AVIAÇÃO CIVIL

De olho no Brasil, TAP acompanha rumos das eleições presidenciais

Presidente da companhia aérea prevê aumento nas frequências dos voos para Portugal, num primeiro momento, e, depois, ampliação no número de aeroportos brasileiros atendidos — hoje, são 11

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 22/09/2022 14:00 / atualizado em 22/09/2022 14:02
Segundo a presidente da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, num primeiro momento, a ideia é ampliar a frequência de voos já existentes, de três ou quatro semanais para sete -  (crédito: Vicente Nunes/CB/D.A.Press)
Segundo a presidente da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, num primeiro momento, a ideia é ampliar a frequência de voos já existentes, de três ou quatro semanais para sete - (crédito: Vicente Nunes/CB/D.A.Press)

Lisboa — A TAP, empresa aérea de Portugal, que voa para 11 destinos do Brasil, está acompanhando com lupa o andamento das eleições presidenciais no país. Não sem razão. As medidas que vierem a ser tomadas na economia a partir de 2023 pelo futuro governo podem afetar os planos da companhia, que planeja crescer no mercado brasileiro. Segundo a presidente da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, num primeiro momento, a ideia é ampliar a frequência de voos já existentes, de três ou quatro semanais para sete. Depois, aumentar o número de cidades atendidas. “Fomos procurados por todos os aeroportos do Brasil”, disse a executiva. “Com os nossos 11 destinos, já temos a maior rede de atuação de uma companhia aérea internacional no Brasil”, acrescentou.

Os detalhes da possível expansão da TAP no Brasil poderão ser conhecidos em novembro, quando será fechado seu plano estratégico para 2023. Há uma série de pontos sendo considerados, como uma possível desaceleração da economia mundial, que pode mergulhar numa recessão; os impactos da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, sobretudo nos preços dos combustíveis e da energia elétrica; a inflação; o aumento dos juros; a escassez de mão de obra qualificada; e a infraestrutura dos aeroportos mundo afora, já que, no mais recente verão europeu, houve caos no atendimento aos viajantes, com frequentes cancelamentos e atrasos de voos e perdas de bagagens. A TAP esteve na ponta desse tumulto.

“Começamos a trabalhar em nosso orçamento para o próximo ano, analisando todos os riscos macroeconômicos e olhando o que estão fazendo nossos concorrentes. Temos analisado o impacto potencial na inflação, todos os rumores sobre uma recessão, a variação cambial, os preços dos combustíveis”, afirmou Christine. Ela reconheceu, porém, que a TAP voa para destinos que não são exatamente os mesmos de outras companhias aéreas. “Temos grande presença no Brasil. Por isso, vamos ver o que acontecerá com a eleições no país. Também é forte a nossa presença na América do Norte e na África. Optamos por viagens mais longas, que têm se mostrado mais rentáveis”, assinalou.

O espaço para crescimento da TAP, no entanto, é limitado, uma vez que dispõe de uma frota de 99 aeronaves. “Esse é um limite que temos, com nosso plano de reestruturação. Ainda podemos crescer, mas de forma que seja razoável, sem comprometer os resultados globais da empresa”, destacou a executiva. Ela acredita que, a despeito de todas as incertezas no horizonte, a demanda por viagens continuará aumentando, inclusive as de negócios, que mostraram resiliência maior do que a esperada. Pelos cálculos dela, independentemente de todo o estrago feito pela pandemia do novo coronavírus, as viagens a trabalho estão 20% abaixo das registradas em 2019.

Vazamento de dados

Ao mesmo tempo em que traça os planos de atuação em 2023, a TAP está sendo obrigada a lidar com um problemão que arranhou ainda mais a sua imagem: o vazamento de dados pessoais de seus clientes. A presidente da companhia não confirma os números, mas se estima que informações de pelo menos 1,5 milhão de pessoas que já viajaram pela empresa foram acessadas por um grupo intitulado Ragnar Locken, que estaria repassando os registros por meio da deep web. O ataque ao sistema de informática da TAP ocorreu entre 26 de agosto e 13 de setembro. Foram obtidos nomes, endereços e e-mails de passageiros, além de documentos confidenciais da companhia, como acordos com outras empresas.

