
Entra ano, sai ano, e o sonho dos clubes do Distrito Federal segue o mesmo: o acesso. A nova tentativa começa neste sábado (19/4), com o início da Série D e a chance de dar fim ao jejum de 12 anos do futebol candango sem conseguir subir da última divisão do Campeonato Brasileiro. Representado pelo Ceilândia e o estreante Capital, o quadradinho conta com duas peças no tabuleiro de 64 clubes em busca das quatro vagas para a Série C de 2026. No entanto, a bola vai rolar em meio a polêmicas que ofuscam a segunda maior competição do país em termos numéricos.
A primeira rodada do torneio irá começar uma semana depois do previsto. O adiamento inicial foi em razão do problema com os laudos técnicos dos estádios que serão palco dos jogos. Até o momento, 24 continuam com pendências, o que irá obrigar muitos clubes a mandarem partidas longe de casa ou com portões fechados.
A principal polêmica, porém, é a situação da transmissão. Em tempos de fraudes e manipulações de resultados no futebol brasileiro, a Série D pode começar às escuras. A CBF ainda não chegou a um acordo sobre os direitos de transmissão do campeonato e somente diz estar negociando com empresas interessadas. O cenário é o mesmo do ano passado, quando não houve negócio fechado com nenhum meio e os próprios times que faziam as próprias transmissões em alguns jogos.
Desta vez, os clubes tentaram negociar os próprios direitos com os veículos, como o caso do Treze-PB, que acertou com o Canal Goat. Porém, após reunião do Conselho Arbitral da Série D, a CBF proibiu que as equipes negociassem por conta própria. A entidade, inclusive, ameaçou suspender o repasse financeiro que ajuda nas despesas de logística, transporte, arbitragem e até pagamento de salários dos times.
“Lamentavelmente, é um preço que o Treze não consegue pagar. Entendemos que um produto esportivo de viabilidade econômica ainda frágil, como a Série D, só conseguirá se valorizar se efetivamente existir para o público, se estiver disponível e se for ao ar. Resta aos clubes que quiserem e tiverem condições, segundo a CBF, custear suas próprias transmissões”, escreveu o clube, em nota.
A resposta da CBF foi em ofício assinado pelo diretor jurídico André Mattos, publicado na quarta-feira. O documento endereçado aos clubes justifica a decisão em razão da própria entidade negociar os direitos de maneira exclusiva para os possíveis detentores.
Dilemas à parte, a Série D continua no formato tradicional das temporadas passadas. São 64 clubes divididos em oito grupos regionalizados. Todos se enfrentam em partidas de turno e returno e os quatro com melhor pontuação em cada chave avançam para a segunda fase, na qual começa o mata-mata, sempre decidido em confrontos de ida e volta. No fim, as equipes que alcançarem a semifinal garantem vaga na terceira divisão do ano seguinte.
Entre os participantes estão figurões que disputaram a Série A na era dos pontos corridos, casos de Joinville, Santa Cruz, América-RN e Portuguesa.
Candangos no páreo
A realidade dos clubes candangos é novamente de superação para tentar se livrar das camisas de força que impedem os times da capital a alcançar patamares mais altos. Os responsáveis da vez por aceitar a missão são Ceilândia e Capital, a sétima dupla diferente a tentar o acesso pelo DF. O Gato Preto e a Coruja são membros do grupo A5, no qual disputarão ponto a ponto com os vizinhos. Aparecidense, Goiânia e Goianésia representam o Goiás, Mixto e Luverdense são do Mato Grosso e o Porto Velho de Rondônia.
Para quebrar a barreira da quarta divisão, a meta é superar a campanha feita pelo Brasiliense em 2024. Na ocasião, o Jacaré igualou a melhor trajetória de uma equipe candanga no torneio e chegou nas quartas de final, mas caiu nos pênaltis diante do Retrô.
Em 2023, o Ceilândia parou nas oitavas, sendo superado pelo Caxias na marca da cal. Desta vez, a equipe chega sem o artilheiro Felipe Clemente, que saiu após o Candangão, mas conta com o retorno de Romarinho. O elenco segue em formação e dá continuidade ao trabalho do treinador Adelson Batista, que comandou o Gato Preto em mais de 70 partidas pela Série D. De chave virada depois de cair na semifinal do estadual, o primeiro compromisso é contra o Goianésia, no domingo (20/4), às 15h30, fora de casa.
