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Em ano de eleições e incertezas, investidor precisa de cautela com aplicações

A inflação fechou o ano em 10,42%, calculada com base no IPCA. Esse índice está acima das metas previstas, tem efeitos na política monetária e, por consequência, nas aplicações financeiras

João Vitor Tavarez*
postado em 27/12/2021 06:00
Bolsa de Valores de São Paulo (B3): investimentos precisaram de mais cuidados em 2022 -  (crédito: Paulo Silva Pinto/CB/D.A Press)
Bolsa de Valores de São Paulo (B3): investimentos precisaram de mais cuidados em 2022 - (crédito: Paulo Silva Pinto/CB/D.A Press)

Poupar. Ato difícil de executar na prática, sobretudo em 2021, após sucessivos solavancos na economia brasileira diante da pandemia. Com a inflação em dois dígitos no Brasil, muitas aplicações financeiras apresentaram, em algum momento, desempenho negativo. Para especialistas, a inflação é a origem do problema, pois eleva os custos de produção e diminui a rentabilidade de investimentos, além, é claro, de corroer o poder de compra dos brasileiros.

A inflação fechou o ano em 10,42%, calculada com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esse índice está acima das metas previstas. O Relatório de Inflação — publicação trimestral do Banco Central divulgada em 16/12 —, indicava que o índice deveria encerrar o ano em 10,2% - a previsão inicial era 8,5%. É a primeira vez, desde 2015, que a inflação ficará acima de 10%. Naquele ano, somou 10,67%.

Essa inflação crescente tem efeitos na política monetária e, por consequência, nas aplicações financeiras. A meta inflacionária é estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para que seja cumprida, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros (Selic) da economia.

Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 1,5 ponto percentual: de 7,75% para 9,25% ao ano — o maior patamar em quatro anos. Com esse aumento, o cálculo de rentabilidade da poupança, uma das modalidades de investimentos preferidas dos brasileiros, voltou para a regra antiga. Em vez de render 70% da taxa básica de juros atual, o retorno será de 0,5% ao mês, mais uma taxa referencial. Ao ano, isso equivale a 6,17%. É o mesmo rendimento da "poupança velha", de 2012.

Com base em dados retirados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e do Banco Central, verifica-se que nenhum dos principais investimentos tradicionais - como poupança, títulos públicos, Ibovespa, fundos imobiliários e previdenciários - conseguiu bater o descontrole inflacionário. Isso porque essas aplicações também são atreladas à Selic e ao IPCA (prévia da inflação). Considerando que a inflação está acima dos 10%, o desempenho mais próximo foi da poupança antiga, que somou 6,17% neste ano.

Segundo o economista Roberto Ellery, a tendência para 2022 é o BC continuar a elevar os juros até que a inflação esteja controlada. "Em cenário desse tipo, é de se esperar que, em média, ocorra uma redução nos preços dos ativos (imóveis, ações, ouro e mesmo criptomoedas). Naturalmente isso não quer dizer que todos os ativos terão redução de preços, mas que é preciso tomar mais cuidado com esse tipo de investimento. O que, via de regra, significa buscar orientação profissional", afirma.

Por outro lado, ainda na avaliação de Ellery, os títulos do governo vão render mais. "Dessa forma, os investimentos conservadores (renda fixa), que perderam atratividade com a redução de juros, voltam a ser uma boa opção", conclui.

Selic e inflação

Newton Marques, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB), diz que as projeções indicam que a inflação estará abaixo de dois dígitos em 2022, mas ainda assim é considerada elevada. "Mesmo com a alta da Selic, a inflação resiste por alguns componentes que perduram nos últimos anos. É o caso dos alimentos, sobretudo as commodities — itens vendidos no mercado internacional e comprados pela China", explica.

O especialista chama a atenção, ainda, para outros fatores. "Também há a desvalorização cambial, que volta e meia pressiona os preços dos produtos importados e exportados; tem a questão dos derivados de petróleo, que vem sofrendo reajuste muito forte, mesmo com a expectativa de que haja uma normalização da oferta no mercado internacional e, com isso, não ocorra pressão", elenca.

O professor da UnB prevê que as aplicações financeiras, em 2022, terão algumas possibilidades para evitar perdas nos investimentos. "Caso os investidores pensem em fazer aplicações em renda fixa em 2022, talvez não tenham tantos dissabores como em 2021", conclui.

*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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