COPA DO MUNDO

Com confronto Irã-EUA, política volta ao centro da Copa do Mundo

Até o jogo de hoje, as seleções dos dois países, que não mantêm relações diplomáticas, já se enfrentaram duas vezes na história do futebol

Agence France-Presse
postado em 29/11/2022 16:05 / atualizado em 29/11/2022 16:05
 (crédito: ODD ANDERSEN / AFP)
(crédito: ODD ANDERSEN / AFP)

A partida não é considerada um grande duelo para o mundo do futebol, mas o confronto Irã-Estados Unidos, nesta terça-feira (29/11), será um dos pontos altos da Copa do Mundo de 2022 no Catar, com muito mais do que a classificação para as oitavas de final em jogo.

Até o jogo de hoje, as seleções dos dois países, que não mantêm relações diplomáticas, já se enfrentaram duas vezes na história do futebol.

Se um amistoso que terminou em 1-1 em 2000 foi rapidamente esquecido, o outro confronto permanece na memória: o "jogo da fraternidade", na Copa do Mundo de 1998, na França, vencido pelo Irã por 2-1, em um clima de efervescência em Lyon.

Disputado em um contexto de degelo entre o Ocidente e a República Islâmica, houve, no jogo, gestos de irmandade entre as duas equipes, que se misturaram para posarem juntas para a foto oficial da partida, trocando flores e bandeiras.

O contexto atual é mais tenso, com a repressão de protestos no Irã, e no âmbito de uma Copa do Mundo onde, apesar dos esforços da Fifa para evitar isto, os gestos políticos chegaram ao gramado.

Nesta terça-feira, o cidadão italiano que invadiu o campo na noite anterior durante o jogo Portugal-Uruguai com uma bandeira do arco-íris e uma blusa em apoio da Ucrânia e das mulheres iranianas foi libertado "sem consequências".

"Depois de uma breve detenção" em algum local que não foi especificado, o homem identificado como Mario Ferri, nascido em 1987, "já foi liberado pelas autoridades sem consequências", informou o Ministério das Relações Exteriores da Itália, confirmando informações obtidas de uma fonte local pela AFP.

Sob a lupa do mundo 

O protesto de Ferri concentrou ainda mais a atenção no Irã-EUA, a partida com maior carga política na fase de grupos da Copa do Mundo.

Os jogadores competem no Catar escrutinados por todo planeta. Antes de cada uma das duas primeiras partidas, tiveram de lidar com perguntas, às vezes, repetitivas da imprensa ocidental.

Vão-se abster de cantar seu hino para mostrar seu apoio aos manifestantes, como fizeram contra a Inglaterra, mas não contra o País de Gales? Vão comemorar seus gols? Farão gestos simbólicos para denunciar a repressão?

Vários jogadores, especialmente o craque Sardar Azmoun, um dos heróis da vitória sobre os galeses na partida anterior (2-0), denunciaram a repressão nas redes sociais. Mas muitos simpatizantes dos manifestantes reprovam as atitudes da seleção, como quando foi recebida pelo presidente ultraconservador Ebrahim Raissi antes de sua viagem para Doha.

Ao observar que seus jogadores estavam travados pela pressão – já que o que quer que eles fizessem, receberiam críticas –, seu veterano técnico, o português Carlos Queiroz, tem procurado concentrar a partida de hoje apenas na vertente esportiva.

E isso já é considerável: um empate pode ser o suficiente para o Irã garantir sua primeira classificação para as oitavas de final de uma Copa do Mundo, em sua sexta participação.

A seleção americana, que precisa de uma vitória para avançar, também está focada no jogo. Mas sua federação contribuiu, ao longo do fim de semana, para acentuar a dimensão política do duelo.

Em sua conta no Twitter, a seleção americana fez uma modificação na bandeira iraniana em um gesto justificado como "solidariedade com as mulheres no Irã". A bandeira oficial foi recuperada pouco depois.

"Não é algo com que tivemos relação", disse o técnico Gregg Berhalter, ao se desculpar em nome da equipe.

O secretário de Estado americano, Anthony Blinken, também afirmou nesta terça-feira que se trata apenas de um encontro esportivo.

"Vamos deixar os atletas fazerem o que têm de fazer", disse ele em uma reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Bucareste.

"Não acho que haja qualquer aspecto geopolítico em particular (...) Temos o que deve ser um jogo competitivo e vamos deixar o jogo falar por si só", afirmou.

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