carestia

Inflação abala o bolso de todas as classes sociais, diz pesquisa

Pesquisa do Ipea mostra que mais ricos sofreram com impacto dos combustíveis e faixas de menor renda com alimentação

Victor Correia
postado em 15/04/2022 06:00 / atualizado em 15/04/2022 07:26
 (crédito: Agência Brasil/Reprodução)
(crédito: Agência Brasil/Reprodução)

A inflação de março não poupou nenhuma classe social e a diferença de impacto entre ricos e pobres foi onde cada um sentiu mais no bolso na hora de consumir. A constatação é da pesquisa Indicador de Inflação por Faixa de Renda, elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgada ontem.

Segundo o levantamento, quem tem menor renda amarga o prejuízo maior — constatação histórica nas pesquisas sobre a pressão exercidas pela carestia. Variou entre 1,24% para as famílias com maior renda e 1,74% no estrato social mais baixo — que ganha menos de R$ 1.808,79 por mês. A inflação acumulada no ano, desde janeiro, ficou em 2,68% para os núcleos mais ricos, e em 3,4% para as famílias mais pobres.

"A pesquisa mostra que grande parte da inflação é explicada basicamente por alimentos e combustível. Porém, para as camadas mais baixas, o alimento pesou muito. Março foi um mês no qual a gente teve uma alta muito forte dos alimentos, piorada com chuvas em várias regiões, afetando tubérculos e verduras", observou a pesquisadora do Ipea Maria Andreia Lameiras, que participou do levantamento.

Ela atribui a piora dos indicadores, também, às altas nos preços dos cereais causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que teve um efeito cascata na economia. A pesquisadora aponta o encarecimento, sobretudo, de carnes, leite, ovos, pois os grãos vindos dos dois países são usados como ração. E como a participação de russos e ucranianos no mercado internacional dessas commodities caiu, provocou um desequilíbrio que levou à aceleração dos preços.

"É uma alta mundial que está atingindo todos os países, nesse momento muito ligada à guerra. Embora seja uma inflação alta, a gente precisa ver o seguinte: uma vez esse conflito terminando, os preços que subiram voltam a um patamar um pouco mais confortável", avalia.

A pesquisadora afirma, porém, que os preços dos alimentos não devem baixar rapidamente, mesmo se o conflito acabar — é necessário uma nova safra para normalizar o mercado. Maria Andreia avalia, também, que a inflação deve desacelerar nos próximos meses, principalmente pelo fim da bandeira de escassez hídrica na conta de luz.

Alta procura

Para as famílias de renda mais baixa, a pressão inflacionária dos alimentos do mês foi decorrente da alta gêneros muito consumidos, como arroz ( 2,7%), feijão ( 6,4%), cenoura ( 31,5%), batata ( 4,9%), leite ( 9,3%), ovos ( 7,1%) e pão francês ( 3%). Já o impacto do custo dos transportes nesse segmento foi mais afetada pelo reajuste das tarifas dos ônibus urbano (1,3%) e interestadual (3,0%) do que pelo aumento dos combustíveis.

No acumulado dos últimos 12 meses, a maior pressão inflacionária para as famílias de renda mais baixa reside no grupo Habitação, pressionado pelos reajustes de 28,5% das tarifas de energia elétrica e de 29,6% do gás de botijão.

Para os mais ricos, a inflação foi puxada, principalmente, pelos transportes, repercutindo a alta de 6,7% no preço da gasolina, de 13,7% no diesel e de 8% nos transportes por aplicativo. Mas, segundo a pesquisa, btais impactos foram atenuados pela queda de 7,3% no preço das passagens aéreas.

De forma parecida, a redução de 0,69% dos planos de saúde ajudou a reduzir o baque do grupo Saúde e Cuidados Pessoais, que estava pressionado pelos reajustes de 1,3% dos medicamentos e de 2,3% dos produtos de higiene pessoal.

Para o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto de Góes Ellery Júnior, se a inflação atinge, indistintamente, todas as faixas de renda, é porque as ações do governo federal para segurá-la são tímidas. "Em 2002, quando a inflação disparou no governo Lula, os juros foram para mais de 20%. Depois que a economia se ajustou, ela cresceu. O Banco Central poderia ser mais agressivo. A inflação tende a ser particularmente cruel com os mais pobres, que têm menor margem de orçamento e logo sacrificam o consumo. Famílias de mais posses conseguem proteger sua renda", salienta.

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