COPA FEMININA

Copa do Mundo expõe disparidade no futebol feminino

Assim como há seleções que participam regularmente de torneios regionais, outras têm poucas oportunidades para jogar

Agence France-Presse
postado em 01/08/2023 16:12
As diferenças foram visíveis em vários jogos, como na goleada do Brasil sobre o Panamá por 4 a 0, apesar de o técnico panamenho Ignacio Quintana ter afirmado que sua equipe jogaria o duelo
As diferenças foram visíveis em vários jogos, como na goleada do Brasil sobre o Panamá por 4 a 0, apesar de o técnico panamenho Ignacio Quintana ter afirmado que sua equipe jogaria o duelo "de igual para igual" - (crédito: Thais Magalhães/CB)

A Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, que pela primeira vez reúne 32 seleções, expôs as grandes disparidades entre equipes cujas jogadoras competem em torneios de alta exigência e aquelas que jogam em ligas semiprofissionais e até amadoras.

Assim como há seleções que participam regularmente de torneios regionais, outras têm poucas oportunidades para jogar.

As diferenças foram visíveis em vários jogos, como na goleada do Brasil sobre o Panamá por 4 a 0, apesar de o técnico panamenho Ignacio Quintana ter afirmado que sua equipe jogaria o duelo "de igual para igual".

"Infelizmente nos falta muito para trabalhar no nosso futebol feminino, para que tenhamos uma melhor liga, para que possamos competir", lamentou a volante Natalia Mills.

"Estamos aqui fazendo o que podemos", afirmou Mills, que joga no Alajuelense de Costa Rica.

Depois de jogar três eliminatórias, Mills finalmente conseguiu a classificação para o Mundial depois de uma repescagem contra Paraguai e Papua-Nova Guiné. Segundo ela, as condições mudaram desta vez.

"Foi duro, esta é a primeira vez que temos excursões, temos amistosos. Primeira vez que podemos dar nossa camisa para trocar depois dos jogos. Nunca tivemos isso", lembrou a panamenha.

Muitos comentaram no torneio que as diferenças técnicas diminuíram, citando o fato de que já não se vê mais goleadas acachapantes como os 13 a 0 dos Estados Unidos sobre a Tailândia em 2019, ou os 10 a 0 da Alemanha sobre a Costa do Marfim em 2015.

Mas algumas seleções que sofreram goleadas menores reconhecem que chegaram ao Mundial sem grandes perspectivas de ir longe no torneio.

"Estamos aqui para aprender, precisamos de um pouco mais de experiência e qualidade", reconheceu Reynald Pedros, técnico da seleção do Marrocos, estreante nesta Copa do Mundo, derrotada por 6 a 0 pela Alemanha.

No entanto, sua equipe foi responsáveis por uma das surpresas do torneio, ao vencer por 1 a 0 a Coreia do Sul, finalista da Copa da Ásia de 2022.

O gato e o rato

Depois de perder os dois primeiros jogos da Copa, o técnico do Vietnã, Mai Duc Chung, reconheceu: "As derrotas demonstram que as jogadoras ainda têm muito a melhorar e aprender no futuro".

Curiosamente, Chung culpou pelos maus resultados suas comandadas, que "não seguiram a estratégia ao pé da letra (...) Elas pensaram que podiam ganhar e atacaram, deixando muito espaço, o que Portugal aproveitou".

O Vietnã foi goleado nesta terça-feira pela Holanda (7 a 0), depois de perder por 3 a 0 para os Estados Unidos e por 2 a 0 para Portugal nos dois primeiros jogos.

Um dos que destacou a redução das distâncias entre as equipes foi o técnico da Espanha, Jorge Vilda, que apontou "resultados muito equilibrados e seleções que são candidatas com dificuldades para vencer adversários a princípio de nível mais baixo".

"Estamos vendo o Mundial de maior nível e o mais equilibrado" afirmou Vilda, cuja equipe venceu a Zâmbia por 5 a 0 e a Costa Rica por 3 a 0.

Neste último confronto, as jogadoras espanholas destacaram que a Costa Rica povoou sua própria área para evitar uma derrota maior.

O jornalista esportivo costarriquenho Rodrigo Calvo disse que essa estratégia aplicada por Costa Rica e Panamá, de conter o adversário para evitar goleadas, é a mesma utilizada na Concacaf contra Estados Unidos (campeão mundial) e Canadá (campeão olímpico).

"A competição nesta área é de gato contra rato", afirmou Calvo, que apontou que a maioria das jogadoras costarriquenhas e várias panamenhas atual na liga da Costa Rica ou em seu próprio país, que tem uma "liga amadora".

O jornalista citou as exceções da Jamaica, que tem várias jogadoras da liga inglesa, e do Haiti, com muitas atletas que atuam na França, duas seleções que aumentaram seu nível para competir com Estados Unidos e Canadá na Concacaf.

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