conjuntura

Com alimentos em alta, inflação fura teto e afeta as compras do brasileiro

IPCA avança 0,62% em dezembro e fecha 2022 em 5,79%. Produtos como a cebola, que subiu 130%, foram os vilões do índice

Rosana Hessel
postado em 11/01/2023 03:55
 (crédito: Arquivo/Agência Brasil)
(crédito: Arquivo/Agência Brasil)

Puxado pelo preço dos alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, acelerou entre novembro e dezembro, de 0,41% para 0,62%, conforme dados divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado superou as estimativas do mercado.

No acumulado de 2022, o índice teve alta de 5,79% e fechou o ano acima do teto da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2022, de 5%. Em dezembro do ano anterior, o IPCA subiu 0,73%, acumulando alta de 10,06% em 2021, taxa também acima do teto da meta daquele ano, de 5,25%. Com isso, o Banco Central (BC) descumpriu a missão de preservar o valor da moeda brasileira pelo segundo ano consecutivo e pela sétima vez desde o início do regime de metas, instaurado em 1999.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, divulgou, na noite de ontem, a tradicional carta explicando os motivos para o novo estouro da meta, saiu em defesa do ajuste fiscal e deixou a porta aberta para nova alta dos juros. 

O consenso de analistas é de que o BC só conseguirá voltar a cumprir a meta em 2024. Neste ano, o teto da meta é de 4,75% e as projeções do mercado para o IPCA estão sendo revisadas para cima há quatro semanas seguidas. No boletim Focus, a mediana das estimativas está em 5,36%. "O estouro da meta pelo terceiro ano seguido será inevitável, pois o trabalho dos bancos centrais, não apenas no Brasil, está mais difícil. Os choques inflacionários, que ficaram mais fortes com a guerra da Ucrânia, não estão sendo acomodados pela política monetária. Os efeitos dos aumentos dos combustíveis acabam tendo impacto em vários setores da economia", destacou Tatiana Nogueira, economista da XP Investimentos.

Cebola

A variação de 0,62% no IPCA do último mês do ano surpreendeu o mercado, pois as estimativas eram de 0,46%, conforme o boletim Focus, do BC. O resultado mensal foi puxado pela alta de preços dos alimentos e dos itens de higiene pessoal, como perfumes, cujos grupos responderam por metade da variação do indicador.

No acumulado do ano, o grupo alimentação e bebidas registrou alta de 11,64%, respondendo por 2,41 pontos percentuais do IPCA do ano, ou seja, 41,6% da variação de 2022. A cebola foi a maior vilã da inflação em 2022, acumulando carestia de 130%. Enquanto isso, os preços da gasolina e do etanol recuaram 25,78% e 25,42%, respectivamente.

Contudo, analistas chamam a atenção para o fato de os preços da alimentação em casa registrarem alta maior, de 13,21%, no ano, acima da variação de 7,50% para quem se alimenta fora de casa. "O consumo em residência ficou mais caro do que a inflação média, que corrige os salários. Isso é um desafio para as famílias mais pobres, porque praticamente tudo o que ganham é para comprar alimentos, que devem ter restrições maiores em 2023", destacou o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ele lembrou que, se não fosse a renúncia fiscal do governo, que zerou os impostos federais sobre combustíveis e energia elétrica, o IPCA deveria encerrar 2022 em torno de 9% em vez de ficar perto de 6%.

Os dados do IBGE ainda mostraram uma inflação bastante disseminada na economia, com o índice de difusão de alta de preços em 69% dos itens pesquisados, acima dos 59% registrados em novembro, o menor patamar do ano, em grande parte, devido às promoções da Black Friday. "O índice de difusão realmente mostrou que houve um espalhamento das pressões inflacionárias, mas isso é bem característico de dezembro, que é um mês de festa, e muita gente capricha no consumo", destacou Braz.

Na avaliação dele, na média dos últimos meses, a difusão ainda continua elevada, o que é preocupante e acende o alerta para o Banco Central manter a taxa Selic em patamar elevado por um período mais prolongado neste ano. "Exatamente essa persistência inflacionária é que mostra a necessidade de se manter a taxa de juros mais alta por mais tempo. E esse é o problema. Quanto mais o BC usar esse remédio contra a inflação, mais efeito colateral vai se materializando na atividade, com um crescimento econômico menor, menos investimento e mais desemprego", emendou.

Salário mínimo

O IBGE também divulgou os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação das famílias mais pobres, com renda de até cinco salários mínimos, e é utilizado para corrigir o piso salarial.

Em dezembro, o INPC também acelerou e avançou 0,69% e, acima da variação de 0,38% de novembro, acumulando alta de 5,93% em 2022, puxada pelos produtos alimentícios, que mais pesam no indicador, que subiram 11,91% em 2022.

Neste ano, o salário mínimo deve ter um reajuste acima da inflação, porque a Lei Orçamentária Anual (LOA) prevê o piso em R$ 1.302, valor 1,5% acima dos R$ 1.281 considerando a correção pelo INPC do ano passado. Contudo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu um valor maior do que o enviado pelo governo anterior, de R$ 1.320, mas está com dificuldades para encontrar recursos neste começo de ano para cobrir os cerca de R$ 7 bilhões de aumento de despesas com aposentadorias e benefícios. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ainda não se pronunciou sobre o assunto. Procurada, a assessoria não respondeu até o fechamento desta edição.

Além disso, considerando a variação do indicador, o teto das aposentadorias pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) passará de R$ 7.087,22 para R$ 7.507,49. O novo valor ainda precisa ser oficializado pelo Ministério da Previdência, no Diário Oficial da União (DOU) para que possa entrar em vigor.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

CONTINUE LENDO SOBRE