Correio Debate

Falta de ética concorrencial pode afugentar investidor, diz especialista

"Temos empresas que operam no Brasil sem respeitar qualquer regra", destaca Edson Vismona, presidente do FNCP

Executivo destacou impacto do contrabando no país. Ele também comentou sobre a reforma tributária  -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A. Press)
Executivo destacou impacto do contrabando no país. Ele também comentou sobre a reforma tributária - (crédito: Ed Alves/CB/D.A. Press)
Rosana Hessel
postado em 22/08/2023 11:23 / atualizado em 22/08/2023 18:52

A questão da ética concorrencial é uma das grandes preocupações dos investidores que se atentam em respeitar as regras do mercado interno brasileiro. Como há muitas empresas que burlam as normas, o país tende a perder investimentos produtivos de quem quer atuar na legalidade. Essa é a avaliação do presidente do Fórum Nacional Contra a Ilegalidade (FNCP), Edson Vismona.

“Temos empresas que operam no Brasil sem respeitar qualquer regra”, lamentou o executivo, nesta terça-feira (22/8), durante o seminário Correio Debate: Reforma tributária, uma oportunidade para o combate ao mercado ilegal, realizado pelo Correio Braziliense em parceria com o FNCP.

Conforme levantamento da entidade, o consumidor brasileiro acabou optando por produtos contrabandeados ou falsificados por conta do preço, e, com isso, as perdas para a indústria legal e os cofres públicos chegaram a R$ 410 bilhões, “pelas estimativas conservadoras” da instituição.

Segundo Vismona, a reforma tributária precisa simplificar a vida do contribuinte e fiscalizar melhor o devedor contumaz, que tem uma estrutura industrial focada em não pagar o imposto. O especialista participou da abertura e do primeiro painel do debate, que tratou do tema “Impacto do contrabando para a economia e a segurança pública”.

Impacto da reforma 

O executivo destacou que é essencial saber o verdadeiro impacto da reforma tributária, que ainda não está claro, pois, se houver mais aumento de carga, haverá um incentivo ainda maior ao contrabando e à ilegalidade. “Somos realistas. Não queremos que aumente em nada a carga tributária, ou até que ela diminua”, disse.

Ele lembrou que a indústria de cigarros é uma das maiores vítimas do mercado ilegal, com empresas estruturadas em falsificação e que burlam a tributação, atuando até com condições análogas à escravidão dos trabalhadores. “Temos indústrias estruturadas para não pagar imposto. Usando como exemplo o cigarro, 8% do mercado é composto pelo devedor contumaz que falsifica as marcas paraguaias e 33% é contrabandista”, afirmou.


“Infelizmente, temos esse padrão de participação no mercado dessas empresas com lógica criminosa de oferta que atende uma demanda que busca comprar produtos mais baratos”, disse. Segundo ele, conforme o levantamento do FNCP, os consumidores compram produtos ilegais porque eles atendem a vantagem do preço. Além disso, lembrou o executivo, as milícias estão envolvidas nesse sistema criminoso, proibindo, inclusive, a venda de produtos legais nas comunidades do Rio de Janeiro.

Vismona defendeu políticas públicas voltadas para o combate à ilegalidade. “Estamos entregando as pessoas para o tráfico e o contrabando”, apontou. No contexto da reforma tributária, o presidente do Fórum destacou que o imposto seletivo previsto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da mudança do sistema de imposto não pode prever apenas a simplificação, mas também ter a preocupação de não aumentar a carga tributária.

De acordo com ele, se a seletividade do imposto para produtos que fazem mal à saúde que está na reforma, como o cigarro, implicar em aumento de carga tributária, ela vai estimular o contrabando e o crime organizado. Segundo Vismona, dos R$ 410 bilhões em perdas estimadas com o contrabando e a ilegalidade em 2022, os prejuízos para os cofres públicos giraram em torno de R$ 130 bilhões. O dado do ano passado apresenta crescimento de 300% em relação às perdas totais registradas no início da série, de R$ 100 bilhões.

“Nós, como contribuintes, temos dúvidas sobre o impacto da reforma tributária. Se houver aumento da carga tributária sobre nossos produtos, com certeza, esse crescimento de 300% nas perdas vai ser bem maior. Se aumentar o preço, aumenta ainda mais a vantagem competitiva do mercado ilegal”, completou.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação