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'O Brasil já é o grande celeiro de comida do mundo' diz Rodrigo Bonatto

"O agro brasileiro é um agro tecnológico, que respeita os recursos naturais. E isso não precisa ficar só no discurso, mas provar para o mundo inteiro que o agro brasileiro é sustentável sob o aspecto econômico, social e, principalmente, ambiental", defendeu o diretor de Soluções Inteligentes da John Deere

O diretor de Soluções Inteligentes da John Deere, Rodrigo Bonatto, afirmou nesta quarta-feira (24/11) que o Brasil é o grande celeiro de comida do mundo. A declaração ocorreu durante o CB Fórum Live - Agro 4.0 que debateu os avanços da tecnologia no agronegócio. O encontro é fruto de parceria entre o Correio Braziliense e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

“O agro é democrático. É a principal fonte de distribuição de renda para o país. A gente também vê através do agro a inclusão social. Com a pandemia e toda tristeza que nos trouxe, ela também trouxe a digitalização e trouxe a inclusão digital para o agro. Essa foi uma grande valia que nós tivemos. Se existe um lado positivo com essa pandemia, nós aprendemos a fazer as coisas de jeito diferente e principalmente, passamos a valorizar mais o agro”, apontou.

Ele falou ainda sobre a importância do trabalho do homem do campo em meio à pandemia de covid-19. “Nós descobrimos que a comida não sai da gôndola do supermercado. A comida tem que ser produzida por alguém do campo e passamos a respeitar os produtores rurais, porque enquanto nós estávamos preservados em nossa casa, confinados na pandemia, os produtores estavam no campo trabalhando e produzindo para nós. Tudo isso porque o agro não parou. Temos que reconhecer o trabalho desses guerreiros durante toda a pandemia para que nós pudéssemos nos preservar aqui nas cidades", pontuou.

Bonatto comentou sobre a revolução da agricultura brasileira e relatou que a grande primeira revolução no setor foi o domínio da técnica de manejo de solos nos cerrados pela Embrapa. "Conseguimos migrar a nossa produção de grãos não só pelo aspecto genético das plantas, mas sim do manejo adequado e eficiente e sustentável dos solos dos cerrados. Através do estudo da Embrapa, conseguimos corrigir os teores de alumínio que eram tóxicos às plantas e passamos da década de 70 e 80 de importadores de alimentos para exportadores de alimentos".

O palestrante ressaltou também a importância da união da agricultura ao desenvolvimento sustentável. "O Brasil já é o grande celeiro de comida no mundo e a tecnologia vai fazer o novo salto da nossa agricultura. A tecnologia vai trazer também um grande ganho que não é só ser o celeiro para comida para alimentar o mundo. É ser o celeiro de comida sustentável para alimentar o mundo. O agro brasileiro é um agro tecnológico. Que respeita os recursos naturais e isso não precisa ficar só no discurso, mas provar para o mundo inteiro que o agro brasileiro é sustentável sob o aspecto econômico, social e, principalmente, ambiental".

PIB

Bonatto expôs que, nos últimos dois anos, a agricultura vem contribuindo com 30% do PIB gerado no país.
“Nesse ano de 2021, no primeiro semestre, a agricultura aumentou em 10% a participação dela no PIB Nacional. Em 2020, ela conseguiu aumentar em 24% o peso dela na formação do PIB no nosso país. Nos últimos 20 anos a agricultura sempre oscilou entre 20% e 30% de participação no PIB brasileiro. Um dado muito importante é que nesses anos de 2020 e 2021, ela está no pico máximo e a agricultura vem contribuindo com 30% sob todo o PIB gerado no nosso país”.

Segundo o diretor, a balança comercial de produtos de exportação que o agro contribui para o Brasil é de U$ 100 bilhões. “Mas o nosso país tem uma balança comercial positiva de U$70 bilhões. Então fica claro que os produtos gerados na agricultura no nosso país e exportados ainda contribuem para puxar U$30 bilhões que estão sendo perdidos em outros segmentos do nosso país. Ou seja, o agro brasileiro é a principal fonte de captação de recursos externos no Brasil”.

