IPCA

Combustível é fator de risco para inflação, segundo analistas

Alta da gasolina teve o maior peso na inflação de setembro, que fechou em 0,26%, abaixo das previsões de mercado. Mas especialistas veem com preocupação efeitos da guerra no Oriente Médio sobre cotações do petróleo e preços internos

O item combustíveis, no qual o subitem gasolina está inserido, teve alta de 2,70% -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
O item combustíveis, no qual o subitem gasolina está inserido, teve alta de 2,70% - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
postado em 12/10/2023 05:00 / atualizado em 17/10/2023 15:35

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, subiu 0,26% em setembro, acumulando elevação de 5,19% no ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado foi impulsionado pela alta de 2,80% da gasolina, que teve a maior contribuição para o avanço do indicador.

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economia (foto: pacifico)

O resultado do mês surpreendeu, vindo abaixo das expectativas de mercado, que apostava em alta de 0,33%. Mas, entre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados, seis registraram aumento. O grupo de transportes teve o maior impacto, destacando-se ainda as passagens aéreas, que registraram avanço de 13,47%.

O item combustíveis, no qual o subitem gasolina está inserido, teve alta de 2,70%, com aumento de 10,11% nos preços do óleo diesel e de 0,66% do gás veicular, enquanto o etanol registrou queda de 0,62%.

O economista da CM Capital Matheus Pizzani destacou que os combustíveis se mostram, atualmente, como uma das principais fontes de inflação do país. "É algo preocupante quando se considera a conjuntura internacional desafiadora", ponderou o analista, observando que o conflito no Oriente Médio pressiona o preço do petróleo e acende um alerta para a inflação.

"A alta dos combustíveis pode afetar indiretamente outros preços importantes para a condução da política monetária do país, como os de bens industriais e de serviços", acrescentou.

Outro impacto importante entre as altas foi do grupo habitação, com crescimento médio de 0,47% nos preços de setembro. A maior contribuição, nesse grupo, foi da energia elétrica residencial, que subiu 0,99%.

Alimentos em queda

Pelo lado das baixas, o grupo alimentação e bebidas registrou deflação de 0,71%. Foi o quarto recuo seguido nesse conjunto de produtos, que acumula redução de 2,65% desde junho. "A safra grande tem contribuído para a maior oferta de alimentos e a redução de preços de subitens importantes, como carnes e leite", destacou André Almeida, gerente da pesquisa do IBGE.

Os preços da alimentação no domicílio recuaram 1,02%, com destaque para batata-inglesa, cebola, ovo de galinha, leite longa vida e carnes. Já o arroz e o tomate subiram. A alimentação fora de domicílio registrou alta de 0,12% no mês.

Serviços ainda pressionados

O setor de serviços, monitorado com lupa pelo Banco Central (BC) para a condução da taxa básica de juros (Selic), acelerou para 0,5%, ante 0,08% em agosto. A economista do C6 Bank Claudia Moreno ressaltou que a inflação do setor continua elevada. De agosto para setembro, o acumulado em 12 meses avançou de 5,43% para 5,53%.

"É importante destacar a inflação de serviços, pois ela serve de bússola para apontar para onde vai o IPCA. O mercado de trabalho aquecido pressiona os preços de serviços, tornando mais desafiadora a convergência da inflação para a meta", explicou.

Incertezas geopolíticas

Economistas alertam que o quadro inflacionário benigno pode ser alterado pelas incertezas geopolíticas e pela alta dos juros norte-americanos. "Na nossa visão, a inflação continuará elevada nos próximos meses, devendo fechar o ano em 5,4%, mas com leve viés de baixa devido às surpresas nas divulgações recentes. Para 2024, esperamos inflação de 5,5%. Mantemos nossa projeção de que o Comitê de Política Monetária continuará fazendo cortes na Selic de 50 pontos-base nas últimas duas reuniões deste ano", projetou Moreno. Hoje, a taxa está em 12,75% ao ano.

O economista André Perfeito disse que a conjuntura macroeconômica pode acabar sendo benéfica para o país. "O Brasil pode entrar num momento de euforia na conjunção de inflação sob controle, juros em queda, atividade ganhando força (massa salarial em alta) e o fato de ser uma economia longe dos problemas geopolíticos atuais. É uma situação inédita no sentido de certo deslocamento da dinâmica global, mas é uma hipótese que devemos considerar", avaliou.

 

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