Conjuntura

Endividado? Veja as dicas para tentar sair do sufoco

Especialistas dão dicas de como dar adeus ao sufoco e tentar se manter no azul. Com inflação e juros lá em cima, percentual de famílias brasileiras devedoras bateu recorde em abril, chegando a 77,7%, maior valor em 12 anos

Fernanda Strckland
Isabel Dourado*
postado em 15/05/2022 06:00
 (crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
(crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Taxa de juros em dois dígitos e inflação nas alturas. Nesse cenário difícil, o número de famílias endividadas bateu recorde em abril, chegando a 77,7%. Como grande vilão, o cartão de crédito se manteve como o campeão de dívida mais comum entre os consumidores, e foi a única modalidade com aumento no mês, alcançando o patamar de 88,8%, segundo dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Em fevereiro, o país registrou um percentual de 76,6% de famílias com contas a vencer; em março, subiu para 77,5%. Comparando com os dados do ano anterior, quando a parcela de endividados estava em 67,5%, a pesquisa mostrou que houve uma alta de 10,2 p.p.

De acordo com o levantamento, a proporção de famílias com contas ou dívidas em atraso aumentou principalmente entre os mais pobres. Vale dizer que essa camada da população também é a que mais sofre com a inflação e a corrosão do poder aquisitivo.

Para economistas, esses dados devem ser analisados a partir de fatores macroeconômicos, como aumento da inflação, alta no desemprego, taxas de juros elevadas e incerteza quanto ao futuro do país. A inflação alta dos últimos anos impactou diretamente no poder de compra dos brasileiros. Somado a isso, a renda média dos trabalhadores chegou ao menor nível na série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012.

Um dos muitos brasileiros a começar o ano afundado em dívidas, o motorista de ônibus Isaías Targino, 64 anos, comenta que ficou no vermelho após pegar um empréstimo no banco, no valor de R$ 8 mil. "Eu peguei um empréstimo alto porque estava com dívidas no cartão de crédito, contas pessoais e básicas, e também porque precisava pagar o aluguel."

Segundo o morador de Brasília, o banco descontava todo o dinheiro do salário que caía na conta para pagar as parcelas do empréstimo. "Nessa situação, eu me vi desesperado e tive que recorrer ao cheque especial, que usei para pagar o empréstimo porque estava ficando sem dinheiro algum. Fiz outro empréstimo para cobrir o cheque especial, no valor de R$ 5 mil. Eu me vi cada vez mais afundado em dívidas e sem saber o que fazer", lamenta.

Uma pessoa é considerada apenas endividada quando tem um compromisso financeiro, mas paga em dia. Ela se torna inadimplente quando não paga a dívida no prazo. Tanto o percentual de famílias endividadas quanto o de inadimplentes vêm batendo recordes desde o ano passado, chegando ao seu maior patamar em 12 anos.

Famílias no vermelho
Famílias no vermelho (foto: Pacifico/CB/D.A Press)

Especialistas lembram, contudo, que o aumento das dívidas e da inadimplência também pode estar relacionado às decisões e aos padrões de consumo inadequados por parte das famílias. "Infelizmente, temos no Brasil uma inflação alta e queda de renda. Então, as pessoas não dão conta de pagar os gastos básicos", destaca José Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust. "Tanto que o endividamento hoje não está em gastos altos, mas em gastos básicos que as famílias não estão conseguindo suprir como, por exemplo, alimentação, conta de gás, luz, água. O desemprego é um agravante disso", completa.

A tendência, segundo analistas, é de que a inadimplência suba ainda mais no ano que vem por causa do aumento dos juros e do fim de medidas emergenciais criadas na pandemia para ajudar os endividados. A professora de finanças da Fundação Armando Álvares Penteado, Virginia Prestes, lembra que os juros do cheque especial são muito altos e ressalta que pessoas endividadas devem fugir de empréstimos bancários e do cheque especial. "Muitas pessoas usam o cheque especial em momentos de emergência financeira quando os gastos ultrapassam o salário. O problema é que, em pouco tempo, esse crédito vira uma bola de neve."

Para conter o problema de endividamento das famílias, o governo tomou este ano algumas medidas que podem ajudar a aliviar o aperto. Uma delas é a liberação de saque de até R$ 1.000 no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Virginia comenta que o governo também abriu um programa de renegociação de dívidas voltado para micro e pequenos empreendedores, que tem prazo de adesão até 31 de maio.

Outra ajuda citada pela professora é o Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que atinge cerca de 18 milhões de famílias. Os valores têm piso de R$ 400. "Essas medidas são importantes, neste momento, para tentar conter o problema, mas são medidas de curto prazo. É claro que o auxílio e o FGTS vão ser formas de injetar um pouco mais de dinheiro. A questão, no entanto, é que talvez isso não seja sustentável", pontua.

Quatro cartões ou mais

De acordo com um levantamento realizado pela Serasa eCred, quase metade dos consumidores brasileiros (47%) têm quatro cartões de crédito ou mais. Para 34% dos entrevistados, as compras consideradas mais importantes são as de supermercado e alimentação; 15% usam o cartão para pagar contas em farmácias e 14%, para a compra de eletrodomésticos. As demais despesas pagas com o cartão são roupas (11%), viagens (10%) e móveis (10%). Já a utilização de cartões de crédito para pagamento de boletos representa o menor percentual, 6%.

*Estagiária sob a supervisãode Andreia Castro

 

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