Os ministros da Economia, Paulo Guedes, e o da Infraestrutura, Tarcisio de Freitas, afinaram o discurso para atrair investidores árabes, ontem, durante viagem ao Oriente Médio, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Guedes, em Dubai, voltou a afirmar que a economia brasileira vai crescer no próximo ano e citou os investimentos em infraestrutura como garantia desse desempenho positivo. A missão presidencial "tem como objetivo buscar os petrodólares dos países árabes" para o Brasil, de acordo com o ministro.
Ele reforçou que o governo contabiliza cerca de R$ 700 bilhões em investimentos nos próximos anos e ainda criticou novamente as projeções pessimistas do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022. "Não apostem contra a economia brasileira que vai dar errado", disse Guedes, durante a abertura da feira Dubai Air Show.
"Fizemos uma expansão da infraestrutura com base em endividamento. Agora, nós vamos fazer com participação nos programas de investimento nossos, nas nossas parcerias de investimentos. O Brasil surpreendeu, tem surpreendido. Caímos menos, voltamos mais rápido, criamos mais emprego e estamos crescendo mais do que as economias avançadas. Mais uma vez as previsões vão ser equivocadas", declarou o ministro.
A análise dele é de que é quase impossível o país não vá crescer no ano que vem, apesar das estimativas de grandes bancos já apontarem recessão. Ao tentar minimizar o avanço da inflação e dos juros, Guedes disse que a melhora da economia já está "contratada". "O Brasil já tem contratados R$ 544 bilhões de investimentos. E com o 5G, são mais R$ 150 bilhões. Acho muito difícil o Brasil não crescer ano que vem", afirmou.
Ao contrário do que o ministro informou, a previsão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), com o leilão do 5G, é inferior: de R$ 46,8 bilhões, incluindo as outorgas que serão pagas à União pelas operadoras.
Tarcísio Freitas, do MInfra, em Abu Dhabi, apresentou os projetos de concessões portuárias do governo aos fundos soberanos árabes após passagem pela Europa. "O setor portuário brasileiro mostrou o quanto é importante ao longo da pandemia e agora queremos que o investimento privado seja revolucionário para o incremento da logística. A parceria com a iniciativa privada é fundamental para transformar o país e é por isso que temos o maior programa de concessões do mundo, sem dúvida nenhuma", avaliou Freitas, que terá encontros com investidores até amanhã.
De acordo com informações da pasta, dois dos projetos de desestatizações portuárias disponíveis na carteira de ativos do órgão estão em estágio mais avançado: o da Codesa (Companhia Docas do Espírito Santo) e do Porto de Santos (SP). O primeiro está "em fase avançada" de análise no Tribunal de Contas da União (TCU) e, assim que for liberado, possibilitará a publicação do edital para o leilão. São estimados mais de R$ 780 milhões em investimentos. Quanto ao porto de Santos, o leilão está previsto para 2022 e o ministro prevê que os investimentos privados podem chegar a R$ 16 bilhões para a expansão.
PEC dos Precatórios
Guedes disse que uma das prioridades do governo é a agenda econômica para garantir apoio dos liberais à reeleição de Bolsonaro, mas voltou a culpar a pandemia pelo fato de o plano original ter sido "interrompido". Ele reforçou a defesa da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, a PEC 23/2021, para garantir "previsibilidade" na peça orçamentária de 2022.
A proposta é bastante criticada por especialistas em contas públicas por pedalar as dívidas judiciais e antecipar a mudança na regra do teto às vésperas de um ano eleitoral. O governo quer abrir espaço de mais de R$ 90 bilhões no Orçamento para gastar mais, incluindo no Auxílio Brasil, que substituirá o Bolsa Família. Guedes destacou que a alternativa sugerida pela autoridade para os credores dos precatórios da União é usar os recebíveis como moeda de troca nas privatizações das estatais, Correios e Eletrobras, previstas para o ano que vem.
Temer ganha destaque
O ex-presidente Michel Temer (MDB) atraiu os holofotes em evento, ontem, durante a abertura a Expo Dubai 2021, nos Emirados Árabes. Em tom apaziguador, o emedebista saiu em defesa do teto de gastos, aprovado durante a gestão dele, e reforçou necessidade de o Brasil ampliar as relações comerciais com os países árabes para atrair investidores.
"Quando assumi o governo nós tínhamos um Produto Interno Bruto (PIB), em maio de 2016, negativo em quase 4%. Um ano e três meses depois, tínhamos um PIB positivo em 1,3%, em face das reformas que fizemos no país, como teto de gastos, reforma trabalhista, reforma do Ensino Médio e recuperação das estatais, o que permitiu, naquele momento, a queda da inflação e da taxa básica de juros (Selic)", disse o ex-presidente, fazendo um balanço positivo de quando comandou o país.
De acordo com Temer, a aproximação com países árabes poderá ajudar o país a desenvolver outros setores além da agricultura, como o da tecnologia. Ele considerou fundamental para o país partir para negociações multilaterais.
"Temos a possibilidade de contato com o mundo todo, sem nenhuma exceção. Tomo aqui o exemplo dos países árabes, que compram praticamente 40 a 45% da nossa carne de frango. Seja no campo tecnológico, seja no campo da compra de materiais da agricultura, há a necessidade desse multilateralismo", afirmou Temer.
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