Crise dos combustíveis

CVM investiga "movimentações atípicas" com as mudanças na cúpula da Petrobras

Comissão de Valores Imobiliários investiga "movimentações atípicas" com as mudanças na cúpula da estatal. Três dias após anunciar reajuste do diesel e da gasolina, José Mauro Coelho cai ante as pressões políticas provenientes de Brasília

Michelle Portela
postado em 21/06/2022 05:50 / atualizado em 21/06/2022 05:51
 (crédito: Rogério Von Kruger)
(crédito: Rogério Von Kruger)

A maior empresa brasileira de capital aberto passa por um terremoto político. E quem caiu desta vez foi José Mauro Coelho, o terceiro a deixar o comando da estatal no governo Bolsonaro. Coelho não resistiu à pressão dos Poderes da República após anunciar, na sexta-feira, o reajuste na gasolina e no diesel.

Logo pela manhã, Mauro Coelho recebeu o troco. Em comunicado, a Petrobras anunciou a saída do executivo. Foi o ato final após semanas de acusações contra os integrantes da cúpula da petroleira. E, a julgar pelas negociações no Congresso Nacional, capitaneadas em boa medida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), novas mudanças virão no comando da Petrobras.

A saída de José Mauro Coelho teve reação imediata no mercado financeiro. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo administrativo e cobrou explicações à estatal sobre "movimentação atípica" na bolsa de valores de São Paulo (B3) entre 3 de junho de 2022 e 17 de junho de 2022.

A CVM acumula oito processos abertos contra a Petrobras. Informou que "acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo companhias abertas e o mercado de capitais, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário". Ao longo do mês de junho, por exemplo, as ações preferenciais (PETR4) — sem direito a voto, chegaram a ter alta de 231%.

Em resposta à CVM, a Petrobras alegou que "não tem conhecimento de qualquer ato ou fato relevante pendente de divulgação que possa justificar as oscilações registradas no preço, na quantidade e no número de negócios envolvendo ações de sua emissão, no período de 03 de junho de 2022 a 17 de junho de 2022".

Nesse dia turbulento, os papéis da petroleira fecharam em alta. As ações ordinárias (PETR3) terminaram o pregão em alta de 0,87 e as preferenciais (PETR4), 1,14. Ao longo do dia, as ações caíram 7,31% e 6,88%, respectivamente.

Outro fato contribuiu para a Petrobras ocupar o centro das atenções ontem. No mesmo dia que divulgou a demissão do José Mauro Coelho, pressionado em razão dos lucros exorbitantes e dos sucessivos reajustes no preço dos combustíveis, a estatal anunciou o pagamento da primeira parcela da distribuição de R$ 24,25 bilhões em remuneração aos acionistas. Somente a União, maior acionista da estatal, receberá R$ 8,85 bilhões. O Conselho de Administração aprovou o repasse em maio, mas o comunicado ao mercado foi feito nesta segunda.

Também em maio deste ano, a companhia reportou ao mercado lucro líquido de R$ 44,561 bilhões no primeiro trimestre de 2022, o maior da história. A segunda parcela da remuneração será paga em 20 de julho.

O governo federal detém 36,6% do capital total da companhia e é o maior acionista da Petrobras. Por isso, a alta lucratividade e os preços elevados dispararam uma crise política em torno da estatal e levaram o presidente Jair Bolsonaro (PL) a pressionar a empresa por mudanças na direção da companhia, que culminaram na renúncia do agora ex-presidente José Mauro Ferreira Coelho.

O mercado aguarda a oficialização da indicação do secretário de desburocratização do Ministério da Economia, Caio Mario Paes de Andrade, embora o Conselho de Administração da Petrobras tenha anunciado o diretor executivo de Exploração e Produção da Petrobras, Fernando Borges, como presidente interino.

De acordo com o pesquisador Eduardo Costa Pinto, do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep), o lucro recorde da Petrobras se deve à atual política da estatal por preços máximos. "Com a atual política de preços, o lucro da empresa aumenta. Mas está sendo fortemente distribuído para os acionistas. Se houvesse vontade de reduzir o repasse aos acionistas, a Petrobras ainda seria a segunda empresa em lucratividade do mundo no setor de petróleo e gás", aponta Costa Pinto.

Diretamente afetados pelo preço dos combustíveis, os caminhoneiros se manifestaram ontem. "O país vai parar naturalmente, por não ter mais condições de rodar", disse, em vídeo, o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão Caminhoneiro. Ao lado de uma bomba de combustível, Landim exibiu ontem o preço em um posto de São Paulo, onde o diesel era vendido por R$ 8,70 o litro. "Estou aqui em São Paulo, 300 litros de diesel, R$ 2.610, R$ 8,70 o litro do diesel", lamentou.

"Vamos acordar, se unificar e ir para cima da Petrobras. E, quando eu falo ir para cima da Petrobras, é ir para cima do governo federal, também. Quem nomeia o presidente da estatal é o senhor Jair Messias Bolsonaro, que fez um compromisso para nós de mudar esse preço de paridade de importação em 2018. Por isso nós acreditamos no senhor", comentou Chorão.

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