Governo defende a criação de um Swift 2.0

Posicionamento é contrário a sugestão de Anton Siluanov para a criação de um sistema de pagamento para os BRICs

Deborah Hana Cardoso

postado em 14/04/2022 14:51 / atualizado em 14/04/2022 17:36

(crédito: EBC )

O secretário de Assuntos Econômicos Internacionais, Erivaldo Alfredo Gomes, disse, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (14/4), que o país não apoiará a criação de um sistema de pagamento para os BRICs - bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O ideal, segundo o secretário é criar um um Swift 2.0 - a fim de atualizar a plataforma já existente.

“O ideal seria ter o Swift 2.0, pois hoje este não corresponde às necessidades atuais, há um delay de dias. O ideal seria uma solução privada, uma regulamentação internacional nova”, disse o secretário. 

Os sistema Swift ganhou os holofotes internacionais após as sanções aplicadas contra a Rússia após a invasão à Ucrânia. Para Gomes, a atualização pode deixar a plataforma mais ágil e menos burocrática. Sua fala antecede os Spring Meetings que ocorre em Washington, nos Estados Unidos, e que contará com presença do ministro Paulo Guedes no Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, reuniões do Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC), do Comitê de Desenvolvimento (DC) e do G20. 

Além disso, o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, em carta a Guedes, pediu ainda hoje que o Brasil apoie o país nas instituições financeiras internacionais  diante das sanções que tem sofrido por causa do conflito. "Pedimos o seu apoio para evitar acusações políticas e tentativas de discriminação em instituições financeiras internacionais e fóruns multilaterais. Supomos que agora, mais do que nunca, é crucial preservar um clima de trabalho construtivo e a capacidade de promover o diálogo no FMI, no Banco Mundial e no G20", diz a carta.

As sanções contra Moscou dos sistemas financeiros globais é de quase metade das suas reservas de ouro e moedas estrangeiras, que estavam avaliadas em US$ 606,5 bilhões no começo de abril deste ano.

O secretário destacou que o Brasil é a favor do funcionamento pleno das instituições financeiras em meio à crise internacional e que isso não significa falta de assertividade, mas abertura ao diálogo - postura histórica do país.“Uma coisa é o canal e outra é o que estamos conversando”, disse. “No mundo econômico, não iremos discutir sanções, não é nossa competência, isso é de competência da área política internacional. Gomes destacou que os problemas atuais refletem em problemas nas cadeias de produção e nos alimentos.

Ouvido pelo Correio, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola disse, que a questão russa vai além da financeira. “A questão política está acima do sistema de pagamentos, pois a Rússia desrespeitou as leis internacionais e está travando uma guerra sem justificativa”, disse.

Loyola afirmou que a plataforma funciona há muito tempo cumprindo seu papel. “Claro, tudo na vida precisa de algum progresso tecnológico, precisa se adaptar aos novos tempos, eventualmente pode ter ficado com algum. O Swift é uma entidade privada que cria um protocolo para a transferência de recursos entre instituições com determinado objetivo e que ajudou a tornar mais rápido e seguro os sistemas internacionais”, explicou.

O ex-BC disse que o ponto a ser discutido na plataforma é a governança. “Como é que funciona? Como simplesmente pode retirar um banco do sistema por causa do que está sendo feito pelo país sede?”.

Para o secretário, deveria ser "âmbito multilateral, global, e não uma solução específica de alguns países". Gomes ainda disse que um novo sistema poderia, por exemplo, ser intermediado pelo Banco de Compensações Internacionais, o BIS, o Banco Central dos bancos centrais.