Rei Pelé

Mazolla relembra o dia que prometeu tirar do time quem tentasse agredir Pelé

Campeão mundial em 1958 ao lado de Pelé, José Altafini — o Mazzola — contou ao Correio, em 2010, a história do dia em que o treinador do combinado italiano Sampdoria/Genoa ameaçou tirar do time quem agredisse o seu ídolo

Marcos Paulo Lima
postado em 01/01/2023 06:00
 (crédito:  José Varella/CB/D.A Press)
(crédito: José Varella/CB/D.A Press)

Unir dois arquirrivais da mesma cidade com uma mesma camisa seria combustível para o início de uma guerra em Gênova, na Itália. Mas, naquele 29 de setembro de 1969, não foi assim. O Santos só tinha uma data disponível na agenda para um amistoso contra Sampdoria ou Genoa. Como nenhum dos dois clubes abriu mão, o jeito foi anunciar um combinado para enfrentar Pelé, Coutinho & Cia.

Coube ao pacificador romano Fulvio Bernardini a tarefa de escalar o time. O técnico da Sampdoria não só topou a missão como quebrou o clima de rivalidade com uma preleção inusitada. "Quem me contou essa história foi um amigo meu aqui na Itália chamado Francesco Morini. Segundo ele, o Fulvio Bernardini chegou para o time e disse: 'Olha aqui, não quero saber de violência. Estou aqui hoje para ver o Pelé jogar. E vou logo avisar, se alguém bater nele eu tiro do time na mesma hora'", revelou, em entrevista ao Correio, em 2010, José João Altafini, o Mazzola, campeão mundial em 1958 com a Seleção Brasileira e, à época, atuava como comentarista esportivo na tevê italiana.

A ordem de Fulvio Bernardini foi cumprida ao pé da letra. Quer uma prova? O Santos venceu o jogo por 7 x 1! Livre, leve e solto, o blindado Pelé marcou duas vezes antes de deixar o campo aplaudido para ser substituído por Douglas. Djalma Dias também fez dois. Nenê, Negreiros e Léo completaram a aula de futebol-arte. O medo do técnico Fulvio Bernardini era tamanho que até o gol do combinado foi contra. Turcão marcou para o dueto Sampdoria/Genoa.

Apesar do bom comportamento, a obediência não foi recompensada pelo técnico. Fulvio Bernardini premiou os reservas. Trocou praticamente a equipe inteira durante a partida. No total, houve sete substituições, segundo a ficha técnica disponibilizada à reportagem pelo historiador oficial do Santos, Guilherme Gauche. "Todo mundo foi para casa feliz", brincou Mazzola.

Mazzola colocou assinatura junto a pegada em placa de cimento para ser eternizada em calçada da fama, durante homenagem aos 50 Anos da conquista da Copa do Mundo de 1958, em Brasília
Mazzola colocou assinatura junto a pegada em placa de cimento para ser eternizada em calçada da fama, durante homenagem aos 50 Anos da conquista da Copa do Mundo de 1958, em Brasília (foto: José Varella/CB/D.A Press)

Visão italiana

Segundo Mazzola, o gol mais impressionante marcado por Pelé na ótica dos italianos é o primeiro do Brasil na final da Copa do Mundo de 1970, no México. A Squadra Azzurra foi a vítima. "Aqui na Itália, eles dizem que o Pelé parou no ar antes de cabecear o cruzamento do Rivellino no canto esquerdo do goleiro Albertosi. Recorreram até a jogadores de basquete para comprovar a tese. Realmente é um gol magnífico. Alguns chegam a dizer que o Michael Jordan (ex-Chicago Bulls, considerado o Pelé do basquete) aprendeu a levitar com o Rei", divertiu-se Mazzola.

"Aqui na Itália, eles dizem que o Pelé parou no ar antes de cabecear o cruzamento do Rivellino no canto esquerdo do goleiro Albertosi. Recorreram até a jogadores de basquete para comprovar a tese. Dizem que Michael Jordan aprendeu a levitar com o Rei", contou Mazzola, campeão mundial em 1958

Saiba mais

Trajetória do craque

Mazzola deixou o futebol brasileiro em 1958. O Milan desembolsaria um bom dinheiro para levá-lo aos gramados italianos. E o investimento valeu a pena. Com a camisa rossonera, e atuando com o nome de Altafini, o jogador ítalo-brasileiro comemorou três títulos nacionais (59, 62 e 68), além da cobiçadas Copa dos Campeões, atual Liga dos Campeões (69) e Recopa da Europa (68). Na Itália, Altafini jogou também na Juventus, sagrando-se mais uma vez campeão nacional (1972) e no Napoli.

Três perguntas para…

Você e o Pelé eram os mais novos da Seleção Brasileira de 1958. O que os diferenciava?

Eu sou de 1938 e ele era de 1940. Portanto, sou dois anos mais velho. Mas, quando treinávamos juntos antes do Mundial, parecia que eu tinha 17 anos e ele 25. Eu brincava de jogar bola e ele já jogava muito bem. Era muito mais compenetrado do que eu, impressionante.

Em qual jogo ele conquistou o mundo?

Quando vencemos a França nas semifinais. Ele fez três gols e os franceses ficaram maravilhados. Para mim, o grande protagonista dos títulos mundiais de 1958 e 1962 foi o Garrincha, mas o Pelé impressionou por fazer tudo aquilo aos 17 anos, como se fosse um trintão. Depois ele fez mais dois na final, contra a Suécia, mas se você for ver, o Garrincha abriu as portas de todos os jogos pelos espaços que conseguiu nas defesas adversárias para que nós pudéssemos aproveitar.

Você jogou 18 anos no futebol italiano e mora na Itália. Por que o Pelé nunca jogou aí?

Não foi por falta de tentativa. Nos sete anos em que eu joguei no Milan, cansei de ouvir que a nossa rival, Internazionale, mandou várias e várias propostas para o Santos, mas ele e o clube recusaram todas. Mas eu entendia o motivo. Pelé era e continuará sendo para sempre um patrimônio do Brasil.

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