CB.Agro

Crise de fertilizantes precisa ser enfrentada por toda a cadeia do agro, diz especialista

Atualmente, o Brasil importa aproximadamente 80% do volume utilizado nos campos do país

Maria Eduarda Angeli*
postado em 10/12/2021 18:12
 (crédito: YouTube/Reprodução)
(crédito: YouTube/Reprodução)

A importação de fertilizantes foi recorde no Brasil em 2021: de janeiro a novembro, foram quase 37 milhões de toneladas. Os fornecedores do país, no entanto, enfrentam uma redução da produção, ameaçando a satisfação da demanda brasileira. O vice-presidente da AgroGalaxy (plataforma de varejo de insumos para o setor agrícola), Marco Teixeira, falou nesta sexta-feira (10/12) sobre o assunto no CB.Agro, uma parceria do Correio com a TV Brasília.

Para Teixeira, é necessário que a questão dos fertilizantes seja tratada por todas as partes envolvidas no processo de produção: “É um problema complexo, requer que todos os componentes da cadeia — governo, fornecedores, distribuidores, cooperativas e o próprio produtor — participem”. Dos fertilizantes utilizados nacionalmente, a maior parte vem da China, Ucrânia, Índia e Irã.

Acontece que os fornecedores do produto, em sua maioria, têm tido dificuldades em manter o ritmo. A China tenta passar por uma transição de sua matriz energética — de carvão mineral para uma fonte renovável —, e, para conseguir atingir as metas ambientais, está elevando o preço da eletricidade, fazendo com que empresas reduzam seu nível de produção para evitar maiores gastos.

A Índia declarou que seus estoques de carvão estão baixos, o que pode resultar em uma crise energética passível de durar seis meses. Já a Ucrânia sofre com a ameaça de uma invasão russa e o Irã vive tensão após a aplicação de sanções dos Estados Unidos em meio à tentativa de restabelecimento do acordo nuclear de 2015.

Todos esses cenários podem acabar afetando a exportação desses países e, portanto, a aquisição de fertilizantes pelo Brasil, o que pode resultar em uma diminuição das safras. Se esse for o caso, os preços no mercado devem seguir a tendência de alta, inclusive na carne, já que plantas como a soja e o milho são transformadas em ração. “Os investimentos previstos em aumento de produção local no Brasil são escassos, então, para os próximos anos, o aumento da oferta de fertilizantes no Brasil está limitado à capacidade que nós temos instalada hoje no país”, avaliou Teixeira.

O convidado explicou ainda que, apesar da iminência da crise, não devem haver problemas a curto prazo, ou seja, para as próximas duas safras. Ele afirmou também que a AgroGalaxy tem conseguido atender às demandas de seus clientes por meio de conversas estratégicas com seus fornecedores. Pontuou também que o governo federal tem se movimentado para tentar minimizar os efeitos da queda das importações.

Perspectiva positiva

O resultado do PIB brasileiro, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que a agropecuária brasileira teve tombo de 8%. Além disso, o preço e a falta de disponibilidade dos insumos têm sido percalços para os produtores do país.

Embora a situação seja delicada, o IBGE e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) preveem safras recorde para 2022/2023. Marco Teixeira concorda: "Tivemos um bom padrão de chuva, então esperamos uma boa produção”.

O convidado destacou que a AgroGalaxy tem “uma visão muito positiva para o futuro. O agro vai continuar crescendo, ao redor de 8%, 9%, 10%”.

“Agora é que está começando a rodar a comercialização da safra 22/23, então, é a partir de agora que vamos começar a ver como isso vai se equacionar. Hoje tem um aumento de custos, sem dúvida”, reconheceu o especialista. “O produtor está um pouco reticente pela questão da diminuição de rentabilidade, mas acreditamos que isso vai caminhar. Ainda está cedo para dizer”, completou.

Segundo Teixeira, o agronegócio é um setor “muito pragmático”, e o produtor brasileiro é um exemplo de sucesso muito respeitado mundo afora. “A capacidade e a resiliência do produtor e da cadeia do agro do Brasil é muito grande. Então uma coisa é certa: o produtor vai plantar”, disse.

Outro ponto abordado foi a sustentabilidade da produção. Para o vice-presidente da AgroGalaxy, não há nada mais sustentável na agricultura do que produzir mais usando a mesma área. “Nós acreditamos que o agro tem que ser sustentável, e é possível fazer. Temos uma agenda concreta sobre isso, um dos nossos principais acionistas tem isso como DNA. O nosso time acredita muito nisso”, declarou o entrevistado.

Digitalização do agro

De acordo com Marco Teixeira, a realidade do agro está mudando rapidamente. Ele explicou que a pandemia do novo coronavírus acabou adiantando o processo de digitalização nos campos e fazendo com que cada vez mais produtores adotassem as tecnologias 4.0.

“Você tem um produtor cada vez mais tecnificado. E, com a covid-19, isso acelerou. Imagine o seguinte: o produtor está na fazenda dele, ele precisa ir na cidade, para a loja do AgroGalaxy. Se ele tem um aplicativo ou o WhatsApp e consegue fazer isso, é óbvio que isso é comodidade”, justificou o convidado.

O especialista acredita que a chegada do 5G vai fazer a transformação das propriedades ser ainda mais rápida: “Vamos tornar ainda mais forte e acelerada a digitalização do campo, mas o digital já é uma realidade”.

Para ele, no entanto, a tecnologia é complementar. “Essa relação de confiança não é substituída pelo digital”, frisou.

Confira também a versão em podcast:

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

 

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