Seguros

Fraudes em seguros na América Latina giram em torno de US$ 50 bi por ano

Dados são do presidente da Fides, Rodrigo Bedoya, que conta que o país líder na região é a Argentina, com fraudes em 45% dos seguros contratados, enquanto a média do Brasil fica entre 14% e 15%

ROSANA HESSEL*
postado em 07/11/2022 20:22 / atualizado em 07/11/2022 20:24
 (crédito: Rosana Hessel/CB/DA PRESS)
(crédito: Rosana Hessel/CB/DA PRESS)

Santiago do Chile – As fraudes em seguros na América Latina geram perdas anuais em torno de US$ 50 bilhões e o país da região que lidera o ranking é a Argentina. O lanterna é o Chile, com o Brasil na média dos 18 países associados da Federação Interamericana de Empresas e Seguros (Fides), de acordo com o presidente da entidade, Rodrigo Bedoya.

Na Argentina, 45% dos prêmios do setor são fraudados, segundo o executivo da entidade. Enquanto isso, no Brasil, que fica na média, as fraudes giram em torno de 14% a 15% das receitas das seguradoras. Já o país mais seguro, por sua vez, é o Chile, com a taxa de perdas com fraudes das seguradoras privadas em torno de 2% a 3% dos prêmios.

“Esse baixo índice de fraudes entre os chilenos têm a ver com a mentalidade coletiva e com a cultura, que tem mais apego às leis”, destacou Bedoya. Segundo ele, 80% das fraudes no setor segurador ocorrem em dois ramos de negócios: de saúde e de automóveis. “É preciso uma campanha mais efetiva para convencer os segurados sobre a ilegalidade nas fraudes”, defendeu o executivo, que destacou a necessidade de um maior envolvimento das autoridades sobre a importância do mercado de seguros na economia de um país.
“É preciso haver mais diálogo entre reguladores e os seguradoras, porque, na região, a percepção dos órgãos de regulação do setor é de que o trabalho está focado na fiscalização, mas estamos convencidos de que uma parte do rol do regulador tem a ver em promover o desenvolvimento do mercado segurador”, disse. “E, nesse sentido, não vemos interesse das autoridades de governo de buscarem um trabalho conjunto em benefício dos mais expostos e com menores recursos em um esquema que poderia fazer diferença na vida das pessoas. É possível implementar soluções de baixo custo, mas não vejo esse diálogo ainda entre os países da região”, acrescentou.

Bedoya participou do lançamento oficial da próxima conferência da Fides, que será realizado no Brasil, em 2023, feito pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), nesta segunda-feira (7/11), em Santiago do Chile. O evento será realizado na cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 24 a 26 de setembro do próximo ano.

Ao comentar sobre o evento que será realizado após dois anos de interrupção devido à pandemia, pois o último ocorreu na Bolívia, em 2019, Bedoya destacou que a entidade pretende divulgar dados consolidados dos impactos da covid-19 no setor segurador. “Os números oficiais são muito menores”, assegurou o executivo que, durante sua gestão à frente da Fides, vem procurando consolidar os dados regionais na plataforma da entidade.

Bedoya demonstrou confiança na retomada do mercado de seguros após a pandemia, diante da evolução tecnológica que vem permitindo facilidades para o consumidor na hora de contratação de seguros. Ele reconheceu que as seguradoras precisam ser capazes de simplificar, cada vez, mais as relações com os clientes que pedem, por exemplo, a redução do número de páginas das apólices, de 50 a 60 hoje em dia, para 10 páginas.

Conforme dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep)
divulgados nesta segunda-feira, o mercado brasileiro de seguros cresceu 18,1% em 2022, na comparação com 2021, considerando as receitas acumuladas de janeiro a setembro, que somaram R$ 265,1 bilhões neste ano. Enquanto isso, as indenizações cresceram 19,7% na mesma base de comparação, totalizando R$ 166,6 bilhões.


De acordo com o presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Antonio Trindade, destacou que o mercado de seguros tem apresentando um bom desempenho, mas tem desafios pela frente em um cenário pós-pandemia. “Estamos passando por um período de grandes transformações”, disse ele, citando como exemplo a revisão do marco regulatório e as implementações do Sandbox -- um ambiente controlado para que pequenas seguradoras trabalhem em nichos específicos e, quando conseguem sucesso, podem sair e entrar no “mundo normal das seguradoras reguladas.” "Existem algumas iniciativas interessantes, segurando nichos de pessoas”, afirmou.

Trindade lembrou que grandes seguradoras que atuam no setor automotivo costumam ter índices chilenos de fraudes, em torno de 2% a 3%, porque investem em tecnologia para identificar golpes. Ele também destacou o Open Insurance como nova tendência para o setor, onde o Brasil é um dos países pioneiros na região, mas “é um tema que vem trazendo um trabalho enorme para as seguradoras”.

De acordo com o executivo da FenSeg, um dos segmentos mais promissores do setor é o de riscos cibernéticos que, nos primeiros oito meses de 2022, registraram expansão de 74%. A entidade aposta em uma retomada de obras públicas em 2023, e, consequentemente, uma procura maior por seguro garantia, de responsabilidade civil e riscos de engenharia, além de grandes riscos. Trindade lembrou que, no caso de seguros de fretes, a tendência também é de crescimento à medida que a economia do país for retomando a atividade.
Neste ano, o setor de seguros gerais registrou crescimento de 27,3% na receita com prêmios diretos, totalizando R$ 83,9 bilhões no acumulado de janeiro a setembro, sem incluir o DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres), que deixou de ser cobrado desde 2021.

No mesmo período, o volume de sinistros pagos somou R$ 45,6 bilhões, valor 43,3% acima do registrado em 2021. O segmento com maior participação do setor é o de automóveis, respondendo por 44,1% do total, enquanto o rural – que vem registrando maior crescimento nas ocorrências -- respondeu por 12,6%.

Outro segmento de seguros que tem registrado expansão é o de capitalização que, de janeiro a setembro deste ano, somou R$ 21 bilhões – crescimento de 17% na comparação com o mesmo período do ano passado, conforme dados da Susep. “O momento do setor é bastante interessante, porque a capitalização passou por várias crises, inclusive a pandemia, e vem se reinventando e está crescendo”, destacou o presidente da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), Denis Morais. Segundo ele, além da modalidade de capitalização tradicional, responsável por 74% da arrecadação do setor, as modalidades instrumento de garantia – que pode ser financeira ou até mesmo para contratos de aluguel – e filantropia premiável, cada um responsável por 11% da receita, possuem potencial de expansão. “O momento é interessante e desafiador, porque temos muitas novidades e nossa ideia é unir a inteligência do mercado e mostrar, com a comunicação, essas modalidades, assim como a popular, ainda de volume pequeno mas que pode crescer bastante”, afirmou.

*A jornalista viajou a convite da CNSeg

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