Guerra dos juros

Em guerra dos juros, Lula pode trocar quatro diretores do BC este ano

Dois integrantes da cúpula da instituição — e do Comitê de Política Monetária (Copom), que fixa a taxa básica de juros contestada pelo chefe do Executivo — têm mandatos que vencem no próximo dia 28. Outros dois, no fim de 2023

Rosana Hessel
postado em 10/02/2023 03:55
 (crédito:  Marcello Casal Jr/ Agência Brasil )
(crédito: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil )

Empenhado numa cruzada contra a autonomia do Banco Central e o nível elevado da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá a oportunidade de trocar, neste ano, quatro diretores da instituição. Já neste mês, Lula poderá definir os nomes de dois diretores cujos mandatos vencem no dia 28. E, em dezembro, outras duas vagas serão abertas ou renovadas. Trocar diretores significa mudar a composição do Comitê de Política Monetária (Copom), o colegiado responsável por fixar a Selic. Até o fim do governo, o Chefe do Executivo terá condições de alterar toda a diretoria da autoridade monetária, que conquistou a autonomia operacional há dois anos.

A Lei Complementar 179, de fevereiro de 2021, que trata da autonomia do BC, prevê que, em cada novo governo, é possível trocar dois diretores do órgão a cada ano de mandato. Alguns ajustes estão sendo feitos para adequar os mandatos de cada diretor a esse cronograma.

Atualmente, a diretoria do BC é composta por nove diretores, sendo quatro técnicos do quadro de servidores do governo e cinco do setor privado, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que está sob ataque de Lula, seguidores e aliados. Além disso, existe uma queda de braço interna para aumentar a participação de técnicos de carreira no comando da autarquia.

No fim deste mês, vencem os mandatos do diretor de Política Monetária, Bruno Serra Fernandes — que ocupa um cargo-chave para a definição dos juros —, e do diretor de Fiscalização, Paulo Souza, e ambos podem ser reconduzidos por mais quatro anos. A aprovação dos nomes indicados pelo Executivo é feita pelo Senado Federal, e o crivo é dado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), ainda sem presidente (um dos nomes cotados é o do senador Vanderlan Vieira Cardoso, do PSD de Goiás).

Ao que tudo indica, Souza, que é servidor de carreira e está na diretoria desde 2017, deverá continuar no cargo por mais quatro anos, porque a área de regulação é muito específica e há poucos especialistas nesse segmento, de acordo com fontes do BC. Fernandes, por sua vez, por ser oriundo do mercado financeiro, deve ser substituído.

banco central
banco central (foto: pacifico)

Campanha

O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) está em campanha para que o novo diretor de Política Monetária seja um funcionário de carreira da instituição. Integrantes do PT disseram ontem à CNN que defendem que o indicado para essa diretoria do BC tenha um perfil parecido ao do economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, ou seja ele mesmo. Recentemente, o economista da escola liberal que deixou de ser ortodoxo, endossou, em um artigo no jornal Valor Econômico, as críticas de Lula à política monetária do BC.

Dependendo do perfil do novo diretor, o nome poderá ser bem recebido pelo mercado, de acordo com analistas. Na avaliação do ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, Mailson da Nóbrega, o mercado tende a aceitar nomes mais técnicos do que políticos para as diretorias do BC, principalmente, funcionários de carreira do órgão. "Há vários ex-funcionários que foram diretores, participaram do Copom e foram bons presidentes, como Gustavo Loyola", destacou. Mas, no caso do ex-presidente do BC Alexandre Tombini, funcionário de carreira do banco, que foi muito criticado por ceder às pressões da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para promover uma queda artificial dos juros, Mailson fez ponderações. "Há quem diga que ele fez aquilo para continuar no cargo, porque, se pedisse para sair, poderia vir coisa pior", disse.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, demonstrou preocupação com a confusão em torno do BC em meio a um cenário pouco favorável para o crescimento do país. "Tenho a impressão de que o governo caminha para meter os pés pelas mãos na política monetária. O governo está errando muito nessa área e corre o risco de não perder apenas o crescimento deste ano, que já está dado, mas dos próximos também", alertou. Pelas projeções de Vale, a inflação deve fechar o ano em 6% — e ele lembrou que há várias casas subindo as projeções. "Sem uma sinalização clara do que será o novo arcabouço fiscal, o governo segue perdendo tempo com essa briga com o BC, e todos os brasileiros correm o risco de ver as expectativas de juros e de inflação subirem nos próximos anos", emendou.

Neste ano, outros dois mandatos vencem no fim de dezembro. O da diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Fernanda Guardado, que também é do mercado financeiro, como Fernandes, e o do diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, Maurício de Moura, que é servidor de carreira do BC.

Já Campos Neto, que está sob a mira de Lula e de parlamentares da base aliada, tem um mandato de quatro anos que vence em dezembro de 2024, quando completará seis anos à frente do órgão fundado por seu avô, o economista Roberto Campos. Além dele, outros dois diretores têm mandato vencendo no mesmo mês: o diretor de Regulação, Otávio Damaso, que também integra a área técnica, e a diretora de Administração, Carolina de Assis Barros, que tem mandato fixo desde 2018 e entrou no BC como analista da Divisão de Orçamento, em 2000.

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