TRIBUTAÇÃO

Setor de aço fica incomodado com perspectiva de redução de imposto

Em conversa com ministro Paulo Guedes, executivos do setor do aço falaram que o chefe da equipe econômica demonstrou "grande preocupação" com a inflação, mas alegam que efeito de redução da alíquota de importação do produto será "inócuo" nos preços

Rosana Hessel
postado em 10/05/2022 19:36 / atualizado em 10/05/2022 21:08

A expectativa de que o Ministério da Economia deverá fazer uma nova redução do Imposto de Importação (II), desta vez, de 11 produtos, deixou o setor do aço preocupado após o vazamento de que o produto seria um dos incluídos na lista, que correu conversar com o ministro Paulo Guedes, nesta terça-feira (10/5). “Tivemos uma reunião em que, no início, o ministro trouxe grande preocupação com a inflação e o combate à inflação, o que também é uma prioridade nossa”, disse Marco Polo Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, a jornalistas, após encontro com Guedes.

Ele demonstrou preocupação com a queda nos preços das ações das empresas do setor diante da possibilidade de que as alíquotas de importação do aço fossem zeradas. As siderúrgicas lideraram as quedas de hoje na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que recuou 0,14%, para 103.109 pontos. Os papeis da CSN Mineração, por exemplo, desabaram 7,16%. As ações da Usiminas tiveram a segunda maior perda do dia, de 6,78%. E, em seguida, as da CSN registraram perdas de 5,82%.

“O ministro esclareceu que apenas um grupo mais específico seria beneficiado, o ligado ao programa Casa Verde Amarela”, acrescentou Lopes, ressaltando que a negociação foi feita para que apenas os vergalhões utilizados na construção civil, que é uma demanda antiga das construtoras, desde o ano passado, tivesse redução da alíquota de importação de 10,6% para 4%. 

Marcos Faraco, presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil e vice-presidente da Gerdau Aços Brasil, Argentina e Uruguai, que também participou do encontro, destacou que há uma concorrência enorme no mercado de aço, porque existe um excedente de 520 milhões de toneladas de capacidade instalada. “No Brasil, essa capacidade instalada é de 51 milhões de toneladas e todas as nações se protegem”, afirmou. Segundo ele, o instituto apresentou números ao ministro “mostrando que o aço brasileiro é um dos mais baratos do mundo” e não teve os mesmos reajustes de preços ocorridos em outros países.

“Mercados relevantes, como a Europa, tiveram aumento de 129% no preço do vergalhão. Na Turquia, de 106%. No México, de 79%. Nos Estados Unidos, 78%. E, no Brasil, 45%. O único mercado com incremento inferior ao Brasil é a Rússia”, afirmou Faraco. Segundo ele, o impacto da redução do tributo sobre o aço será "inócuo" para o preço final dos produtos que utilizam essa matéria-prima. "O peso do aço nos preços dos veículos não chega a 5% e, na inflação da construção civil é de 0,03%", afirmou.

Especialistas lembram que, na China, onde há um grande excesso de produção, o aço é fortemente subsidiado e, por conta disso, a maioria dos países tentam se proteger com medidas antidumping.

De acordo com os executivos do Aço Brasil, após a conversa no Ministério da Economia, o chefe da equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro (PL), Guedes orientou sua equipe para analisar os dados apresentados pelo setor apontando que o vergalhão brasileiro é um dos “mais baratos do mundo”. Faraco acrescentou que a expectativa do setor é de que o governo não adote a redução do tributo na reunião de amanhã, da Câmara de Comércio Exterior (Camex), quando deverá ser decidido sobre a redução da tributação sobre a importação de 11 produtos, entre eles, o aço.

Procurado, o Ministério da Economia não comentou o assunto e informou que "a instância responsável pela deliberação sobre alterações tarifárias é o Comitê-Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex)", que tem reunião marcada para amanhã.

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