“Aproveitamos as semanas que tivemos até a estreia para recuperar atletas lesionados e entrosar os que chegaram. Tentamos amenizar o máximo possível das deficiências que tínhamos e é uma estreia difícil, mas esperamos fazer um bom jogo. O grupo é equilibrado, então todo ponto é importante. Temos a experiência e aprendemos mais sobre a competição, então confiamos muito no nosso trabalho, na força do elenco e na tradição do Ceilândia para chegar forte mais uma vez e conseguir o acesso”, contou ao Correio.
Do outro lado, o Capital é estreante e lança a candidatura em busca do sucesso. O time amargou o vice do estadual pela segunda vez consecutiva, mas segue vivo na terceira fase da Copa do Brasil e busca a consolidação nacional. A equipe teve a terceira troca de comando no ano e agora tem Roberto Fernandes no lugar de Marcelo Cabo. Além disso, o mercado foi agitado, com a chegada de cinco reforços, entre eles os atacantes Mateusão e Tobinha, ex-Brasiliense. O primeiro capítulo é contra a Aparecidense, no sábado (19/4), às 19h30, no estádio JK.
“É uma satisfação muito grande estar de volta à Brasília, um lugar que conheço bem, meu primeiro título foi aqui. É ainda melhor por estar em um clube moderno. Aqui encontrei vários jogadores que não só trabalharam comigo, mas que fomos campeões juntos”, disse o treinador. “Vim para somar, para acrescentar qualidade a um elenco que já é muito bom. Espero ser vitorioso aqui", destacou Mateusão.
Conheça os adversários
Aparecidense
A Aparecidense está na Série D graças ao quinto lugar no Campeonato Goiano de 2024, mas nesse ano o cenário é diferente e com altos e baixos. A campanha no estadual por pouco não terminou em rebaixamento, mas a equipe escapou na última rodada. Sob o comando de Lúcio Flávio, ex-Botafogo, o clube avançou para a terceira fase da Copa do Brasil pela primeira vez na história. Um nome conhecido é Kaio Nunes, ex-Real Brasília e Brasiliense.
Goianésia
Primeiro adversário do Ceilândia, o Goianésia começou 2025 com o pé esquerdo, sendo rebaixado no Campeonato Goiano. A equipe somou somente duas vitórias em onze partidas e sequer entrou em campo nos últimos dois meses. Agora, o trabalho é com o recém-contratado treinador Gilberto Nascimento, ex Comercial, Jequié e Lagarto, que fará a estreia no comando da equipe justamente no pontapé inicial da Série D.
Goiânia
Entre os três times do estado de Goiás que estão na Série D, o Goiânia é quem viveu o pior momento no começo do ano, com rebaixamento no estadual e somente duas vitórias em 11 jogos. Porém, a equipe promoveu uma reformulação interna. Apesar do técnico William Campos continuar com a prancheta, o clube dispensou 22 jogadores e fez 17 contratações para tentar dar gás novo para a disputa do campeonato nacional.
Luverdense
O Verdão do Norte se prepara para viver uma temporada especial em 2025. A participação na quarta divisão do Brasileirão será a primeira em 21 anos de história do clube. O torneio será essencial para a avaliação da temporada do Luverdense. No campeonato estadual, acabou eliminado ainda na primeira fase. Para o desafio, trouxe peças importantes. Exemplos são o volante Danilo Borges, o zagueiro Felipe Costa e o atacante Felipe Diniz, ex-Remo.
Mixto
O alvinegro mato-grossense reencontra a competição nacional pelo segundo ano consecutivo. Na edição passada, havia retornado após 10 anos de ausência. Ao contrário da última vez, no entanto, chegará agora com a moral de ter alcançado a terceira posição no campeonato estadual. Em 2025, tentará superar a sexta colocação alcançada em 2013. No ano passado, parou na segunda fase, ao ser eliminado pela Portuguesa-RJ.
Porto Velho
Prestes a disputar a competição pela quinta vez consecutiva, o Porto Velho retorna como mais um a ter feito campanha marcante na última edição. Em 2024, foi 11º colocado. Caiu nas oitavas de final. Para alçar voos mais altos, terá a conquista do título estadual, o quinto nos últimos seis anos, como combustível. A equipe rondoniense é conhecida do futebol candango. Na segunda fase da Copa do Brasil deste ano, acabou eliminada pelo Capital.
*Estagiários sob a supervisão de Marcos Paulo Lima