
Recife — A semana política começa com a expectativa pelo início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao mesmo tempo, ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva, parlamentares governistas e da oposição, incluindo o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), estão em Recife nesta segunda-feira (1º/09) para a abertura da 14ª edição do Fórum Nordeste, um dos principais eventos sobre os impactos das mudanças climáticas e o papel da transição energética como motor de crescimento da economia brasileira.
Em seu discurso, Motta ressaltou que o Brasil está à frente no mundo na agenda da transição energética e há muitas oportunidades para o país nesse segmento.
“Mas isso não significa que devemos nos acomodar. Essa é uma oportunidade de desenvolvimento e gera emprego e renda que tanto contribui para a energia do Nordeste e contribui para que o Brasil avance e tire mais proveito dessas energias limpas”, afirmou.
“Vejo isso com grande satisfação, embora represente muito trabalho para a Câmara dos Deputados. A Casa tem se empenhado em apoiar a produção e a distribuição de energia a partir de fontes renováveis, assim como o desenvolvimento de novas tecnologias”, acrescentou ele, destacando algumas pautas de transição energética já aprovadas pelos deputados.
Entre elas estão o marco legal da microgeração e distribuição, o marco legal do hidrogênio verde, o marco legal da energia eólica offshore, aprovado, infelizmente, com “jabutis” — emendas não relacionadas ao tema — que beneficiam a energia a carvão, e a emenda constitucional que elevou para 30% o percentual de etanol na gasolina.
O parlamentar defendeu o diálogo para o avanço de pautas voltadas para a transição energética. “Vemos se confirmar uma sintonia construída pelo diálogo constante (do Legislativo) com os múltiplos setores envolvidos e como fazemos neste momento. Participar deste Fórum é uma oportunidade de ouvir autoridades, empresários e especialistas e assim iluminar nossos próximos passos ao desenvolvimento”, afirmou Motta.
Ele lembrou que a presença de ministros no evento na capital pernambucana indicam que o governo garantiu os investimentos em logística como a Ferrovia Transnordestina, que trazem para os nordestinos, inclusive ele, “um aumento nas certezas de que a região tem demonstrado, diante de todos os desafios, um grande potencial, principalmente neste setor de competitividade, modernidade”.
“Isso vai garantir que o Nordeste possa estar assumindo o papel do protagonismo nessa transição energética, da geração de energia limpa. É a certeza de que a cooperação entre o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o setor privado são, sem dúvida alguma, as receitas de sucesso que nós precisamos para avançar nos próximos anos”, frisou ele, em seu discurso.
Transnordestina
Na abertura, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), destacou que o Brasil será sede, neste ano, da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém. “A agenda da COP30 é positiva para o país e trará muitos frutos para todos nós”, afirmou.
A governadora revelou que o presidente Lula chegou a telefonar para o ministro dos Transportes, Renan Filho, que estava ao seu lado, pedindo que retornasse a Brasília para reforçar a importância do evento. Ela também destacou diversos investimentos de empresas estrangeiras em energias renováveis no estado, que têm gerado empregos e renda de forma sustentável. “Pernambuco tem mais carteira assinada do que beneficiários do Bolsa Família”, afirmou.
Antes de falar com a governadora pernambucana, Renan Filho, garantiu que, em outubro, será realizada a licitação para as obras de um ramal da Transnordestina em Pernambuco, a pedido do presidente Lula, natural do estado, que reconhece a importância da integração regional. “Essa ferrovia é estratégica para o desenvolvimento da região, e Lula, por ser pernambucano, tem um carinho especial por Pernambuco”, afirmou. O ministro explicou que o trecho que inclui Pernambuco parte de Salgueiro (PI) e se bifurca para os portos de Suape (PE) e Pecém (CE).
Em vídeo enviado aos organizadores do Fórum, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, elogiou o evento e destacou a relevância dos biocombustíveis e dos combustíveis renováveis. Segundo ele, esses temas são de extrema importância e representam oportunidades significativas para o Brasil, especialmente no setor de aviação. “O Brasil possui vantagens comparativas extraordinárias nessa área, e precisamos aproveitá-las. Essa é uma lembrança para o setor e para todos os companheiros aqui reunidos: a agenda da COP30 é, acima de tudo, uma agenda positiva para o país”, afirmou.
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Idealizador do Fórum Nordeste e presidente do Grupo EQM, Eduardo de Queiroz Monteiro, defendeu a troca de experiências como caminho para soluções sustentáveis. Na ocasião, ele destacou a importância da agenda de transição energética para o desenvolvimento do país e do Nordeste. "O Brasil é referência em energia renovável e não podemos perder o eixo do que isso significa e a vantagem comparativa do Nordeste para os principais países consumidores dessa energia limpa”, afirmou.
Ele afirmou que os portos do Nordeste têm vantagem comparativa por estar mais próximo dos centros globais de consumo de energias renováveis, como a Europa, o que tem justificado investimentos bilionários no setor de biocombustíveis.
Biocombustíveis
Um dos principais desafios do setor, destacado pelos debatedores, é a necessidade de uma regulamentação mais ágil diante do crescimento global da demanda por combustíveis renováveis. Evandro Herrera Bertone Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Única), ressaltou ainda que o país precisará ampliar a produção de biocombustíveis para cumprir as metas de redução de emissões previstas no Acordo de Paris.
Em debate sobre os combustíveis do futuro e os desafios da eletrificação de veículos no mundo, o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvert, afirmou que o futuro da mobilidade vai além do carro elétrico.
“O futuro não é elétrico, é eclético”, disse. Ele destacou os avanços da indústria nacional no desenvolvimento de motores flex, movidos a etanol e gasolina, e observou que ainda há dificuldade para outros países compreenderem a importância do uso do etanol nos veículos brasileiros.
Calvert também ressaltou que o setor de transporte não é o principal responsável pelas emissões no Brasil. “Apenas 13% das emissões vêm do transporte, mas é um percentual relevante, e estamos trabalhando para reduzi-lo”, enfatizou.
*A jornalista viajou a convite do Fórum Nordeste