Racismo

Além das quatro linhas: entenda como o caso Vini Jr repercutiu no governo

Novo caso envolvendo Vinicius Junior na Espanha mobiliza autoridades brasileiras em prol de resolução definitiva. Presidente, ministérios e Itamaraty cobram soluções definitivas para a injúria

Danilo Queiroz
Talita de Souza
Vinicius Doria
postado em 23/05/2023 06:00
 (crédito: Reprodução/Twitter @vinijr)
(crédito: Reprodução/Twitter @vinijr)

O mais novo episódio racista contra o atacante brasileiro Vinicius Junior foi muito além das quatro linhas do Estádio Mestalla e, finalmente, ganhou status de questão de estado. Entre domingo, dia das ofensas proferidas pela torcida do Valencia contra o camisa 20 do Real Madrid, e na segunda-feira (22/5), diversos entes governamentais saíram em defesa do atleta. Os posicionamentos começaram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passaram por cobrança oficial do Itamaraty a autoridades espanholas e culminaram em nota oficial de vários entes ministeriais.

Do Japão, de onde participa da cúpula do G7 — encontro de algumas das maiores economias do mundo —, Lula abriu uma entrevista coletiva cobrando ações contra o racismo frequente sofrido por Vini na Espanha. "É importante que a Fifa e a liga espanhola tomem sérias providências, porque nós não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol", pontuou. Ainda no domingo, o Ministério da Igualdade Racial garantiu o envio de uma notificação às autoridades espanholas. Em 10 de maio, Brasil e Espanha assinaram um acordo bilateral para o combate ao racismo e à xenofobia.

O documento teve a assinatura da ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco. Na segunda-feira (22/5), ela foi mais um ente governamental a pedir providências definitivas contra a situação. Anille garantiu contato do governo com as autoridades espanholas por ações concretas. "Não dá para ficar só em nota de repúdio", reclamou. "O Vinicius tem sido xingado. A gente vê no Brasil, especificamente, como os casos de racismo se resolvem, infelizmente. E não queremos que isso chegue a uma escala muito maior que já está. Isso é um basta", emendou.

Bilateralmente, a diplomacia brasileira agiu e contatou a Embaixada da Espanha no Brasil. Pela manhã, a ideia era convocar a embaixadora María del Mar Fernández-Palacios a prestar esclarecimentos de forma presencial. Porém, como a diplomata está no exterior, a solução foi um telefonema. Do outro lado da linha, a embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty, manifestou repúdio e solicitou informações sobre as ações do governo espanhol para coibir a série de ataques. "A situação exigia gesto forte", declarou um diplomata brasileiro, ao Correio.

Inicialmente, o governo espanhol pretende propor uma campanha contra o racismo e a xenofobia. A ação de conscientização convocará a federação espanhola de futebol, além dos capitães dos clubes e de membros de La Liga. Os apelos diplomáticos brasileiros também chegaram até o primeiro-ministro Pedro Sánchez. O premiê compartilhou um tuíte com um comunicado do Ministério da Cultura e Esporte condenando os insultos racistas recorrentes no futebol do país. Incisivo, garantiu "tolerância zero", mas não indicou possíveis punições ou medidas.

Na noite de segunda-feira (22/5), em ação coordenada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com grupo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o Cristo Redentor apagou as luzes em solidariedade a Vinicius Junior. O jogador, natural do Rio de Janeiro, agradeceu o apoio e garantiu que continuará brilhando para excluir, de vez, o racismo do futebol mundial. "Tenho um propósito na vida e, se eu tiver que sofrer mais e mais para que futuras gerações não passem por situações parecidas, estou pronto e preparado."

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