COMBUSTÍVEIS

Petrobras omite que paridade de importação é o que mais pesa no preço

Segundo o Observatório Social da Petrobrás (OSP), ao contrário do que sugere nota da estatal divulgada nesta sexta-feira (18/3), não foi a guerra entre Rússia e Ucrânia o que gerou preços impagáveis no Brasil

Fernanda Strickland
postado em 18/03/2022 17:07 / atualizado em 18/03/2022 17:07
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.PRESS)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.PRESS)

Em nota divulgada à imprensa nesta sexta-feira (18/03) para justificar o reajuste da gasolina, diesel e gás de cozinha (GLP), a direção da Petrobras não deixa claro que o principal responsável pela disparada dos preços é o Preço de Paridade de Importação (PPI), a política definida pelo governo federal para a estatal calcular o valor dos combustíveis no país.

Ao contrário do que sugere a companhia, não foi a guerra entre Rússia e Ucrânia o que gerou preços impagáveis no Brasil. Esse episódio apenas piorou a situação, já que, desde o segundo semestre do ano passado, o brasileiro já vem pagando os maiores valores de combustíveis da história.

Levantamento do Observatório Social da Petrobrás (OSP), organização ligada à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), aponta que o custo da estatal para extrair petróleo, somado ao de refinar um barril equivalente de petróleo, caiu 3 centavos entre o 4º trimestre de 2021 e o mesmo período do ano anterior.

Isso representa uma variação negativa de custo de 0,3%. A estimativa não leva em consideração as participações governamentais, que variam junto ao preço do barril, o que fez a companhia ter que pagar mais por barril ao Estado.

Nesse mesmo período, o “Preço derivados básicos no Brasil (R$/bbl)”, calculado pela empresa, subiu 81%. Já o valor do barril de petróleo em reais aumentou 86%. Ou seja, mesmo não variando o seu custo de produção e apenas tendo que pagar mais royalties, a Petrobras teve um reajuste no preço dos derivados superior a 80%. Esses valores elevadíssimos foram os responsáveis por um lucro recorde, distribuído aos acionistas da estatal.

Segundo o economista Eric Gil Dantas, do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), a Petrobras pagou R$ 7,77 de dividendos por ação. “Isso significa que quem comprou uma ação da companhia ao preço do início de 2021 recebeu o equivalente a 28% do seu valor em um único ano. Tudo isso às custas do consumidor brasileiro”, afirma.

"Sensibilidade"

A nota da companhia destaca ainda que a “A Petrobras tem sensibilidade quanto aos impactos dos preços na sociedade...”. Para o Observatório, contudo, se realmente existisse essa “sensibilidade”, a gestão da estatal certamente já teria mudado a política de preços dos combustíveis.

“Quase a metade da inflação de 2021 foi gerada unicamente pelos combustíveis, que têm a Petrobras como seu principal agente de produção e comercialização no país. Se o governo quiser, ele pode cobrar preços mais baratos para a população, baseando o cálculo da gasolina, do diesel e do botijão de gás em custos nacionais. Isso é possível porque o Brasil é o 9º maior produtor de petróleo do mundo e detém um grande parque de refino, que dá conta de 80% da demanda nacional”, argumenta Dantas.

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