CONSUMO

Preços altos e dificuldade de recarga impedem popularização do carro elétrico

Apesar da tendência de transição energética internacional, no Brasil, os consumidores têm planos de investir nos veículos movidos a eletricidade, mas ainda encontram preços altos e dificuldade na recarga

Fernanda Strickland
postado em 11/12/2022 03:55
 (crédito:                    Ed Alves/CB/D.A Press                 )
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press )

O uso de carros elétricos e híbridos ainda não ganhou muita força no Brasil, porém uma pesquisa do Hello Research encomendada pela Tupinambá Energia mostra que quase 60% dos consumidores brasileiros têm interesse de comprar veículos com essa tecnologia ainda muito cara para a maioria da população. Os modelos mais simples chegam a custar mais de R$ 140 mil. A maioria dos interessados (66%) está no Centro-Oeste segundo o levantamento.

Entretanto, brasileiros que já experimentaram os veículos, como os motoristas de aplicativo, reclamam da autonomia reduzida e das dificuldades para recarregar a bateria, perdendo horas de trabalho nas filas.

Davi Bertoncello, principal executivo (CEO) da Tupinambá, empresa que desenvolve e administra pontos de recarga no Brasil e no exterior, explica que há uma grande expectativa para que as vendas de carros elétricos continuem evoluindo e se tornando, gradativamente, uma escolha mais fácil e prática para todos. Porém, ainda há grandes desafios para chegar ao objetivo. "Um dos grandes problemas enfrentados nessa área é a desinformação a respeito da mobilidade elétrica. Há um trabalho a ser feito de informar, ensinar e educar a população sobre o tema e a tecnologia para cada vez mais facilitar o uso e tornar a solução amplamente utilizada", afirma.

Para Bertoncello, com a ascensão do uso de carros elétricos, o consumidor vai perceber a diferença dos custos da manutenção e do consumo com os veículos a combustão. "Entre os principais motivos que levam o motorista a optar por um modelo elétrico, estão os custos menores em comparação com modelos movidos a combustão, a sustentabilidade, praticidade, tecnologia e conforto", aponta.

Uma das grandes dúvidas entre os consumidores é se há pontos para abastecimento desses carros no país. Ele explica que, no Brasil, existe uma previsão de chegar a 3 mil eletropostos disponíveis nas principais cidades e nas rodovias brasileiras, até o fim deste ano, e a 10 mil, dentro de três anos.

"É possível encontrar a maioria desses eletropontos no aplicativo da Tupinambá, que pode ser baixado gratuitamente", conta Bertoncello. "O aumento de venda dessa categoria de veículos e o aumento expressivo da infraestrutura de recarga pública e semipública no país são alguns dos motivos que ajudam a impulsionar o crescimento dos elétricos no país", observa.

Transição energética

No evento de lançamento do novo Peugeot e-2008 no Brasil, a marca francesa aproveitou para falar um pouco sobre a estratégia para o país, com ênfase na expansão da linha de carros elétricos e na oferta de mais serviços relacionados para melhorar a experiência do cliente. E essa expansão da mobilidade elétrica se dá em um cenário que a marca vê como bastante promissor. Apoiada na mudança de mentalidade dos consumidores, a transição energética tende a se tornar cada vez mais rápida, o que é algo positivo no Brasil, na visão da Peugeot.

Na ocasião, a marca francesa mostrou o resultado de uma pesquisa em que os consumidores brasileiros se mostram cada vez mais inclinados aos temas carro elétrico, transição energética, meio ambiente e questões como ESG (do inglês Governança ambiental, social e corporativa). Diante desse cenário, a montadora do grupo Stellantis e conglomerado veem uma forte expansão nas vendas de veículos elétricos no país para os próximos anos.

O mercado de carros movidos a eletricidade está em expansão no Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), as vendas de veículos leves eletrificados no Brasil tiveram, em novembro, o segundo melhor mês da série histórica, com 4.995 unidades emplacadas, só superadas por setembro (6.391). O total de vendas de janeiro a novembro deste ano cresceu 25% sobre o total vendido em 2021, chegando a 43.658 unidades. A entidade estima fechar o ano perto de 50 mil emplacamentos, dado 40% acima do ano anterior.

"Os dados deste levantamento da ABVE demonstram que a eletromobilidade está avançando no Brasil e conquistando mais evidência a cada semana. Com certeza, esses números são uma confirmação de que os carros elétricos já são uma realidade do mercado automotivo", comenta Thiago Castilha, cofundador e diretor de marketing da E-Wolf.

Uma pesquisa da consultoria McKinsey revelou que a expansão das estações de carregamento está entre as metas do setor de eletromobilidade, já que quanto maior a infraestrutura de recarga, maior será o interesse em carros elétricos. Segundo Castilha, contudo, o ponto de abastecimento é uma barreira de fato. "O cliente com um investimento de R$ 7 mil a R$ 10 mil, consegue fazer um posto de recarga em sua casa, gastando R$ 0,20 por quilômetro na energia elétrica. Então, para quem tem rota curta é muito fácil", afirma.

Divergências

As opiniões dos consumidores são divergentes. A advogada Aline Soares, de 35 anos, faz parte do time que gosta da tecnologia. "Comprei um carro elétrico há dois meses e moro perto de um ponto de abastecimento. Pelo tempo que estou usando, o carro tem valido a pena. Mas uso apenas para ir trabalhar e me divertir. Com ele estou tendo bastante economia, devido ao preço atual da gasolina."

Já a realidade dos brasileiros que dependem do carro para trabalhar é bem diferente. Carlos Martins de Souza, 44, motorista de aplicativo, afirma que, há um ano, investiu em um carro elétrico e se arrependeu. "Fui com a intenção de economizar. Mas, na prática, a questão ficou bem diferente. Eu demorava cerca de três horas para abastecer o carro, sendo que a carga não durava o dia todo, dependendo das rotas que eu pegava", reclama. Ele tentou um carro híbrido, que tem duas opções de abastecimento, mas os problemas não mudaram muito. "O modelo que comprei na ocasião rodava com eletricidade até os 80km/h e só mudava para a combustão acima disso, o que não permitia rodar com essa opção na cidade", diz.

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