Conjuntura

Após queda na inflação em setembro, analistas esperam guinada em outubro

Inflação oficial cai 0,29% em setembro, ainda puxada pelos combustíveis. Para analistas, porém, índice dará guinada em outubro

Rosana Hessel
postado em 12/10/2022 03:55
 (crédito: Thiago Fagundes/CB)
(crédito: Thiago Fagundes/CB)

A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), teve queda de 0,29%, em setembro, conforme dados divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A variação foi a menor para os meses de setembro desde o início da série histórica do IBGE, iniciada em 1994, segundo o órgão ligado ao Ministério da Economia, que aponta a redução dos tributos sobre os combustíveis como principal fator do recuo do IPCA desde julho.

No ano, o indicador registrou alta de 4,90% e, no acumulado em 12 meses, a variação foi de 7,17%, abaixo dos 8,73% registrados no mesmo período até agosto. Quatro dos nove grupos pesquisados tiveram queda, com Transportes registrando o maior recuo mensal, de 1,98%, impactando em -0,41% no IPCA de setembro. Apesar da queda de 0,51% nos preços do grupo de alimentos e bebidas em setembro, no acumulado em 12 meses, registra alta de 11,7%.

Entre os vilões do mês, a cebola teve destaque com salto de 11,22% no mês e de 127,30%, em 12 meses. Já o leite longa vida, que chegou a disparar 40%, liderou a queda mensal entre os alimentos, de 13,71%, mas ainda acumula elevação de 36,93%, em 12 meses, e de 50,73%, no ano.

Ocorrendo desde julho, a queda do IPCA vem sendo comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na propaganda eleitoral para a reeleição no segundo turno de 30 de outubro. Contudo, o brasileiro pode preparar o bolso a partir deste mês, porque os preços devem voltar a subir de forma generalizada, inclusive a gasolina — caso a Petrobras volte a seguir a sua política de paridade de preços internacionais (PPI), que, curiosamente, está paralisada diante da aproximação do pleito eleitoral.

ECO-IPCA
ECO-IPCA (foto: Valdo Virgo)

Serviços

A queda de 0,29% no IPCA de setembro foi menor do que a esperada pelo consenso do mercado, de 0,34%, e ficou abaixo das variações dos meses anteriores (de -0,68%, em julho, e de -0,36%, em agosto), em um claro sinal de que essa deflação por conta da redução de tributos não será o suficiente para manter a carestia em queda, porque é artificial e não se sustenta, de acordo com analistas. Basta olhar para o núcleo do IPCA, que desacelerou e apresentou alta de 0,41% no mês, mas, no acumulado em 12 meses, ainda registra variação elevada, de 10,13%. Isso tem preocupado os especialistas, especialmente porque a inflação de serviços segue elevada e ficou acima do esperado, 0,40% no mês, com serviços essenciais subindo 0,61% e acumulando alta anualizada de 9,54%.

"Continuamos preocupados com as pressões disseminadas subjacentes sobre a inflação de núcleo e serviços contra um cenário de aperto no mercado de trabalho e grande estímulo fiscal adicional para o segundo semestre de 2022. Além disso, é provável que a inflação se torne inercial, devido à intensificação dos mecanismos retroativos de fixação de preços e salários", alertou Alberto Ramos, do Goldman Sachs.

O consenso entre analistas é de que, neste mês, a inflação voltará a rodar no campo positivo. Aliás, o Índice de Preços ao Consumidor — Semanal (IPC-S), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), também divulgado ontem, subiu 0,26% na primeira quadrissemana de outubro. Segundo a instituição, todas as sete capitais pesquisadas registraram alta de preços. "Vamos voltar a ver a inflação porque, tirando a gasolina, não haveria taxa negativa do IPCA em nenhum mês neste ano e, muito menos, em outubro", disse o economista Andre Braz, do FGV Ibre. "Em outubro, vamos ter uma taxa bem positiva do IPCA, quem sabe na casa de 0,4%, ou seja, bem acima da queda de 0,29% de setembro. Mas isso pode acelerar mais, porque a Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo — cartel do setor), reduziu a oferta e isso pode fazer com que os preços do barril avancem, obrigando a Petrobras também aumentar os preços no mercado interno depois das eleições", acrescentou.

Disseminação

De acordo com analistas, um dos fatores que contribuem para a previsão de alta da inflação neste mês é o fato de a carestia continuar disseminada na economia — a taxa de difusão ficou em 62% — patamar ainda considerado elevado, especialmente, porque, na média, esse indicador está em 69,9%, de acordo com Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. "As expectativas para outubro, novembro e dezembro são de aceleração do IPCA, porque haverá pressões inflacionárias que não devem ser compensadas pela contribuição negativa que os combustíveis vinham dando", afirmou. Ele lembrou que o dólar está subindo por conta da perspectiva de novas altas dos juros nos Estados Unidos, e, como a guerra na Ucrânia voltou a ficar mais tensa, isso também afeta os preços internacionais.

O barril do petróleo voltou a subir com a redução da produção da Opep, e, depois das eleições, analistas veem como certa uma nova alta no preço dos combustíveis. Conforme dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), na segunda-feira, os preços internos da gasolina estavam 8% abaixo do cobrado no mercado externo e, os do diesel, 10%. "Acho que, daqui para frente, vamos ter IPCA positivo e a inflação pode voltar a subir e continuar bem acima da meta", ressaltou Agostini, da Austin.

A meta de inflação deste ano que vem sendo perseguida pelo Banco Central é de 3,5%, com limite superior de 5%. As projeções dos analistas ouvidos pelo Correio para o IPCA no fim deste ano giram entre 5,6% e 5,7%. Tatiana Nogueira, economista da XP Investimentos, lembrou que, mesmo incorporando uma queda adicional nos preços da eletricidade devido a alterações tarifárias, a instituição projeta alta de 5,6% no IPCA no fim do ano.

Não à toa, diante da perspectiva de que o índice voltará a subir e continuará acima da meta de inflação deste ano e do próximo, o consenso entre os especialistas é de que o Banco Central deve demorar para reduzir a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano. As apostas continuam sendo de que, apenas na metade do próximo ano, é provável um início de redução da Selic, mas bem pouco, porque as previsões para os juros básicos em dezembro de 2023 variam entre 11,25% e 11,75%, patamar ainda elevado para frear a atividade econômica no primeiro ano de governo de quem vencer as eleições no fim deste mês.

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