Em um vídeo divulgado na quarta-feira (21/09), Christine pediu desculpas à clientela. Ontem, ela reforçou que a companhia aérea está fazendo todo o esforço possível para conter os danos provocados pelos hackers. “Entramos em contato com nossos clientes, explicando tudo e ressaltando que sentimos muito. Também avisamos para que sejam cautelosos com mensagens suspeitas que venham a receber”, frisou. Segundo ela, tal crise está sendo gerenciada desde o primeiro momento com a Microsoft, e sistemas de segurança foram implantados de forma a evitar que fatos como esse se repitam. “Estamos investindo em tecnologia e em pessoal, mas este é um mundo novo, em que não há 100% de segurança.”

A maior preocupação é com os dados financeiros dos clientes, mas a TAP assegura que essas informações estão protegidas. “Não é porque eles acessaram nossos arquivos que pegaram todos os dados”, disse Christine. Ela reconheceu, porém, que as empresas aéreas são alvos principais de hackers, seja por causa das informações que detêm, seja pelos estragos que eles podem fazer. “As companhias aéreas são um alvo muito bom para eles, porque o impacto pode ser catastrófico. Mas aprendemos com esse ataque e estamos investindo em especialistas e em proteção adicional aos nossos clientes”, afirmou.

Serviços ruins

Sobre o péssimo atendimento prestado aos clientes nos últimos meses, a presidente da TAP ressaltou que houve um conjunto de fatores que jogaram contra, a começar pelos aeroportos de Portugal e de parte da Europa, que não estavam preparados para o aumento da demanda por viagens. “Toda a indústria aérea enfrentou problemas em vários aeroportos, mas é absolutamente inaceitável o que vimos no último verão, principalmente em relação a nós”, destacou. As fragilidades operacionais fizeram com que voos atrasassem, conexões em Lisboa fossem perdidas e malas, extraviadas. Dois casais brasileiros, que embarcaram em Brasília pela TAP, viajaram pela Europa por três semanas sem seus pertences. As bagagens só foram recuperadas 40 dias depois, ainda assim, pelo esforço dos passageiros, não da empresa.

“Achamos que a qualidade dos serviços que estamos oferecendo hoje não é aquela que gostaríamos. Absolutamente, não”, frisou Christine. Mas, na opinião dela, há muita coisa que pode ser feita para diminuir os transtornos, que são corriqueiros. “Primeiro, nos certificando de que os aeroportos nos quais operamos têm recursos suficientes para prestar os serviços necessários. Tem sido um problema em todos os lugares encontrar pessoas para recrutamento. Em Lisboa, por exemplo, muita gente deixou de trabalhar no aeroporto porque as condições são bastantes difíceis e os serviços, muito pesados”, acrescentou. Para piorar, a empresa contratada pela TAP no terminal da capital portuguesa ficou insolvente e teve de ser substituída em meio ao caos.

Para a presidente da TAP, é fundamental garantir que esses problemas não se repitam, especialmente nos períodos em que o número de voos aumenta consideravelmente, como no verão europeu. “Estamos comprometidos com isso”, garantiu. Em relação aos preços das passagens, por enquanto, não há perspectivas de queda. A determinação da empresa é manter a rentabilidade por passageiro, que vem crescendo, em especial dos que partem do Brasil. A justificativa é de que os custos operacionais aumentaram muito. A TAP previa gastar 1 bilhão de euros (R$ 5,5 bilhões) com combustíveis neste ano, mas a fatura terá acréscimo de pelo menos 400 milhões de euros (R$ 2,2 bilhões). A empresa quer voltar a ter lucro até 2025.

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