CB.Agro | Raquel Miranda | Produtora rural e assessora da CNA

Café brasileiro retoma alta e vive bom momento, aponta produtora

Especialista da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil descreve o bom momento da cafeicultura, que expandirá a produção este ano após a crise entre 2020 e 2022. Assistência técnica é essencial para alcançar mercados como a China

 26/01/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. CB.Agro entrevista a produtora rural Raquel Miranda, assessora da Comissão Nacional de Café da CNA. Na bancada: Roberto Fonseca e Thays Martins. -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
26/01/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. CB.Agro entrevista a produtora rural Raquel Miranda, assessora da Comissão Nacional de Café da CNA. Na bancada: Roberto Fonseca e Thays Martins. - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
postado em 27/01/2024 03:55

A produção de café no Brasil está passando por um momento de retomada. Após os problemas climáticos entre 2020 e 2022, que afetaram a produção, a safra mostrou poder de reação em 2023. E a tendência é o café ficar mais forte. De acordo com a produtora rural e assessora da Comissão Nacional de Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Raquel Miranda, a previsão é o país produzir 58,7 milhões de sacas. Ainda está distante da safra recorde de 2020 — quando o país superou 63 milhões de sacas das variedades arábica e robusta.

Raquel comentou o desafio dos produtores ante o cenário climático desafiador. "Administrar uma propriedade rural é administrar uma empresa a céu aberto e que está sujeita a essas questões climáticas", observou. No atual cenário econômico, mencionou a especialista, a produção cafeicultora passa por um momento de altíssima volatilidade. "Observamos um boom das commodities agrícolas", disse. Nos projetos concedidos pela CNA, o produtor se torna peça-chave no processo de assistência técnica. Leia os principais trechos da entrevista, concedida aos jornalistas Roberto Fonseca e Thays Martins.

Quais as expectativas para o café em 2024?

Há uma recuperação da produção nacional. Em 2020, tivemos nossa safra recorde. O Brasil superou 63 milhões de sacas, da variedade arábica e robusta conilon. Tivemos problemas climáticos seríssimos depois do inverno de 2020, geada em 2021 e mais problemas climáticos em 2022, o que prejudicou muito a nossa produção nacional. 2023 já começa com uma recuperação e 2024 nós temos uma retomada, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 5,5%. O país vai produzir 58,7 milhões de sacas. Isso é uma sinalização muito importante, principalmente para o mercado internacional. A safra de 2024 traz uma boa notícia, tanto para o produtor rural quanto para o mercado internacional.

A produção de café está preparada para as oscilações climáticas?

O produtor está muito atento. Administrar uma propriedade rural é administrar uma empresa a céu aberto, que está sujeita a essas questões climáticas. Cada vez mais nós vemos os produtores implementando boas práticas agrícolas — como recuperação de nascentes, conservação de um solo com qualidade de matéria orgânica, de um solo vivo — tudo isso contribui para que as plantas tenham melhor vigor para atravessar momentos, por exemplo, de extremo calor como está acontecendo nas principais regiões produtoras. Ao mesmo passo, nós temos o desenvolvimento de novos materiais genéticos, que são mais resilientes a essas mudanças climáticas. Então, o produtor está atento — e hoje eu digo que é a maioria dos cafeicultores brasileiros.

Como está o mercado internacional?

Se nós olharmos para uma janela bem estreita, nós estamos passando por um momento de altíssima volatilidade. Quando olhamos por uma janela mais extensa, desde 2020, quando a gente atravessou um período de pandemia, observamos um boom das commodities agrícolas como um todo. O café brasileiro atingiu seus preços recordes, tanto do arábica quanto do conilon. Mas também foi um momento que o produtor passou por problemas climáticos e frustração de produção. Então, muitos produtores, apesar de um preço competitivo e interessante, não tinham produção para comercializar. Foi um momento delicado. Nós também estamos passando por um período de recuperação. O clima não está perfeito, mas já está mais favorável e é esperado que muitos produtores tenham um melhor resultado.

Os preços estão atrativos?

Ao contrário do que se esperava, os preços continuam firmes. Nas últimas semanas, apesar da alta volatilidade, tivemos uma recuperação no café arábica, que voltou a ser negociado acima de mil reais na saca de 60kg nas principais praças do Brasil. E o canéfora, com as variedades conilon e robusta, atingiu a máxima histórica de preços dos últimos 16 anos. O país está sendo muito procurado nesse momento.

