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Fampe terá reforço de R$ 12 bi para apoiar micro e pequenos empreendedores

Com novas parcerias, o Sebrae busca democratizar o acesso ao crédito, ampliar linhas de financiamento e facilitar a concessão de recursos, abrindo caminho para que micro e pequenas empresas investirem

O Sebrae comemorou, ontem, em Brasília, os 30 anos do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe). Criado para ampliar o acesso ao crédito, o fundo terá aporte de R$ 2 bilhões e deve movimentar R$ 30 bilhões nos próximos anos. Durante o evento, foram anunciadas novas metas e parcerias que reforçam o papel da instituição na democratização do financiamento para pequenos negócios.

O propósito do Sebrae é encerrar 2025 com R$ 12 bilhões em financiamentos garantidos para micro e pequenas empresas — valor bem acima da média anual de R$ 1 bilhão registrada até poucos anos atrás.

"Quando chegamos, o Fampe movimentava pouco mais de R$ 1 bilhão ao ano. Hoje já ultrapassamos R$ 6 bilhões e queremos dobrar esse número até dezembro. O crédito é mais do que um instrumento econômico: é a materialização de sonhos e esperança", afirmou o presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima.

Parte central da estratégia é o Programa Acredita Sebrae, sancionado em 2024 pelo governo federal e estruturado em dois pilares: a oferta de garantias complementares via FAMP e o atendimento focado no crédito consciente.

De 2024 a 2025, a iniciativa já viabilizou R$ 6 bilhões em crédito, mais de 80 mil operações, além de 606 mil atendimentos, 617 mil horas de capacitação financeira e 200 mil horas de consultoria. A plataforma digital do Acredita registrou 1 milhão de acessos no período. "Não se trata apenas de emprestar dinheiro, mas de orientar os empreendedores para que o crédito seja sustentável e impulsione o crescimento dos negócios", destacou Lima.

Valdir Oliveira, gerente da Unidade de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae e ex-diretor superintendente do Distrito Federal, destacou o crédito assistencial oferecido pela instituição. "Não se trata apenas de oferecer bilhões em crédito, mas de garantir que ele seja assistido. É pegar na mão do empreendedor", afirmou. "Precisamos humanizar esse processo. Vamos olhar o que há por trás das planilhas e dos números e trazer esperança para os empreendedores brasileiros", acrescentou.

Criado em 1995, no contexto do Plano Real, o Fampe foi pioneiro ao oferecer garantias complementares para micro e pequenas empresas em meio a um cenário de inflação elevada e escassez de crédito. Em 30 anos, o fundo já viabilizou mais de R$ 25 bilhões em financiamentos, consolidando-se como uma das principais políticas de inclusão produtiva no país. Hoje, conta com 33 instituições operadoras, incluindo bancos privados, cooperativas e fintechs.

Entre os novos parceiros está o Fundo Estímulo, nascido durante a pandemia com foco em crédito digital. Desde 2020, apoiou mais de 5.500 empresas com R$ 360 milhões em empréstimos sem garantias reais. Agora, integrado ao FAMP, deve ampliar sua atuação em regiões de baixa renda e na Amazônia Legal.

"Mais de 90% dos créditos que liberamos foram destinados a áreas vulneráveis, 30% para mulheres empreendedoras e quase 40% para negócios que nunca tinham tido acesso a crédito. Com o Fampe, vamos multiplicar esse impacto", afirmou o diretor do Estímulo, Lucas Conrado.

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O evento também deu voz a empreendedores que transformaram suas trajetórias com apoio do crédito. Um dos exemplos foi Michel Rocha, 27 anos, dono de uma barbearia em Rio Branco (AC). "Comecei cobrando R$ 5 por um corte. Hoje, o corte custa R$ 70 e consegui empregar meus dois irmãos. O crédito foi a virada de chave que mudou minha vida e a da minha família", relatou emocionado.

Casos como o do Hotel Fazenda Rancho dos Canários e do brechó Roupa Terapia também foram exibidos em vídeos, reforçando a dimensão social do programa. Segundo o Sebrae, as micro e pequenas empresas representam 95% dos negócios no país e foram responsáveis por 1,3 milhão dos 1,7 milhão de empregos criados em 2024. Apenas no primeiro semestre de 2025, 2,6 milhões de novos empreendimentos foram formalizados.

Para o ex-jogador Raí, embaixador do Acredita Sebrae, apoiar os pequenos negócios é estratégico para o futuro do país. "A pequena economia é a que mais emprega, é dela que o Brasil precisa", disse.

Acesso

Apesar dos avanços, os desafios persistem. Cerca de 88% das micro e pequenas empresas ainda não conseguem obter crédito no sistema financeiro tradicional. Para Lima, o papel do Sebrae é justamente "abrir portas" e construir alternativas com bancos, cooperativas e fintechs. "Celebramos 30 anos de vidas transformadas, mas nosso olhar está nos próximos 30, para que cada vez mais empreendedores tenham a chance de crescer com dignidade", concluiu o presidente do Sebrae.

Para o presidente do Sebrae, o crédito é decisivo não apenas para os negócios de menor porte, mas para toda a estrutura produtiva do país. "A pequena empresa não é competitiva com a grande, ela é o alicerce. Quando você dá crédito ao pequeno, fortalece também as cadeias gigantes", disse.

Ele lembrou que mudanças no mundo do trabalho reforçam essa tendência. "As pessoas estão preferindo ser empreendedoras a ter carteira assinada. É uma forma de libertação e de autonomia. Empresas que tinham 10 mil trabalhadores hoje têm 100, e toda a cadeia produtiva se pulverizou nos pequenos negócios", explicou.

Segundo o presidente do Sebrae Nacional, o avanço representa uma "abertura histórica" para os pequenos negócios, constantemente excluídos do sistema financeiro. "O Sebrae tem muito a comemorar. Esse fundo é a maior expressão de longevidade naquilo que é a porta de abertura minimamente do sistema financeiro para a pequena economia", disse Décio Lima, lembrando que o Fampe completou 30 anos de operação em 2025.

O dirigente ressaltou que, apesar de as micro e pequenas empresas representarem 88% dos CNPJs ativos no país, a maioria ainda não tem acesso ao crédito. "Isso é um absurdo num país induzido pela pequena economia — comércio, serviços, indústria de transformação, agronegócio e agricultura familiar. Esse retrato pujante da economia não tem acesso ao crédito", afirmou.

Segundo ele, parte do desafio é cultural. "O Brasil não tem uma cultura de solidariedade de aval. Nem um irmão presta esse apoio ao outro. O Fampe abre o banco, mostra que os pequenos podem, sim, obter crédito. Quando damos a garantia, o risco cai, os juros se tornam mais baratos e acessíveis, e o crédito pode ser pago."

Décio Lima ressaltou que a expansão do fundo estimula a concorrência no mercado financeiro, ao envolver bancos públicos, privados e cooperativas, e destacou a adesão do Bradesco como sinal de mudança de postura do setor.

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