FUTEBOL

Lições de Ronaldinho Gaúcho, Robinho e Neymar ao futuro de Vini Jr

Entenda o que Vinicius Junior, novo protagonista da cobiçada ponta canhota da Seleção, precisa aprender com os antecessores para evitar zona de conforto, driblar arapuca dos rivais e dar equilíbrio ao Brasil

Marcos Paulo Lima
postado em 25/03/2023 06:00
 (crédito: Pierr-Philippe Marcou/AFP)
(crédito: Pierr-Philippe Marcou/AFP)

O inédito início do ciclo para a Copa do Mundo sem Neymar, em 13 anos, apresenta ao respeitável público do Brasil um novo candidato a malvado favorito para a caça ao hexa em 2026, no Canadá, nos Estados Unidos e no México. Referência do país na Europa no papel de protagonista do Real Madrid, Vinicius Junior, de 22 anos, pode começar a deixar de ser coadjuvante da Seleção, hoje, às 19h (de Brasília), contra Marrocos, no Estádio Ibn Batouta, em Tânger. Sem técnico há 106 dias depois da eliminação nos pênaltis contra a Croácia, no Catar, o time será comandado pelo interino Ramón Menezes — mentor do sub-20.

Vinicius Junior assume o papel de astro da companhia em um setor marcado por virar zona de conforto. Ronaldinho Gaúcho, Robinho e Neymar alugaram a ponta-esquerda, mas todos cometeram o erro de ficar reféns dela. Não conseguiram se reinventar longe do pedacinho de campo preferido. Por diversas vezes, o sistema de jogo da Seleção ficou sobrecarregado devido à dificuldade dos extremos para cumprir outras funções (leia três lições ao lado).

A desobediência e às vezes displicência de Vinicius Junior na recomposição virou dilema para Tite. O treinador desembarcou no Catar em dúvida se iniciaria a competição com ele aberto na canhota ou Fred reforçando a marcação no meio. O ex-técnico optou por Vini e Raphinha abertos e Richarlison centralizado no papel de centroavante.

Tite não se mostrava convicto. Angustiado com o desequilíbrio tático, substituía Vini e frustrava parte da torcida. O atacante dividiu o protagonismo com o volante Casemiro durante a lesão de Neymar. Foi quem deu uma disputada entrevista coletiva com direito a invasão de gato no balcão dois dias antes da eliminação diante da Croácia. Jogava bem até ser trocado por Rodrygo no segundo tempo na nova recaída de um inseguro Tite. Ele queria reforçar a marcação. Era assim desde as Eliminatórias, quando foi acusado de transformar Vinicius Junior em secretário do lateral Alex Sandro na vitória por 1 x 0 contra o Chile, em Santiago. Vini deu lugar a Everton Ribeiro.

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vinicius juniror selecao cbf (foto: kleber sales/CB)

No novo ciclo, a expectativa é de que o ponta tenha a liberdade das exibições pelo Real Madrid, porém, ele ganhou um antídoto no Barcelona. O zagueiro-lateral uruguaio Ronald Araujo aprendeu a deter Vini. Ambos têm travado duelos duríssimos a cada Superclássico. O mano a mano tem desafiado o atacante a circular mais pelo gramado em busca de espaço. A tendência é piorar. O duelo do dia é com o exclente lateral-direito marroquino Hakimi do Paris Saint-Germain.

"Sempre venho trabalhando para estar preparado o quanto antes para qualquer responsabilidade que eu venha a ter em campo para ajudar a minha equipe", disse Vini na entrevista de ontem. No Real, ele é o par de Benzema. Na Seleção de Ramón, atuará aberto na esquerda. Vítor Roque e Rodrygo vão se revezar como centroavantes.

Guru

A chance de Vini virar o cara da Seleção neste ciclo aumenta diante da possibilidade de Carlo Ancelotti assumir a Seleção. O italiano é o mentor da evolução da estrela. Autor do gol do título do Real contra o Liverpool na final da última Champions League, ele divide a artilharia do time na temporada com Bezema. Ambos ostentam 19 gols. O brasileiro se diferencia do francês nas assistências: oito contra apenas um passe decisivo do companheiro.

"O Ancelotti é o melhor técnico que eu tive na carreira, sempre tenho um carinho grande por ele e ele por mim. Sei que não só aqui, mas também no Real ele vai me ajudar", comentou sobre o italiano — o preferido do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, para assumir a prancheta no meio deste ano.

Em solo africano, Vini tem uma missão além do peso do protagonismo: a luta contra o racismo. Perseguido nos estádios da Espanha, ele insiste em responder na bola. "É sempre muito complicado falar sobre o racismo, mas eu estou amadurecendo para falar melhor sobre o assunto. Eu e a minha família estamos pensando em fazer um projeto antirracista para as crianças pretas do Brasil que sofrem com isso e nem todas podem ter a cabeça que eu tenho."

Três lições para Vini

Ronaldinho Gaúcho

Coadjuvante na conquista do penta, em 2002, era meia. Eleito melhor do mundo em 2004 e 2005, vira ponta esquerda no Barcelona de Frank Rijkaard. O papel de armador ao lado de Kaká no quadrado mágico de Parreira na Copa de 2006 deixa o craque desconfortável e aquém do que havia rendido na conquista do time catalão na Champions contra o Arsenal. Nem meia nem ponta. O potencial acaba desperdiçado.

Robinho

Pede passagem para assumir a ponta-esquerda na conquista da Copa das Confederações de 2005, amarga a reserva na Copa da Alemanha, em 2006, e assume o protagonismo em 2010, na África do Sul. Parceiro do centroavante Luis Fabiano no ataque, vira o dono do cobiçado pedaço na gestão de Dunga. Com a ascensão de Neymar, começa a perder terreno na extrema esquerda e fica fora da Copa de 2014.

Neymar

Assume a ponta esquerda depois da Copa de 2010 no ciclo para 2014. Para dar liberdade ao craque, Felipão e Tite descompensaram a defesa. Neymar e Marcelo eram o atalho para os os adversários. Gabriel Jesus foi condenado a marcar. No Catar, Tite usou o camisa 10 com meia a fim de dar brecha a Vinicius Junior.

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