Produção de grãos

Sobre a produção de grãos no país, Bonatto acrescentou que o desafio é saltar de 300 milhões de toneladas para 500 milhões de toneladas de grãos. Para ele, isso será possível com a ampliação do uso da tecnologia no agronegócio.

“Temos chance na safra de 21/22 de chegar a 300 mi de toneladas de grãos sendo produzido no nosso país. Entre a década de 70 saímos de 37 milhões de toneladas para 300 milhões de toneladas. Crescemos dez vezes a produção de alimentos no nosso país nesses últimos anos. O desafio é saltar dos 300 milhões de toneladas para 500 milhões de toneladas de grãos. E como vamos fazer isso? Aplicando o uso da tecnologia no agro brasileiro”.

Ele frisou que só produzir não é suficiente e que é necessário atrelar a sustentabilidade. “A sustentabilidade é ponto importantíssimo dentro dessa cadeia. Precisamos cada vez mais pensar nesses três pilares: sustentabilidade econômica, sustentabilidade social e sustentabilidade ambiental. Está claro para o mundo que não adianta só produzir alimentos. Tem que produzir alimentos de qualidade e respeitando a sustentabilidade necessária. E os grandes bancos não vão mais investir na agricultura se ela não tiver a rastreabilidade e a garantia de que ela está sendo feita de forma sustentável”, completou.

Agricultura 5.0

Bonatto salientou a importância do edital do 5G para o desenvolvimento da agricultura 5.0 no país.
“Estamos no agro 4.0 com a adoção forte de GPS e gestão de dados na agricultura brasileira. Vamos dar um passo à frente. A Embrapa divulgou a definição do que significa a agricultura 5.0 e ela só pode ser feita com conectividade. Por isso a importância do edital do 5G que foi feito há duas semanas. Também estava no edital a democratização do 4G para as rodovias e áreas agrícolas do nosso país. Com essa conectividade, nós vamos conseguir trabalhar o agro 5.0 que é entender os dados e poder corrigir as falhas no mesmo momento. Esse vai ser o grande segredo do ganho de produtividade das nossas lavouras”, explicou.

A respeito das características do produtor brasileiro, ele destacou que o produtor é jovem, com média de idade de 46 anos e aberto à tecnologia. “Nos cerrados é ainda menor: ao redor de 38 contra uma idade média de 58 anos nos EUA. Na Europa é de 65 anos. Isso significa que nosso produtor brasileiro é mais aberto ao uso da tecnologia. 85% dos nossos produtores utilizam Whatsapp no dia a dia para comunicação e negócios e 36% já compraram online e fazem venda de seus produtos online”.

No entanto, entre as barreiras para o aumento da integração digital está o custo e a falta de ferramentas com interfaces mais acessíveis aos produtores rurais. “Temos que democratizar os custos, mas também democratizar os custos da conectividade no nosso país. As ferramentas disponíveis para o agro ainda são de difícil entendimento para o produtor. Precisamos de cada vez mais plataformas amigáveis para uso de produtores rurais”.

Descomoditização

A rastreabilidade da agricultura 5.0 pode também trazer um fator importante que é a chamada “descomoditização das commodities”, afirmou Bonatto.

“As commodities, quando você entrega documento de rastreabilidade total, consegue prêmios pela rastreabilidade agregando mais valor à produção, aumentando ainda mais a questão do PIB. Além disso, prova para o mundo que o agro é feito de forma sustentável tendo a documentação de toda a cadeia produtiva”, emendou.

“A agricultura brasileira ainda pode se tornar o grande pulmão. Feita sob critérios rigorosos de produção e de manejo sustentável ela pode fixar e sequestar mais carbono do que a própria área de preservação que nós já temos. O agro pode não só produzir comida, mas produzir comida sustentável e fixar ainda mais carbono no mundo”, concluiu.

Bonatto participou do painel sobre oportunidades do Agro 4.0 para aumento da produtividade e da competitividade no Brasil. O evento reuniu ainda autoridades, especialistas e representantes do agronegócio que dialogaram sobre os principais desafios e impactos dos avanços da tecnologia no campo e as oportunidades para o país nos próximos anos.

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