Série B

Ituano e Vasco duelam por acesso em "final" dos pontos corridos da Série B

Com ingressos esgotados três dias antes do jogo, julgamento adiado e alteração em grade horária da transmissora oficial, batalha final da segundona vale narrativas históricas

Paulo Martins*
postado em 06/11/2022 06:00
Uma das figuras vindas da base em 2022, Figueiredo (foto) é um dos encarregados de aliviar a enorme tensão na massa vascaína, contra o Ituano -  (crédito:  Daniel Ramalho/Vasco)
Uma das figuras vindas da base em 2022, Figueiredo (foto) é um dos encarregados de aliviar a enorme tensão na massa vascaína, contra o Ituano - (crédito: Daniel Ramalho/Vasco)

A ideia de um simples acesso já não passa mais pela cabeça de torcedores de Ituano e Vasco. O confronto direto entre paulistas e cariocas, válido pela 38ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, ganhou status de “final de Copa do Mundo” ao compromisso. Neste domingo (6/11), no Estádio Novelli Júnior, o Galo e o Cruzmaltino jogam a vida para estar na Série A de 2023. Em casa, os paulistas necessitam de uma vitória simples para chegar na elite do futebol nacional pela primeira vez em sua história. Qualquer resultado oposto serve para o regresso dos cariocas à primeira divisão.

A batalha, por si só, traz uma rica narrativa para quem conseguir o tão sonhado acesso. O Ituano vem em franca ascensão na reta final e lida, de forma previamente inesperada, com o maior compromisso de sua história, equiparando-se à final do Campeonato Paulista de 2014, quando os rubro-negros bateram o Santos nos pênaltis em pleno Pacaembu. O tamanho do jogo se traduz na primeira vez de um confronto direto da última rodada valer vaga de acesso.

Para se ter uma noção da importância da partida, a própria representação local declarou ingressos esgotados na tarde da última quinta-feira (3/11), tamanha a história formada para o compromisso final da Segundona. Até mesmo a TV aberta sofreu uma alteração em sua grade horária, com a Globo optando por transmitir o jogo do começo da noite, sem apresentar o futebol no seu tradicional horário de domingo, costumeiramente às 16h.

O conjunto de jogo do Ituano passa, sobretudo, por seu novo comandante, sendo o destaque geral a partir da casamata. Desde a posse na prancheta dos paulistas, o técnico Carlos Pimentel fez do Galo, outrora uma equipe de meio de tabela, um postulante à promoção histórica. Em números, seu efeito é simples e claro: a partir de sua liderança, na 18ª rodada, com sua esquadra no 15º lugar, se somaram à campanha 11 vitórias, seis empates e apenas três derrotas. Em condição mandante, os índices devem preocupar os vascaínos, com oito triunfos e apenas uma igualdade no segundo turno.

"Esta semana foi diferente. Recebemos muitas mensagens. Dorme pensando no jogo, vem para o clube e falamos sobre o jogo. Nesta semana, só se fala deste jogo. Último do campeonato. Vamos estar focados. Chegamos com chances. O futebol de todos foi crescendo neste returno. A importância de decidir em casa é muito grande porque temos um retrospecto positivo. Isto é muito bom", ressaltou Aylon, artilheiro do Ituano na Série B com seis gols.

Para o Vasco, um jogo pode designar os destinos da história recente do clube, vivida dramaticamente nos últimos tempos com uma inédita permanência na segunda divisão, na temporada passada, a mudança de sistema administrativo com a introdução da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e um marco dentro de uma era complicada no Século XXI.

Os altos e baixos, restringindo-se aos acontecimentos de 2022, bastam para enriquecer o enredo do lado da representação da Colina Histórica. Até o momento, pode-se dizer que a alteração no modelo de gestão e a descoberta de bons atletas das categorias de base são as recordações positivas do vascaíno neste ano.

Entretanto, a repentina saída de Zé Ricardo após bom começo de campeonato e a seguida instabilidade com os técnicos Emílio Faro e Maurício Souza fizeram o time viver uma verdadeira gangorra dentro do G-4, sempre com a preocupação em cair da parte alta, local da ascensão à elite nacional para 2023.

E a preocupação dos torcedores não se trata da situação na atual temporada ou com a edição seguinte, senão um momento conturbado e de pouca competitividade para uma das instituições mais vencedoras e históricas do esporte no país.

Após a derrota para o Sampaio Corrêa, quando o Vasco perdeu a chance de garantir o acesso antecipado, o técnico Jorginho desabafou. "Sabemos que vai ser muto difícil. Uma batalha, literalmente. Mas acredito muito no elenco. Ao mesmo tempo que a gente perdeu o primeiro jogo em casa no ano, não tínhamos uma virada há mais de 400 dias. Esse é o futebol. A gente tem que acreditar sempre, colocar a coisa para cima. Sentimos muito a derrota, mas ela nos ensina. Já vivi muitas situações como essa e assumo a responsabilidade. Nós vamos subir", garantiu.

Os apuros cruzmaltinos

2008 — O primeiro rebaixamento da história do clube veio com comandos ineficazes, tendo em Renato Portaluppi seu autor final, após as passagens instáveis e decadentes de Antônio Lopes (herói no centenário, com a conquista da América) e Tita. A equipe segurou a lanterna daquela Série A em meio a uma sequência de seis derrotas, entre as rodadas 23 e 28.

