GOVERNO

Lula reabre Conselhão com críticas a juros altos, desigualdade e pobreza

Órgão destinado a debater problemas do país e políticas públicas volta com representação social mais diversificada

Rrafaela Gonçalves
postado em 05/05/2023 03:55
 (crédito: Reprodução/TV Brasil)
(crédito: Reprodução/TV Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) formalizou ontem, a recriação do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), também conhecido como "Conselhão", espaço destinado a debater agendas e temas de interesse dos mais diversos segmentos da sociedade. Com 246 representantes, que vão de banqueiros e empresários a ativistas, artistas, intelectuais e representantes de cooperativas, o grupo serve para dar sugestões ao presidente da República.

Na primeira reunião do grupo, ontem, na sede do Itamaraty, os integrantes focalizaram suas críticas nos juros altos, na desigualdade social e no crescimento da pobreza no país. Lula engrossou o coro de críticas ao patamar da taxa básica de juros (Selic), que foi mantida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em 13,75%, nesta semana. "É muito engraçado esse país, onde todo mundo aqui pode falar de tudo, só não pode falar de juros", ironizou o presidente. "Todo mundo tem que ter cuidado. Ninguém fala de juros, como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas", emendou, em referência ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

O governo também aproveitou a oportunidade para fazer um aceno ao agronegócio. Na semana passada, os organizadores do Agrishow, principal feira voltada ao setor, em Ribeirão Preto (SP), convidaram o ex-presidente Jair Bolsonaro para a abertura do evento, em detrimento da presença do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que, por conta disso, cancelou a visita. "Temos aqui no Conselhão uma presença maior do que nas edições anteriores de empresas do agronegócio", declarou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

O segmento, um dos mais críticos à gestão petista, foi contemplado com 11 assentos no conselho, incluindo o presidente da Cosan, maior empresa do setor sucroalcooleiro, Rubens Ometto, Eraí Maggi, empresário do ramo da soja, e o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), João Martins. Em contraponto, Ayala Ferreira, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), aliado do governo, também integra o colegiado.

Criado em 2003, o Conselhão funcionou por mais de 15 anos, até ser extinto em 2019 pelo então presidente Jair Bolsonaro. Lula destacou que programas como o Minha Casa, Minha Vida, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o crédito consignado e a política de valorização do salário mínimo surgiram de diálogos no Conselhão.

Para o presidente, o órgão desempenhará um papel importante para vencer desafios como a fome, as desigualdades e as urgências ambientais. "Cada setor e cada movimento aqui representados enxergam de forma diferente esses e os muitos outros desafios que temos pela frente. Cada qual tem suas próprias demandas, suas próprias propostas. E é justamente essa a riqueza do conselho", destacou.

"Não é um espaço para as pessoas falarem bem do governo, para fazer diagnóstico. É para ajudar a governar esse país, dizerem como vocês querem que as coisas sejam feitas. Não é espaço de queixa, reclamação, é um espaço de produção", acrescentou.

Grupo plural

Dos 246 conselheiros, há 113 empresários, 83 representantes da sociedade civil e 46 integrantes de movimentos sociais e organizações sindicais. Na relação, são 97 mulheres, o que representa 40% do total, com nomes como Luiza Trajano (Magazine Luiza), Ana Paula Vescovi (Banco Santander) e Carla Crippa (Ambev). O objetivo é tornar a configuração do colegiado mais plural do que em anos anteriores.

"A grande novidade na composição desse Conselho é que ele está ainda mais representativo e diverso do que antes. Temos uma participação maior dos movimentos sociais e dos novos setores da economia, a exemplo de startups e fintechs. Avançamos na representação regional e racial, e também em gênero", disse Lula.

A lista de membros inclui ainda representantes da sociedade civil como a apresentadora Bela Gil, o youtuber Felipe Neto, Nath Finanças, o cineasta Jorge Furtado, o padre Júlio Lancellotti e o escritor Gabriel Chalita.

Na ocasião, vários convidados defenderam a queda dos juros, a reforma tributária e um ambiente de negócios com segurança jurídica. "Acabar com a pobreza e melhorar a qualidade de vida só é possível através do crescimento. Mas, hoje, com essa taxa de juros é impossível investir e produzir", disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

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