Nunca antes na história do Campeonato Inglês houve tanto interesse no mercado por volantes fabricados no Brasil. A temporada de 2023/2024 da Premier League emprega nove especialistas na posição em oito clubes diferentes. Isso sem contar meias facilmente adaptáveis a essa função como Lucas Paquetá. Dois deles são titulares da Seleção Brasileira sob a batuta do maestro interino Fernando Diniz no ciclo para a Copa do Mundo de 2026. Além de eldorado, a terra do Rei Charles II virou mapa da mina para o processo de renovação do meio de campo verde-amarelo na incansável saga pelo hexacampeonato.
Casemiro (Manchester United) e Bruno Guimarães (Newcastle) formam o par perfeito de Fernando Diniz, mas o cardápio é variado. Joelinton, Andreas Pereira, João Gomes, Danilo, Andrey Santos, Douglas Luiz e Vinicius Souza também constam no menu. Seriam mais se Fabinho não tivesse deixado o Liverpool rumo ao Al-Ittihad da Arábia Saudita e Fred não trocasse o United pelo Fenerbahçe. A busca por volantes é incessante. O Chelsea flerta com o Gustavo Moscardo do Corinthians. O Liverpool cobiça André do Fluminense. O Wolverhampton teve uma oferta pelo versátil Victor Hugo recusada recentemente pelo Flamengo.
Capitão do Brasil na conquista do tetracampeonato em 1994, nos Estados Unidos, e técnico da Seleção na Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, o ex-volante Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, elogia a nova safra de cães de guarda da indústria nacional. "A nossa formação sempre foi boa. Os nossos volantes tanto sabem marcar como jogar. Eles têm força, qualidade técnica. Lá fora, os volantes ou sabem marcar ou sabem jogar. Os nossos são completos. É que nós nunca valorizamos volantes, sempre destacamos atacantes, os caras que fazem gol. Hoje, atacante brasileiro jogar lá é difícil. Tem que correr, gasta muita energia e tem uma chance ou duas", analisa Dunga em entrevista ao Correio Braziliense.
"Como os intelectuais gostam de dizer, os nossos volantes são box to box (cobrem o campo de um área à outra). Se você pegar desde 1970 até hoje, os nossos volantes são tecnicamente muito bons. Oferecem passe longo, passe curto, leitura de jogo, posicionamento", compara Dunga, com a experiência de quem defendeu Pisa, Fiorentina, Pescara e Stuttgart no futebol europeu.
Dunga acrescenta: "Tem volante que atua por instinto e outros que pensam o jogo. Então, os caras formam muitos vezes o time no Brasil com o cara de instinto. Isso não é pejorativo, é natural, mas temos os jogadores que pensam o jogo. Os nossos são assim. Dão organização, o tempo de atacar, de defender, de matar uma jogada, acelerar, atrasar. Isso explica o interesse".
Especialista em formação nas categorias de base, Júnior Chávare acompanhou a evolução dos volantes Walace, Matheus Henrique, Arthur e Jaílson no Grêmio; Rodrigo Nestor e Luan no São Paulo. "Cada vez mais, os volantes no futebol brasileiro são os meias que se tornaram volantes, ou seja, jogadores que têm qualidade técnica, sabem armar o jogo, criá-lo, pisam na área e, ao mesmo tempo, desenvolveram na última década qualidades táticas de marcação, o famoso box to box. O futebol brasileiro acabou desenvolvendo esse perfil de volantes nos últimos anos e atrai muito. Eles conciliam comprometimento tático e qualidade técnica", analisa Chávare à reportagem.
Filha de Marcel Figer e neta de Juan Figer (1934-2021), dois dos empresários de futebol mais influentes da América do Sul, Stephanie Figer destaca a evolução dos volantes. "Acredito que a Premier League esteja contratando os meio-campistas brasileiros, pois temos, atualmente, uma safra de atletas com grande destaque na construção e transição de jogo de extrema qualidade que desperta o interesse de todo o mercado, inclusive, da Premier League", opina ao Correio.
Autor do livro A pirâmide invertida: a história da tática no futebol, o jornalista inglês Jonathan Wilson chama atenção para além dos volantes brasileiros em entrevista ao Correio e inclui a caça a especialistas de outros países sul-americanos. “Essa posição passou subitamente a ser valorizada de uma forma que não era antes. Veja os casos de Enzo Fernández (Argentina) e de Moisés Caicedo (Colômbia), ambos do Chelsea. Os clubes estão cada vez mais preparados para investir o dinheiro adequado na posição”, indica o analista da World Soccer e Sports Illustrated.
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