2009 — Com comando uno e ininterrupto de Dorival Júnior, o Almirante conseguiu rumar para mares mais calmos, com o título da Série B. Foi custoso somente a primeira metade do turno inicial, com a entrada definitiva no G-4 no 11º jogo. Sem estar em momento algum abaixo do oitavo posto, os cariocas tomaram a liderança em seu 16º compromisso para não mais sair.

2010 — O temor do descenso voltou à tona nas partidas iniciais da temporada de retorno à elite. Nas sete primeiras rodadas, a equipe chegou a contar com os serviços de Gaúcho e Celso Roth no banco de suplentes, levando os Cruzmaltinos à parte final da classificação. Somente com PC Gusmão, a partir do 8º duelo, a estabilidade veio para ficar, assim como o Vasco na primeira divisão.

2011 — Os novos ajustes internos permitiram a competitividade dos cariocas na competição. Superado o ano de transição, com o comando inicial de Ricardo Gomes e de Cristóvão Borges em seguida, a equipe foi líder em sete das 19 rodadas do returno, mas perdeu a taça na última partida ao empatar sem gols no Clássico dos Milhões contra o Flamengo e ver o Corinthians campeão.

2012 — Após nova queda diante do alvinegro paulista, desta vez no cenário continental, o sucesso não foi repetido na Série A, mesmo com uma larga campanha dentro do G-4. O desempenho caiu gradativamente, sem mais conseguir voltar à ponta da tabela e assim disputar a principal copa das Américas.

2013 — Paulo Autuori, Dorival Júnior, Ricardo Gomes e Adilson Batista, este último por duas vezes: estes foram os nomes que passaram pela prancheta cruzmaltina na segunda queda histórica. Mesmo entrando em campo no compromisso final fora da zona de rebaixamento, em partida realizada em Joinville, a batalha campal protagonizada por torcidas organizadas ofuscou os 5 x 1 sofridos contra o Athletico-PR.

2014 — Na maluca Série B de 2013, o retorno vascaíno se deu sem título, fechando a competição no terceiro lugar. Este foi o primeiro acesso com riscos na reta final do campeonato, concretizado em recordado triunfo na 35ª rodada, diante do Ceará, no Maracanã.

2015 — Em dito ano foi quando o Vasco e o técnico Jorginho se encontraram pela primeira vez, no que diz respeito à definição no grau das categorias. Sendo o comandante desde o jogo de abertura do segundo turno, a recuperação foi tarefa dificílima, com o clube ficando na zona da degola desde a terceira partida do torneio.

2016 — Bancado e mantido pela diretoria, o atual treinador da esquadra carioca comandou mais uma volta para a primeira divisão. A esta altura, mais importava recuperar a vaga na elite, mesmo perdendo o título ao liderar 26 datas da competição, com a volta no terceiro posto, mais uma vez.

2017 — A última classificação do Cruzmaltino à Libertadores se deu em seu terceiro regresso, após Zé Ricardo suceder um instável Milton Mendes no comando técnico. O time fechou a competição com o sétimo lugar e uma vaga na fase preliminar da copa continental.

2018 — A bagunça na dança das cadeiras em São Januário quase custa outro descenso para os cariocas. Zé Ricardo, Jorginho e Valdir fizeram parte da rotação até a assunção de Alberto Valentim, mantido desde a 22ª rodada até a sofrida permanência nas partidas finais.

2019 — O sucesso na manutenção da categoria com um elenco já duvidoso foi possível através de uma mão experiente em um de seus últimos trabalhos na carreira. Vanderlei Luxemburgo tomou a prancheta cruzmaltina no quinto jogo do campeonato, com campanha que rendia a lanterna, naquela altura, levando a formação carioca à Copa Sul-Americana.

2020 — Seguir na elite não foi tarefa possível na temporada pandêmica. Mais uma vez, a confusão com o comandante foi pauta, com a ineficácia nos trabalhos de Ramon Menezes e Ricardo Sá Pinto. Vanderlei Luxemburgo teve duas passagens durante a competição, mas sem obter o sucesso do ano anterior, levando ao quarto descenso vascaíno na história.

2021 — À priori, era possível crer em um pronto regresso do Vasco para a Série A. O que foi exibido em campo, entretanto, não seguiu a teoria nem com Marcelo Cabo, nem com Lisca e nem com Fernando Diniz. Com isso, a primeira permanência na Série B da história institucional se torna uma página das mais infelizes em mais de 120 anos.

2022 — A desordem na parte administrativa levou a nova junta a tentar alterar os fatos, levando à criação da SAF. Nas quatro linhas, a instabilidade no G-4 transformou um acesso tranquilo em um filme de suspense, decidido em um confronto extremamente decisivo para o clube, em uma cidade onde os objetos são enormes, provando o tamanho necessário a se provar com a camisa da Cruz de Malta no gramado do Novelli Júnior.

Prováveis escalações

Ituano
Filipe Costa; Raí, Carlão, Rafael Pereira e Roberto; Caíque, Lucas Siqueira, Vinícius Paiva, Lucas Nathan e Gabriel Barros; Aylon.
Técnico: Carlos Pimentel

Vasco da Gama
Thiago Rodrigues; Léo Matos, Danilo Boza, Anderson Conceição e Paulo Victor; Andrey Santos, Marlon Gomes, Figueiredo e Nenê; Alex Teixeira e Eguinaldo.
Técnico: Jorginho

Horário: 18h30
Arbitragem: Wilton Pereira Sampaio (GO)
Transmissão: Globo e Premiere

*Estagiário sob supervisão de Danilo Queiroz

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