NEGÓCIOS

CSN avança no setor de cimento; negócio depende de aval do Cade

Com a nova aquisição bilionária, a CSN Cimentos dobrará sua capacidade produtiva

Fernanda Strickland
postado em 11/09/2021 06:00
A operação vai mudar o perfil do setor -  (crédito:  Jonas Cunha/AE)
A operação vai mudar o perfil do setor - (crédito: Jonas Cunha/AE)

A CSN Cimentos anunciou ontem a compra da operação brasileira da suíça Lafarge Holcim, por US$ 1,025 bilhão, o equivalente a R$ 5,3 bilhões. O meganegócio inclui cinco plantas integradas de produção de cimento, quatro estações de trituração, seis unidades de agregação e 19 unidades de mistura de concreto. No Brasil, a Holcim é a terceira maior produtora de cimento, atrás da Votorantim e da Intercement, ocupando uma fatia de 10% do mercado, segundo analistas. Esse percentual, quando a transação for concluída, passará a ser ocupado pela CSN.

O negócio depende ainda de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O economista autônomo Hugo Passos comentou que a CSN Cimentos vem se posicionando fortemente no mercado em um cenário desafiador. “Neste ano foram dois anúncios de aquisições. Há dois meses, o grupo adquiriu a Elizabeth Cimentos e Mineração por R$ 1 bilhão”, lembrou. De acordo com o economista, com a nova aquisição bilionária, a CSN Cimentos dobrará sua capacidade produtiva.

A operação vai mudar o perfil do setor e abrir uma disputa acirrada pela segunda posição no mercado nacional. Segundo analistas, a InterCement permanece na vice-liderança, atrás da Votorantim Cimentos, mas pode a qualquer momento perder a colocação — já que fica apenas um pouco à frente da CSN, empresa controlada pelo empresário Benjamin Steinbruch.

A Votorantim Cimentos, uma das maiores produtoras do mundo, está na primeira posição no Brasil, com capacidade instalada de produção de 52,2 milhões de toneladas por ano. A InterCement vem em seguida com 17,2 milhões de toneladas. Com o fechamento da operação de ontem, a CSN Cimentos passará a ter uma capacidade total de 16,3 milhões de toneladas.

Preocupação

Benito Salomão, mestre em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia, manifestou preocupação com a concentração do setor, já que o cimento é um insumo utilizado em muitos outros segmentos da economia. “O problema é que você vai monopolizando o mercado, e, cada vez mais, empresas de construção civil não terão alternativa a não ser comprar desse grande produtor”, disse. Segundo ele, o Cadê deveria examinar o negócio entre a CSN e o grupo Lafarge com bastante rigor.

O economista Hugo Passos observou que o setor de cimentos no Brasil passou por uma forte crise entre 2015 e 2018, com perdas de vendas e fechamento de fábricas. No período, a produção chegou a cair 26,5%. O setor vive agora uma nova realidade, com o terceiro ano consecutivo de crescimento: avançou 3,5% em 2019, 11% em 2020 e expectativa de expansão é de 6% para este ano.

“No ano de 2020, início da crise sanitária, a indústria mostrou forte recuperação, com a queda da taxa de juros e a maior demanda no setor da construção civil. Isso fez as vendas de cimento crescerem 10,9%, ou 60,8 milhões de toneladas”, explicou Passos.

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), Paulo Camillo Vargas Penna, disse que “há um processo de consolidação de mercado, que já sabíamos que viria dos players instalados no Brasil”. Segundo ele, o setor ganha com a compra da LafargeHolcim pela CSN, empresa nacional com capacidade de investimento. “Há uma perspectiva enorme de crescimento à medida que se tem uma infraestrutura que começa a dar sinais de retomada.”

O negócio abre espaço, ainda, para um futuro lançamento de ações da CSN Cimentos na Bolsa de Valores. O grupo pretendia fazer uma oferta pública em julho, mas a operação foi adiada devido à volatilidade no mercado provocada pelo alastramento da variante delta do coronavírus.

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