O Flamengo fez o dever fora de casa e venceu o Philadelphia Union por 2 a 0 no gramado do Tampa Bay Rowdies, na Flórida. Foram dois times distintos, para brasileiros e norte-americanos, em cada tempo de jogo, em períodos igualmente cansativos. Afinal, as dezenas de trocas confundem quem trabalha na cobertura e o público no local. E os telespectadores, que normalmente, dependendo do horário – aos domingos, após o almoço, pode ser fatal – cochilam à sono solto, deixando cair, como disse Nelson Rodrigues, aquela baba bovina e elástica.
Na realidade, Éverton Cebolinha foi o melhor no primeiro tempo, sofrendo o pênalti, cobrado por Pedro, no primeiro gol, aos 11 minutos, e marcou ele mesmo o segundo, com um belo chute de efeito no canto esquerdo, aos 41. E houve o esforço de Nicolas de La Cruz, que é ótimo jogador, correndo como um maratonista, nos 45 finais, buscando justificar o investimento. Além de mais três ou quatro oportunidades desperdiçadas.
Pra atrapalhar a rotina
Esses amistosos, outrora, eram conhecidos como caça-níqueis, pois ajudavam no orçamento eventualmente modesto, e que hoje rendem fortunas, são de uma pobreza técnica formidável, pois não representam referência, mas obriga o time a entra com a obrigação de ganhar, pela importância do clube e a vergonha que traz se sofre derrota. Os narradores e comentaristas chamam de “teste”, o que está a anos-luz da verdade, pois se os atletas que formam o elenco do Flamengo necessitam provar algo de novo, o mundo está perdido. Esses amistosos, antes e hoje, são como feriados para jornalistas, profissionais da saúde e motoristas de ônibus: a única finalidade é atrapalhar a rotina.
O Philadelphia Union é uma equipe de bom nível no universo da Major League Soccer, mas sabe que o melhor resultado é evitar vexame, pois enfrenta um adversário superior sob o aspecto técnico e jogará – como o fez – tentando pelo menos competir. Foi o que se viu.
Carbone, a surpresa
O jogo começou com o erro crasso de um veterano. Em 1977, Cláudio Coutinho, mais tarde o maior treinador da história do Flamengo, escalou o menino Paulo Siri, de 22 anos (25/1/1954), que mal havia saído da base – naquela época a transição era mais extensa – como lateral-esquerdo improvisado, em clássico contra o Vasco, com 135 mil pessoas no Maracanã. O adversário ganhou o jogo, 3 a 0, pelo setor, e provocou duas tragédias. O rapaz jamais recuperou a confiança. E o Flamengo perdeu o Estadual, para o Vasco, por causa dos dois pontos perdidos na partida.
Em 1980, quando assinou contrato com o Los Angeles Aztecs, corrigiu o equívoco, levando Paulo Siri para o clube norte-americano, onde também ganhou um dinheirinho. Era visível o desconforto de Carbone, como o de Siri há 45 anos, e o cuidado para – como se dizia antigamente – não comprometer.
Segundo tempo
Na etapa derradeira, Tite, quartas de final em duas Copas do Mundo, como Telê Santana, o queridinho da imprensa, trocou o time (quase) todo, a exemplo do Union, e o Flamengo continuou mandando, tentando mais gols naturalmente, ou seja, de forma equivalente à diferença de qualidade entre as equipes, até gastar o tempo, enquanto o técnico gaúcho e seu filho Matheus executavam gestos – teoricamente táticos – para a diversão da TV e para as observações obrigatórias de comentaristas.
A coisa parecia não acabar mais. Cada minuto valia uma hora. Em dado momento, o cidadão que dormia profundamente acordou – ou alguém o sacudiu – e embora fosse um quase fim de domingo, houve alegria, pois havia outro jogo, e nesse sim a briga por três pontos. Ou será que Tite – ao melhor estilo Vitor Pereira, o gênio lusitano – vai entregar mais um campeonato – agora o tri – ao Fluminense?
Aliás, sábado, após passeios pelos parques de Orlando, tem mais amistoso.
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