Estamos num período chuvoso. Isso não impacta no preço para o consumidor?

Não porque a característica da safra brasileira é bem diferente dos outros países. No Brasil, a colheita é concentrada durante o período de inverno. E o inverno costuma ser um clima mais seco. Então, eu tenho uma safra de café no Brasil concentrada numa janela. Depois que acaba a safra é que esse café começa a ser ofertado ao mercado. E, ao contrário de outros produtos agrícolas, o café pode ser estocado por um tempo mais prolongado.

O consumidor tem cada vez mais opções no mercado. Quais são as principais diferenças?

O consumidor brasileiro tem mudado os hábitos de consumo, ficando mais curioso em quantas variedades que a gente tem de café. Nós produzimos duas espécies. Produzimos muito e somos bons na produção do café arábica e do café canéfora, que tem duas categorias: o conilon, onde o maior produtor é o Espírito Santo; e o robusta, cujo produtor é Rondônia, que traz um perfil sensorial de terroir muito exótico e interessante para os robustos amazônicas. Só falando de genética, portanto, já apontei três tipos.

Mas há outras características?

Sim. Posso falar de outros aspectos que influenciam a característica sensorial desse café, como, por exemplo, cafés especiais. Existe uma metodologia de avaliação mais consolidada no mundo, que é a norte-americana. O café é pontuado de 0 a 100. Cafés que obtêm uma pontuação acima de 80 pontos são considerados sensorialmente especiais. Então, quanto mais alta é essa pontuação, atributos como doçura natural, aroma intenso, aromas agradáveis, achocolatados, frutados, florais, eles vão se destacar nesse café e trazer elementos exóticos. Quando se fala em café especial, o olhar é para além do sensorial, volta-se para quem produziu esse café. Existe a agregação de valor por ser um café produzido por mulher, por um jovem, por ter vindo de determinada região.

Quais são os principais mercados consumidores do café brasileiro?

O Brasil exporta praticamente para todos os países do mundo que consomem café. Mas nossos principais destinos são do bloco europeu e os Estados Unidos. Nossas exportações para Ásia têm crescido muito, algo que sempre foi um sonho da cafeicultura brasileira porque, se conseguirmos aumentar o consumo de café principalmente na China, que ainda não é um país que consome café de forma tradicional, essa demanda vai ficar muito aquecida. É um sonho do Brasil, mas ao mesmo tempo leva desafios, porque vamos ter que investir em tecnologia e aprimoramento para produzir mais a fim de atender esse mercado.

Quais programas da CNA estão à disposição do produtor?

Eu tenho novidades para os produtores. A CNA tem um programa chamado Programa CNA Brasil Artesanal. A primeira de 2024 vai ser para o café torrado. Produtores que comercializam café torrado podem participar do prêmio CNA Brasil Artesanal. As inscrições vão iniciar em fevereiro, e o edital será divulgado com todas as regras. Tem premiação, tem capacitação desses produtores para que eles possam se tornar ainda mais profissionais, e com uma colocação de mercado ainda mais estratégica para ter sucesso na comercialização do grão torrado.

Como isso vai funcionar?

Vamos trabalhar com duas categorias: café 100% arábica e café 100% canéfora. Para essa primeira edição serão essas duas categorias. Nós temos cafés maravilhosos do Acre ao Paraná. Então, teremos uma disputa muito boa entre cafés de todo o país.

E os programas de assistência técnica?

O nosso carro-chefe é a assistência técnica gerencial através do Sener. Quando olhamos para o Brasil agrícola, nós temos uma história. Normalmente, são famílias que durante muito tempo souberam produzir com excelência, mas tiveram dificuldades em comercializar e saber vender esse produto. Além de fornecer assistência para melhorar técnicas de produção, o Sener capacita o produtor para fazer a gestão eficiente da propriedade. Nós temos um outro programa que é o Agro BR. Temos mais de 300 produtores cadastrados, que exportam café para outros países. Então, a CNA, além de representar politicamente os interesses dos produtores rurais brasileiros, leva assistência, capacitação, qualidade de vida para esse produtor no campo e a abertura de novos mercados.

*Marina Dantas - Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza

 

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