Há exatamente um ano, o lateral-direito Daniel Alves desembarcou na Espanha – de onde havia saído para defender o Pumas, do México – para um simples esclarecimento. No entanto, não saiu mais. Acusado de um crime grave, ele seguiu da conversa para o presídio e lá continua até hoje. O caso chamou atenção do mundo inteiro. Afinal, pouco mais de um mês antes de ir para a cadeia, o atleta estava na Copa do Mundo, no Qatar, jogando pela Seleção Brasileira.
A prisão de Daniel, por sinal, soa como roteiro de cinema de Hollywood. E tudo começou quando a Polícia de Barcelona recebeu uma denúncia de estupro. Uma jovem de 23 anos acusou o lateral de ter forçado sexo no banheiro de uma boate, a Sutton, na noite de 30 de dezembro.
As autoridades espanholas, então, começaram a convocar pessoas para depoimentos, em busca de indícios e provas do crime. O assunto tomou conta do país. Afinal, além de atleta da Seleção Brasileira, Alves fez história no Barcelona FC, atuando pelo clube catalão entre 2008 e 2016, e depois retornando para um curto período de novembro de 2021 a julho de 2022.
Ao analisar imagens de câmeras de segurança, a polícia confirmou a entrada de Daniel no banheiro, onde o crime teria ocorrido. A riqueza de detalhes da vítima, como uma tatuagem nas partes íntimas de Alves, indicava que teria havido a relação sexual. Mas não comprovava a violência. Os investigadores montaram uma estratégia para atrair o jogador à Espanha.
Plano das autoridades para pegar Daniel Alves
Logo nos primeiros dias de 2023, a Polícia deu início ao seu plano de captura. As autoridades sabiam que, se revelassem a intenção de indiciá-lo, poderiam enfrentar dificuldade. Afinal, o jogador estava no México, onde jogava pelo Pumas. E um eventual retorno ao Brasil tornaria a situação ainda mais difícil. Diante disso, a polícia inicialmente vazou a denúncia para a imprensa. E, logo na sequência, deixou escapar uma informação favorável ao jogador: a de que ele teria permanecido por apenas 48 segundos no banheiro. Um período improvável para uma violência sexual.
Do México, o jogador confirmou a versão. Em entrevista para a imprensa espanhola, disse que não entendia a acusação, que não conhecia a vítima e, sobretudo, que não havia ficado muito tempo no banheiro. Era tudo de que a polícia precisava.
Morte da sogra levou Daniel Alves à Espanha
A polícia contou ainda com um problema familiar do jogador para garantir sua presença na Espanha. Afinal, a morte da sogra de Daniel Alves levou o jogador para o funeral em Barcelona. Então, a polícia propôs que Daniel Alves desse um depoimento explicando o que tinha acontecido na boate, para supostamente encerrar a acusação.
No entanto, o que parecia um desfecho para o lateral foi apenas o início do seu pior pesadelo. A polícia o vigiou desde o desembarque na Espanha. E monitorou os passos do jogador ao lado da esposa Joana Sanz em todos os procedimentos de despedida da mãe. Então, finalmente, ele recebeu voz de prisão.
Daniel foi para o presídio Brians 1 e dias depois para o Brians 2. E rapidamente a versão inicial de Alves caiu por terra. O tempo dentro do banheiro, por exemplo, tinha sido de 15 minutos. Além disso, câmeras mostraram que, antes de deixar a boate, ele passou perto da mulher e viu que ela estava chorando.
Pedido de separação
Com o passar do tempo – e o agravamento da situação – Joana Sanz, mulher de Daniel Alves, publicou uma carta anunciando a separação do casal.
Após dois meses preso, Daniel Alves pediu para ser ouvido novamente. Em novo depoimento, o jogador apresentou nova versão, admitindo que, sim, teve relação sexual com a mulher na boate, mas garantindo que o ato teria sido consensual. O jogador alegou ainda que inicialmente tinha negado a traição para tentar preservar o seu casamento.
Ex-mulher e filhos de Daniel Alves na Espanha
Em uma tentativa da defesa, Daniel Alves pediu à ex-esposa Dinorah Santana para se mudar para a Espanha. A ideia era demonstrar à Justiça que ele não tentaria sair da Espanha, já que até mesmo os seus filhos estavam no país. Mas não adiantou. A defesa de Daniel fez algumas tentativas para que ele respondesse ao processo em liberdade. E a Justiça negou todas.
Para piorar, Dinorah se sentiu traída com o tratamento recebido.Com o passar do tempo, a ex-esposa mudou o discurso. Em fevereiro de 2023, ela disse que colocaria não apenas a mão, mas “o corpo todo no fogo” por Daniel. Entretanto, em outubro, declarou que estava arrependida de ter saído em sua defesa.
Daniel troca de advogado
Com problemas no processo judicial, o lateral direito decidiu mudar de advogado. E contratou Inés Guardiola, especialista neste tipo de crime.
As tentativas de recurso para aguardar o julgamento em liberdade finalizaram e o jogador se tornou réu. Ele também passou a considerar mais a possibilidade de “acelerar” o julgamento.
Em novembro o Tribunal de Barcelona enviou formalmente Daniel Alves a julgamento pelo crime de estupro. O Ministério Público da Espanha pediu nove anos de prisão e dez anos de liberdade vigiada após cumprir a pena.
Mãe perde a paciência
Com o julgamento marcado para o início de fevereiro, a defesa apresentou novas provas no processo. Por exemplo, incluiu recibos de pagamentos e ligações telefônicas. A nova tática é dizer que o jogador estava embriagado e não tinha consciência dos atos. A defesa, aliás, já traça também uma estratégia para conseguir redução da pena numa eventual condenação.
No Brasil, a mãe do jogador, por sua vez, perdeu a paciência. Lúcia Alves decidiu expor a vítima de estupro nas redes sociais. Ela postou fotos e vídeos da jovem se divertindo em bares e festas nos últimos meses. Além de divulgar o rosto da mulher, a mãe do jogador brasileiro questionou o sofrimento da vítima. Como o caso corre em segredo de justiça, a jovem disse que vai processar a mãe do jogador.
Ajuda de Neymar
Para ajudar Daniel Alves no processo, Neymar enviou R$ 800 mil mais advogados para contribuir na defesa do ex-jogador brasileiro.
Neymar enviou dinheiro e ofereceu suporte no processo judicial de Daniel Alves – Divulgação/CBFEm conversa com o ex-jogador Emerson Sheik, o pai de Neymar explicou a situação .
“A família nos pediu ajuda. O Daniel não tinha dinheiro para se defender, e o prazo para o pagamento da defesa estava expirando. Pense bem, em nenhum momento eu podia negar ajuda a um amigo que está tentando se defender de uma acusação”, disse.
O montante, aliás, pode reduzir a pena de Daniel em caso de condenação. O pagamento à Justiça aconteceu no dia 9 de agosto.
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