Eliminatórias

Sinal vermelho para Antony na Seleção vem após CBF pagar para ver

Atacante é desconvocado da Seleção Brasileira após acusação de violência doméstica. Investigado pela Polícia Civil de São Paulo, o jogador de 23 anos do Manchester United foi denunciado pela ex-namorada, mas nega agressão

Antony 0509 -  (crédito: Caio Gomez)
Antony 0509 - (crédito: Caio Gomez)
Marcos Paulo Lima
postado em 05/09/2023 06:00

Há dois anos, quando afastou Rogério Caboclo da presidência por acusações de assédios sexual e moral a uma funcionária, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) escolheu um caminho sem volta: o combate à violência contra a mulher. Esse argumento seria suficiente para a entidade dar um sinal vermelho à convocação do atacante Antony na primeira lista de Fernando Diniz para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, mas a cúpula e o técnico interino escolheram, desastrosamente, pagar para ver.

Acusado de envolvimento em manipulação de resultados, Lucas Paquetá foi retirado da lista, minutos antes da divulgação, e trocado por Raphael Veiga. Antony, não. Investigado pela Polícia Civil de São Paulo por agressão à ex-namorada, a DJ Gabriela Cavallin, o atacante do Manchester United ficou na relação. Ontem, viajava ao Brasil para se apresentar quando foi oficialmente desconvocado pela CBF.

O caso envolvendo o atacante do Manchester United vem à tona dois anos após a ação "Sinal Vermelho" se tornar programa nacional de combate à violência contra a mulher através da Lei 14.188/2021. Na campanha, a letra X escrita na mão da vítima, preferencialmente na cor vermelha, funciona como um sinal de denúncia da situação. No Brasil, Gabriela tem uma medida de proteção contra o jogador. A decisão impede Antony de se aproximar ou tentar contato. Na sexta-feira, a DJ e influencer deu entrada em uma acusação na polícia de Manchester, na Inglaterra.

Quando fez a convocação, Fernando Diniz ainda não tinha detalhes das denúncias contra o jogador. Na época, tratou o caso como no começo. "Antony é uma coisa muito incipiente, e por ora, sei disso. Vou parar por aí, não vou discorrer sobre o assunto porque ainda é pouco para falarmos agora. Todo mundo que comete algo errado tem que pagar. Mas não temos que levantar essa questão o tempo todo. Temos os órgãos competentes para apurar esse tipo de coisa", justificou.

Porém, havia vários argumentos para a CBF ligar o sinal vermelho para Antony. Em 2019, a denúncia de estupro contra Neymar minou o ambiente da Seleção Brasileira no amistoso contra o Catar, em Brasília, antes da Copa América. Os casos de Robinho e de Daniel Alves também tiveram repercussão negativa, embora não respingassem diretamente na equipe. Nem mesmo o episódio recente Luis Rubiales, na Espanha, fez a entidade recalcular o risco da manutenção do atacante entre os convocados para as Eliminatórias da Copa do Mundo.

As provas contra o jogador passaram de "incipientes" a veementes na apresentação de ontem, em Belém. A aparente tranquilidade no Grand Mercure, hotel localizado na avenida Nazaré, no centro da capital paraense, contrastava com a viralização da reportagem publicada, na manhã de ontem, pelo UOL. Mensagens, fotos e áudios inéditos apontam ameaças do jogador à ex-namorada. Gabriela Cavallin o acusa de agressões físicas e utiliza as provas para endossar a versão, totalmente rechaçada por Antony em comunicado.

A matéria foi publicada às 4h de segunda-feira, quando a comissão técnica e quatro jogadores tinham terminado de fazer check-in, um pequeno lanche e se acomodado nos quartos. Da postagem em diante, Fernando Diniz e a CBF demoraram 13 horas e 24 minutos para tomar a decisão, publicada no site da entidade às 17h24 de ontem.

Acuados, Diniz e a CBF afinaram o discurso. O técnico, inclusive, teve voz ativa na concretização da dispensa do jogador dos compromissos iniciais das Eliminatórias. Enquanto o técnico comunicava Antony sobre o corte em pleno deslocamento da Inglaterra para o Brasil, o presidente Ednaldo Rodrigues tomava as rédeas da situação. Exigia perícia nas próximas convocações e liberava a publicação de uma nota oficial no site, na tentativa de amenizar um estrago evitável.

"Em função dos fatos que vieram a público envolvendo o atacante Antony, do Manchester United, e que precisam ser apurados, e a fim de preservar a suposta vítima, o jogador, a Seleção Brasileira e a CBF, a entidade informa que o atleta está desconvocado. Para o seu lugar, o técnico Fernando Diniz chamou Gabriel Jesus, que estava pré-selecionado em uma lista de 36 jogadores enviada à Fifa", informa o comunicado da entidade.

Além das provas, Gabriela diz ter vivido uma relação tumultuada com o jogador, inclusive no período em que estava grávida. "Ele já falou coisas assim: 'ou eu ia ficar com ele ou ia morrer todo mundo'. Eu, ele e o nosso filho. E eu falava: 'você sabe que estou grávida, né? Você está me assustando'. Uma hora ele estava chorando, outra hora me batendo. Com certeza, um dos piores dias da minha vida". A DJ perdeu o bebê semanas depois.

Antony se manifestou nas redes sociais. "Posso afirmar com tranquilidade que as acusações e que a prova já produzida e as demais que serão produzidas demonstram que sou inocente das acusações feitas. Minha relação com a sra. Gabriela era tumultuada, com ofensas verbais de ambos os lados, mas jamais pratiquei qualquer agressão física", escreveu.

O desfecho consolida uma das largadas mais atabalhoadas da Seleção em um ciclo de Copa do Mundo. A CBF demorou 207 dias para apontar o sucessor de Tite. Fernando Diniz ainda não é o cara. Assumiu o cargo interinamente. Trabalha no Fluminense e na Seleção. Ednaldo Rodrigues espera pelo sonho de consumo, o italiano Carlo Ancelotti. O técnico do Real Madrid tem acerto verbal com o presidente para assumir ao término da temporada europeia. Transitório, o dinizismo aprendeu a primeira e contundente lição. 

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