CANDANGÃO

Entenda como se articulava a manipulação de resultados no Santa Maria

MPDFT deflagrou Operação Fim de Jogo para apurar arranjos de resultados em partidas do rebaixado Santa Maria. Dois atletas do clube são investigados. Correio explica como era a possível articulação do esquema fraudulento

Um dos atletas investigados na Operação Fim de Jogo, o lateral Nathan tenta cortar tentativa de ataque do Ceilândia: partida está na mira do MPDFT, assim como confronto da Águia diante do Gama -  (crédito: Alan Rones/Ceilândia)
Um dos atletas investigados na Operação Fim de Jogo, o lateral Nathan tenta cortar tentativa de ataque do Ceilândia: partida está na mira do MPDFT, assim como confronto da Águia diante do Gama - (crédito: Alan Rones/Ceilândia)
postado em 12/03/2024 06:00

Mais uma vez, o futebol do Distrito Federal está na mira de uma investigação envolvendo a máfia das apostas esportivas. O caso mais recente envolve o Santa Maria, um dos clubes rebaixados na atual edição do Campeonato Candango. Ontem, no âmbito da Operação Fim de Jogo, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) cumpriu mandados de busca e apreensão contra dois jogadores da Águia. O lateral-direito Nathan Henrique Gama da Silva e o zagueiro Alexandre Batista Damasceno são alvos do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por suposta ação deliberada para fraudar resultados de duas partidas da campanha do clube no torneio local. As peças do elenco, no entanto, seriam apenas algumas de um extenso quebra-cabeça.

A campanha do Santa Maria chama a atenção por aspectos negativos. Rebaixado com antecedência, a Águia sofreu quatro goleadas e passou sete jogos sem marcar. As derrotas por 6 x 0, contra o Ceilândia, e 5 x 0, perante ao Gama, porém, geraram o alerta. A SportsRadar, empresa de monitoramento contratada pela CBF, observou um grande fluxo de apostas nas partidas. Provocado pela Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), o MP consolidou provas de conhecimento antecipado de apostadores a respeito dos placares elásticos. No Candangão, Nathan foi titular em todas as partidas. Alexandre teve uma ausência por suspensão. No processo, obtido pelo Correio, os investigadores observam “postura omissiva” da dupla na marcação em 10 dos 11 gols sofridos nos duelos em xeque.

A investigação coloca um investidor como líder do esquema. William Pereira Rogatto ajudou a montar o elenco do Santa Maria e teria relação com a gestão do clube. Prints obtidos pela reportagem mostram a presença dele e da presidente do clube, Dayana Nunes, em grupos de gerência. Caberia a ele cooptar atletas para o esquema e, até mesmo, bancar as apostas em sites (entenda o funcionamento da ação no quadro ao fim da matéria). Em 2020, o apostador foi investigado em um caso na Série A3 do Campeonato Paulista. Como reside na Europa, Rogatto não teve os mandados de busca e apreensão cumpridos pelo Gaeco. Os jogadores citados também têm situações passadas: estavam no elenco do Desportivo Aliança, julgado por manipulação na Copa Alagoas de 2023. A equipe foi, posteriormente, absolvida.

No Candangão, estatísticos chegaram a reportar suspeitas em lances do Santa Maria. De acordo com o MPDFT, se confirmada a atuação em esquemas de apostas, os jogadores podem responder pelos crimes de corrupção passiva esportiva, fraude em evento esportivo, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O clube foi procurado pela reportagem, mas se manifestou em nota oficial, publicada nas redes sociais, na qual se diz vítima do caso e se coloca à disposição para colaborar nas investigações.

Os detalhes da ação

» O suspeito de comandar o esquema
Investidor "oculto", William Pereira Rogatto teve relação com a gestão do Santa Maria para levar jogadores e auxiliar na montagem do elenco.

» Sócios presentes no dia a dia
Nomes apontados como sócios de William estariam mais próximos da rotina do clube e também atuariam no aliciamento de atletas.

» Jogadores de confiança
Com atletas conhecidos de outros clubes, os possíveis manipuladores tinham maior tranquilidade na adulteração dos resultados.

» Cachê do aliciamento
No geral, os jogadores de linha recebiam, em média, R$ 5 mil por jogo. Para goleiros, era pago um "cachê" a partir de R$ 7 mil.

» Contas de apostas
William seria o responsável por cooptar as contas em plataformas e, muitas vezes, bancaria as apostas nos jogos.

» Divisão de lucros
Havia repasses para quem cedia as contas cadastradas. A depender da negociação, o pagamento podia ser de até 50% do lucro.

Casos relacionados

Série A3 do Paulistão 2020
Duas partidas da competição teriam sido manipuladas com o intuito de acertar o resultado final. William Pereira Rogatto é suspeito de aliciar os atletas no episódio. As partidas geraram alertas da SportsRadar, empresa de monitoramento parceira da FPF e também da FFDF. As investigações apontam predileção pela inclusão de goleiros e zagueiros no esquema.

Copa Alagoas 2023
Investigados pelo MPDFT, Alexandre e Nathan estavam no elenco do Desportivo Aliança na temporada 2023, quando estourou o possível envolvimento do clube em manipulação de resultados na Copa Alagoas. Meses depois, a equipe foi absolvida pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Alagoas (TJD-AL) por falta de provas. Antes, eles atuaram juntos no Femar e São Paulo Crystal.

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