela, no próximo ano, se tudo correr como o esperado, a inflação será mais puxada pelos preços livres, especialmente serviços, até mesmo com a retomada da normalidade econômica, com a pandemia sendo controlada pela vacinação em massa. No entanto, o cenário não é isento de riscos.

“Embora, com baixa probabilidade, a gente tem riscos para inflação do ano que vem, e esses riscos estão associados a um novo ciclo de alta de commodities. Estamos supondo que as commodities vão ficar estáveis ou crescendo numa velocidade bem menor do que em 2021, mas existe, sim, o risco de que esse movimento de alta mais forte continue. O segundo risco que envolve a inflação do ano que vem é o câmbio. Uma eventual depreciação cambial também vai afetar os preços, principalmente dos combustíveis e alimentos”, acrescentou Maria Andréia. As taxas projetadas para o IPCA e o INPC, em 2022, são de 4,1% e 3,9%, respectivamente.

De forma semelhante ao que acontece com os alimentos, a pressão advinda de matérias primas no mercado internacional, combinada com o aumento da utilização da capacidade instalada na indústria e os estoques abaixo do nível desejado, deve manter os preços dos bens industriais em alta. A projeção de inflação desse segmento passou de 4,8% para 6,6%. Já a retomada do setor de serviços gerou uma elevação da inflação desse segmento em ritmo maior que o esperado inicialmente, com isso a previsão subiu de 4,0% para 5,0%.

Pacheco quer reforma ampla

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que o Senado é favorável a uma reforma tributária ampla e “verdadeira”, que simplifique, ajuste e desburocratize o sistema e que permita a retomada de investimentos. Foi uma resposta a uma provocação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que sugeriu, mais cedo, que a responsabilidade pela agenda econômica ter parado no Legislativo era do Senado, e não dos deputados.

Pacheco voltou a defender a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 110, relatada pelo senador Roberto Rocha (PSDB-PA), que unifica tributos federais, estaduais e municipais em torno do Imposto sobre Operações com Bens e Serviços (IBS).

*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

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Lira defende teto de gastos e acalma mercado

Depois do estresse da semana passada, o mercado financeiro teve ontem um dia de recuperação. Principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa fechou com uma expressiva alta, de 2,33%, aos 120.211 pontos, o melhor resultado em duas semanas. No mercado de câmbio, a volta do bom humor se refletiu na cotação do dólar, que despencou 2,23%, cotado a R$ 5,262 para venda, no final da sessão.

Segundo analistas, sem novas notícias sobre a queda de braço entre Executivo e Judiciário, os investidores deram mais atenção aos comentários tranquilizadores de autoridades sobre o cenário fiscal. O maior impacto positivo foi provocado pela defesa do teto de gastos feita pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Eu não vejo necessidade nem possibilidade de estourar o teto”, afirmou Lira, em evento com analistas, ao comentar as dificuldades da polêmica PEC dos Precatórios, que adia o pagamento de dívidas judiciais da União.

Vinda de um expoente do centrão, grupo político associado à expansão de gastos púbicos, a declaração colocou o mercado em clima de alta. Por sua vez, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que vinha fazendo alertas sucessivos sobre o risco de desarranjo das contas públicas, afirmou que os dados fiscais estão melhores do que se projetava para o momento.

“Existe um pano de fundo fiscal que é inegavelmente melhor, com uma relação dívida/PIB e um deficit primário menores do que se esperava — e grande parte disso não causado pela inflação. Por outro lado, também reconheço que houve um ruído de curto prazo”, afirmou ele, em participação no mesmo evento.

O ambiente externo, igualmente, ajudou, pelo desempenho positivo das commodities, principalmente do minério de ferro.

Para o economista Cesar Bergo, sócio investidor da Corretora OpenInvest, “o relativo apaziguamento político, mesmo do ponto de vista cênico, é importante”. Mas ainda há muita preocupação, afirma, sobre a reforma tributária. “A leitura do mercado, depois dos vários discursos otimistas do ministro Paulo Guedes, é de que haverá um novo desenho do Ministério da Economia para a reforma tributária e de que, de alguma forma, ela não continuará esquecida”, disse.

Bergo acredita que o ambiente mais propício aos investimentos deve se manter. Ele não aposta, por exemplo, em nova alta do dólar. “Para o final do ano, a expectativa é de a divisa americana se manter a R$ 5,20. Qualquer coisa acima disso é fruto de estresse político. Não há razão para dólar mais caro, com as exportações aumentando e favorecendo a entrada no país da moeda estrangeira. Enfim, os fatos indicam que esta semana vai ser mais calma que a anterior”, destacou.

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