ENTREVISTA CB.PODER

"Nesta gestão, não tem dinheiro para empresa grande", diz presidente da Caixa

Com políticas de redução de custos e redirecionamento do crédito, a Caixa Econômica Federal vem comemorando os maiores lucros da sua história. Ao mesmo tempo em que reforça o balanço, a instituição incrementa o apoio a segmentos normalmente desassistidos

Carlos Alexandre
Gabriela Chabalgoity*
postado em 26/08/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, afirmou que o novo foco do banco é ajudar, em todo o país, empresas menores, que geram mais emprego e têm uma taxa de inadimplência menor. Em entrevista ao programa CB.Poder, parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, ele explicou que o motivo da decisão é atender quem, normalmente, não tem apoio do sistema financeiro.

“O grande empresário recebe créditos dos bancos privados, dos bancos internacionais”, comparou. “Já o pequeno, ninguém quer.” Acompanhe a entrevista na íntegra.


A Caixa teve um lucro de R$ 10,8 bilhões no primeiro semestre, com números que mostram a robustez que o banco está adquirindo nos últimos tempos. Como se chegou a isso?
Esse lucro é muito importante e vem de uma série de fatores. Primeiro, houve uma redução muito grande de despesas. Por exemplo, nós tínhamos 21 prédios em Brasília, reduzimos para seis, sendo que, desses, dois são de tecnologia. Nós realizamos uma série de pontos de corte de despesas. Na parte de prédios, geramos mais de R$ 10 bilhões de redução ao longo do tempo para a Caixa. Acabamos com o patrocínio de clube de futebol, que era superior a R$ 200 milhões por ano. E todas esses gastos viraram aumento de receita do ponto de vista de créditos que nós realizamos.

De um lado, houve uma redução de despesa e, de outro, focamos o crédito nos segmentos em que a Caixa tem vantagem comparativa. Ao invés de ter as perdas bilionárias que a Caixa teve durante muitos anos, o foco agora é em empresas menores por todo o Brasil, que têm uma taxa de inadimplência muito menor. Duas empresas recebiam ao redor de R$ 30 bilhões, e uma delas não pagou. Hoje, esse dinheiro está realocado para cerca de 500 mil micro e pequenas empresas em todo o Brasil, que geram mais emprego por todos os municípios e têm uma taxa de inadimplência menor.

O que aconteceu com os outros prédios e funcionários? Qual foi o impacto disso na vida das pessoas?
Logo no começo da nossa administração, houve uma mudança para uma gestão totalmente meritocrática, as pessoas foram escolhidas pelo mérito. Dos 120 principais executivos, nós trocamos 105, ou seja, mudou claramente o incentivo das pessoas, e as melhores operações para a Caixa passarem a ser valorizadas. Quando nós vendemos ou saímos do aluguel de mais de uma centena de prédios, nós mostramos, também, que poderíamos emprestar mais, realizar mais operações sociais, como o auxílio emergencial, com menos preocupação. Você faz mais pelo Brasil, com menos gastos.

Pela primeira vez em 10 anos, os balanços da Caixa, do FGTS e do FI FGTS, os três balanços foram publicados sem ressalvas. Desde 2010, não tinha um balanço sem corrupção de bilhões de reais. Nós colocamos uma perda econômica de R$ 46 bilhões, ligados a algum tipo de problema, de investimento ou crédito, e só empresas investigadas pelo Ministério Público ou pela Polícia Federal. Isso (R$ 46 bilhões) corresponde a 500 mil moradias populares.

Esse dinheiro foi recuperado?
Não, foi perdido. Por exemplo, um ex-superintendente fez uma delação premiada. Ele ganhava cerca de R$ 30 mil por mês e só ele, em 2018, devolveu R$ 40 milhões. Outros foram presos. Essa corrupção ocorria de forma que créditos para grandes empresas eram facilitados, é por isso que nesta gestão não tem dinheiro para empresa grande. Focar em microempresas, porque não quero riscos. Não estou dizendo que as empresas fazem isso, estou dizendo que é melhor focar em quem não tem, porque o grande empresário recebe créditos dos bancos privados, dos bancos internacionais.

Já o pequeno, ninguém quer. O único banco que está abrindo agências é a Caixa. A gente está onde ninguém quer estar, essa é a importância da presença física. Nós temos o maior banco digital de todos, mas estamos falando de milhões de pessoas que não sabem ler, escrever e não tem dinheiro para comprar celular. A Caixa é o banco da matemática e é o banco de todos os brasileiros. É o banco do auxílio emergencial. Pagamos 38 milhões de pessoas.

Essa estratégia de buscar atender os “pequenos” também se aplica às pessoas físicas?
Na medida que o correntista simples entra na Caixa, ele tem acesso a uma série de serviços, inclusive créditos. Hoje temos três grandes grupos dentro da Caixa. Os clientes que são do Bolsa Família, que vai ter um outro nome, são aqueles que não têm renda ou têm renda muito baixa. Eles precisam receber uma transferência de renda, não é possível dar crédito para essas pessoas, porque elas não têm renda. Existem os clientes que têm um emprego formal, por exemplo, e no meio do caminho, os “invisíveis”, de acordo com Paulo Guedes. Esses têm renda, mas são informais. Vamos lançar um programa de microfinanças para essas pessoas.

Como está a questão do crédito imobiliário?
Apesar de a Caixa ser o banco da habitação, quando a gente assumiu, não era. Você pode dividir em dois grandes grupos. Crédito imobiliário para habitação popular, que não é recurso da Caixa, é do FGTS, e aquele com dinheiro próprio da Caixa, que é o SBPE. Nesse segundo grupo, a Caixa estava em quarto lugar. Nós chegamos e, em dois meses, recuperamos a liderança. Hoje, temos ao redor de 40% do mercado. Hoje, nós somos maiores ainda na habitação de baixa renda. Neste ano, temos mais de 99% do mercado. Crescemos relativamente na baixa renda e crescemos muitos em uma renda média, porque a Caixa não foca em uma renda alta.

O que aconteceu no FGTS? Por que havia irregularidades?
Você tem o grande fundo, que, hoje, está em R$ 580 bilhões. E tem o segundo fundo, o de investimento, que foi o pior de todos. Basicamente a grande maioria do dinheiro foi investida em empresas investigadas, que deram prejuízo. Esse fundo de investimento foi muito mal. Existiam algumas exceções, que nós vendemos com lucro, e essa gestão fez isso. Não se investia muito, quando investia, investia mal e quando tinha resultado, não se vendia.

Qual a diferença entre os desvios que ocorreram na Caixa e os que ocorreram na Petrobras?
O caso da Petrobras foi resolvido em seis meses, o da Caixa demorou 10 anos. Quando se fala do balanço da Petrobras, ele ficou sem ser auditado por dois trimestres; o da Caixa foi 10 trimestres. E o do FI FGTS, quase 10 anos. Com gente sendo presa, delação premiada, devolução de dinheiro. Quando eu assumi, estava muito claro que tinham várias empresas investigadas pelo Ministério Público e a Polícia Federal que entraram em recuperação judicial. Nós provisionamos e, alguns meses depois, essas empresas entraram em recuperação e houve uma perda para a Caixa.

O que a Caixa pretende fazer com o agronegócio?
Nós seremos muito relevantes, temos o objetivo de passar o Banco do Brasil em poucos anos. Abrimos 100 agências, saímos de R$ 2 bilhões e vamos chegar a R$ 35 bilhões até o meio do ano que vem. Pela primeira vez, estamos no Plano Safra — e o Caixa Mais Brasil, será numa região de agro, em Goiás.

Assista a entrevista:

 

* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

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