Negócios

Americanas: cresce pressão e sócios podem pagar rombo com bens pessoais

Justiça autoriza devassa em e-mails corporativos dos últimos 10 anos de executivos da companhia, que entrou em recuperação judicial após revelar rombo contábil de R$ 20 bilhões. Sócios podem pagar com bens pessoais

Michelle Portela
Francisco Artur
postado em 27/01/2023 03:55 / atualizado em 27/01/2023 15:08
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)

A guerra judicial entre a Americanas e os credores torna-se cada dia mais intensa. Ontem, o Bradesco obteve uma decisão da Justiça que autoriza uma devassa na empresa, por meio da apreensão de e-mails de executivos e funcionários graduados nos últimos 10 anos. Maior credor da companhia, com R$ 4,8 bilhões a receber, o Bradesco procura garantir a produção de provas relacionadas ao rombo contábil de R$ 20 bilhões da rede varejista, que está em regime de recuperação judicial. Dependendo da evolução do caso, os sócios majoritários da Americanas — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira — poderão ser responsabilizados diretamente, com seus bens pessoais, pelas irregularidades.

Em Brasília, oito entidades sindicais protocolaram ação civil pública perante a 8ª Vara do Trabalho para garantir os direitos dos mais de 44 mil empregados da varejista no país. Assinam o documento Central Única dos Trabalhadores (CUT); União Geral dos Trabalhadores (UGT); Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB); Força Sindical (FS); Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB); Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST); Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs-CUT); e Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC).

O Sindicato dos Comerciários de São Paulo pediu ao Ministério Público do Trabalho (MPT) que convoque, em caráter de urgência, a Americanas para uma audiência de mediação de conflito coletivo a fim de debater a situação dos trabalhadores.

O sindicato afirma que a audiência é para tentar resolver, "a princípio, de forma amistosa", a situação de insegurança que se abateu sobre os funcionários da empresa. O sindicato paulista representa 500 mil trabalhadores na capital e 2,5 milhões no estado.

No início da semana, a Americanas apresentou à Justiça uma relação de dívida no valor de R$ 41,2 bilhões, e segue em risco iminente de falência. Com isso, dizem os sindicatos, há ameaças de que ela descumpra direitos trabalhistas. Da mesma forma que a iniciativa do Bradesco, a ação das centrais pleteia que o patrimônio pessoal dos acionistas majoritários — Lemann, Sicupira e Telles — possa ser executado independentemente do processamento da recuperação judicial da empresa.

Arbitragem

Ainda ontem, um grupo de 30 investidores estrangeiros acionou uma câmara de arbitragem brasileira com o objetivo de pedir indenizações à varejista.

Esse é o segundo pedido feito a uma câmara de arbitragem. O primeiro foi movido pelo Instituto Ibero-Americano Empresa, que, em nome de acionistas minoritários da Americanas, foi à Câmara da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), a CAM, para pedir R$ 500 milhões de indenização. A alegação é de que investidores teriam sido induzidos ao erro ao comprar ações que caíram de preço após a revelação do rombo no balanço.

Por sua vez, a varejista emitiu comunicado à B3 e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) argumentando que as ações vêm sendo alvo de especulações sobre as quais não tem qualquer controle. Entre 12 de janeiro, quando foi revelada existência de "inconsistências contábeis", que culminou com o pedido de recuperação judicial, até último dia 25, os papéis acumularam queda de mais de 92%. Hoje, valem pouco mais que R$ 1.

Além da dívida já anunciada, o mercado estima que a Americanas possua exigibilidades de R$ 5 bilhões em debêntures e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).

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