Paralimpíadas Paris-2024

Paralimpíadas começam nesta quarta e Brasil mira melhor campanha da história

Com maior delegação para uma competição fora do país e dono de favoritismo, Brasil entra nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024 com objetivo de ficar no top-5 e fazer a melhor campanha da história

Delegação do Brasil para os Jogos de Paris é a maior da história para uma competição no exterior -  (crédito: Alessandra Cabral/CPB)
Delegação do Brasil para os Jogos de Paris é a maior da história para uma competição no exterior - (crédito: Alessandra Cabral/CPB)

Na mitologia grega, os Campos Elíseos eram o lugar para onde iam os bem-aventurados, uma espécie de paraíso. Já a Champs Elysées, principal avenida da França, nomeada em alusão ao local mitológico, será o palco para receber outros afortunados: os melhores atletas do mundo. O cartão-postal é o ponto de largada para a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Paris-2024, a partir das 15h (de Brasília), que vai atravessar o coração da capital até chegar ao Palácio da Concórdia, e apresentar os 4.400 nomes em ação durante o megaevento. O Brasil, claro, é presença certa entre os destaques.

A delegação verde-amarela chegou aos montes para dominar a Cidade Luz. Serão 280 atletas no grupo, formado por 255 esportistas com deficiência, 19 atletas-guia, três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. Os brasileiros estarão presentes em 20 das 22 modalidades dos Jogos, ficando de fora apenas no basquete e no rúgbi, ambos para cadeira de rodas.

O número é o maior para representar o Brasil em uma competição fora do país e reforça ainda mais o objetivo de terminar as Paralimpíadas dentro do top-5 do quadro de medalhas pela primeira vez. Para o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a meta é subir ao pódio entre 70 e 90 vezes (leia no quadro ao lado) e superar o desempenho de Tóquio-2020 e Londres-2020, quando ficou em sétimo na classificação.

Para abrir a campanha brasileira, os escolhidos para liderar a delegação como porta-bandeiras foram Beth Gomes, do lançamento de disco, e Gabriel Araújo, da natação, ambos medalhistas em Tóquio-2020.

"Fiquei emocionado. É uma honra máxima ter a oportunidade de estar em uma Paralimpíada, de estar em uma abertura e ainda carregar a bandeira, então fiquei muito feliz. Nem sabia o que fazer quando recebi a notícia, então tive que manter a calma, mas no coração estava gritando, doido para sair pulando e contando para todo mundo. Vou realizar mais um sonho, que é representar os atletas e toda a nação em um momento tão mágico, que poucos tiveram a oportunidade", conta o nadador.

A esperança de bons resultados não se restringe a poucos nomes. O futebol de cinco, invicto em Paralimpíadas, quer o hexacampeonato, enquanto Carol Santiago (natação), Jovane Guissone (esgrima), vôlei sentado, Alana Maldonado (judô), Claudiney Batista (atletismo), Bruna Alexandre (tênis de mesa), Fernando Rufino (canoagem) e Petrúcio Ferreira (atletismo) são outros exemplos de favoritismo.

"A expectativa é das melhores. Trabalhamos bastante para chegar aqui, desde Tóquio, e queremos colocar o Brasil onde merece, no topo. Quero tentar trazer o tricampeonato para casa e ajudar a dar mais medalhas para nosso país", projeta Petrúcio, bicampeão dos 100 metros rasos e dono de cinco medalhas paralímpicas.

Quem subir ao pódio, inclusive, vai levar um pedacinho de Paris para casa. Com um pedaço da Torre Eiffel, as medalhas terão inscrições em braille e guizos para diferenciar ouro, prata e bronze.

Chegando de um ciclo curto, de apenas três anos, mas com bom desempenho nas principais competições, o Brasil tem outro sonho em Paris: a 400ª medalha. Na história dos Jogos Paralímpicos, são 109 ouros, 132 pratas e 132 bronzes, totalizando 373. Ou seja, bastam 27 para chegar ao número histórico.

Dia de festa

O espetáculo de abertura, idealizado pelo diretor artístico Thomas Jolly, dá início ao evento que recoloca Paris como a capital do esporte. Pela primeira vez na história, assim como nas Olimpíadas, o evento acontece fora de um estádio. Ao longo do percurso, as apresentações artísticas vão passar a mensagem de inclusão e acessibilidade, até mesmo como forma de crítica para Paris, que enfrenta críticas pela falta de locais acessíveis. Por outro lado, a Vila Olímpica foi completamente adaptada para receber os atletas.

Serão cerca de 30 mil espectadores nas arquibancadas da Praça da Concórdia, 15 mil na área gratuita da Champs-Elysées e mais 30 mil para o acendimento da pira, ao lado do museu do Louvre. Ao todo, a cidade está preparada para receber 350 mil pessoas com deficiência até 8 de setembro, data do encerramento.

A cerimônia, porém, não terá transmissão na TV aberta e passa apenas no SporTV 2, Globoplay e no canal do Comitê Paralímpico no YouTube.

Três perguntas para Mizael Conrado, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)

Por que o Brasil é referência nas Paralimpíadas?

A condição que o Brasil chega em Paris, com provável grande resultado e a maior delegação para um torneio fora do país, é graças a uma série de fatores. O primeiro é pelas associações que trabalham pelo desenvolvimento do esporte e a inclusão dos PCDs. Segundo os próprios atletas, que se decidam para serem sempre melhores, além das equipes e treinadores que ajudam. Acredito que o plano estratégico do CPB e das confederações é o que nos trouxe até aqui. Ele foi nosso guia, que resultou na criação dos 72 centros de referência, do festival paralímpico e do camping escolar. Isso dá o caminho do atleta até chegar no alto rendimento e representar o Brasil.

O que vem pela frente?

O caminho do atleta começa no festival, onde a criança descobre o esporte, depois faz a iniciação na escolinha e começa a competir, passa pelas Paralimpíadas escolares e depois o camping, no qual os jovens atletas vão poder interagir com nossa equipe de alta performance no CT Paralímpico, em São Paulo. Então chega nas competições de base e vai para o altíssimo rendimento. Acreditamos muito em todo esse projeto, mas o melhor é que o futuro promete muito mais. Nossas escolinhas hoje atendem 7 mil estudantes, e eles serão nossa realidade daqui alguns anos. O Brasil agora precisa só olhar para frente, porque o caminho da evolução e do desenvolvimento está traçado. O futuro é promissor.

Expectativa para Paris?

Esse ciclo foi mais curto, de apenas três anos, mas nós trabalhamos muito, desde os atletas, equipes multidisciplinares e profissionais do CPB. Nossa expectativa é a melhor possível. O grande termômetro que temos para os Jogos Paralímpicos são os últimos Mundiais, e o Brasil foi destaque, especialmente nas modalidades que colocam mais medalhas em disputa, como atletismo, que fomos vice-campeões, e natação. Em outros esportes também tivemos resultados expressivos. A meta, formulada em 2017, é de conquistar entre 70 e 90 medalhas e ficar entre os oito primeiros, mas nossa real expectativa é fazer em Paris a melhor campanha do Brasil em todos os tempos.

*Estagiário sob supervisão de Victor Parrini

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postado em 28/08/2024 14:01 / atualizado em 28/08/2024 14:04
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