Futebol

Dia do goleiro: atletas do Brasil vão além de só defender o gol

Dono das traves do Botafogo, John combate o racismo mantendo a tradição de guardiães negros do Glorioso, como o ídolo Manga. Aos 44 anos, Fábio resiste na batalha contra o etarismo de quem insiste marcar data para a aposentadoria

O jovem John batalha em defesa do legado de goleiros negros do Botafogo e contra as desconfianças desde a falha grave na derrota do Botafogo por 1 x 0 para o Estudiantes -  (crédito:  Vitor Silva/Botafogo)
O jovem John batalha em defesa do legado de goleiros negros do Botafogo e contra as desconfianças desde a falha grave na derrota do Botafogo por 1 x 0 para o Estudiantes - (crédito: Vitor Silva/Botafogo)

No Dia do Goleiro, comemorado em 26 de abril em homenagem ao ídolo do Botafogo Haílton Corrêa de Arruda, o Manga (1937-2025), que faria hoje 88 anos e morreu no último dia 8, os donos das traves no Clássico Vovô, às 21h, no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, lutam contra adversários extracampo na abertura da sexta rodada do Campeonato Brasileiro.

Aos 44 anos, Fábio batalha contra o etarismo. Há quem defenda a aposentadoria de quem continua se apresentando em altíssimo nível. Em 2023, o goleiro do Fluminense ajudou o clube a conquistar o título inédito da Libertadores. Criticado pela dificuldade de jogar com os pés, o mato-grossense de Nobres resiste operando milagres com as mãos. Nem mesmo o entra e sai de técnicos abala o lugar cativo dele sob a meta tricolor.

São 21 jogos e 14 gols sofridos nesta temporada. Fábio não ficou fora de um minuto sequer nas exibições do Fluminense na temporada. Apesar dos sustos nos recuos para ele e nas saídas de bola, a experiência é um artigo raro e inegociável. Os técnicos Fernando Diniz, Mano Menezes, Renato Gaúcho e o eterno interino Marcão não abrem mão dele.

"Gratidão de poder fazer parte dessa história do Fluminense. Grandes jogadores vestiram essa camisa. Consegui alcançar títulos importantes. Esse é mais um objetivo cumprido desde a minha estreia, sempre buscando conquistas para alegrar os torcedores", celebra Fábio. Pé-quente, ele desembarcou no CT Carlos Castilho, goleiro histórico do clube, para ampliar a coleção de títulos: dois Cariocas, uma Copa Libertadores da América e uma Recopa Sul-Americana.

A luta contra o etarismo inclui discursos de atualização. Na chegada de Renato Gaúcho, Fábio tratou de reivindicar um DVD do técnico. "Ele é importante. Tem história, tem que mostrar. Títulos, gols... É sempre bom estar evoluindo. Minha carreira foi dessa forma: tento sempre aprender ao máximo, sempre observando. É dessa forma que a gente segue jogando, porque estou sempre me corrigindo e evoluindo", afirmou a muralha tricolor.

Do outro lado, o jovem John batalha em defesa do legado de goleiros negros do Botafogo e contra as desconfianças desde a falha grave na derrota do Botafogo por 1 x 0 para o Estudiantes pela fase de grupos da Libertadores. Os milagres operados nas conquistas do Brasileirão e da Glória Eterna no ano passado não serviram para amenizar as críticas a atuação dele na partida disputada na Argentina.

"Creio que tive um azar na hora, fui infeliz. Acontece, no futebol, às vezes, temos de saber reconhecer nossos erros. Não consigo ver como erro, acho que foi mais um detalhe do gramado", ponderou. Fiz o movimento certo. A bola tomou uma curva a mais e é algo que acontece. É levantar a cabeça e tenho a cabeça a boa. Fui infeliz no lance", repetiu John.

Jamais faltou apoio a John. Nem mesmo do maior ídolo das traves do Botafogo. No ano passado, Manga elogiou e deu conselhos ao titular. John é um bom goleiro, mas tem que falar mais. Goleiro tem que falar, tem que gritar os 90 minutos. Espero que faça esse trabalho, porque tem que gritar os 90 minutos com a defesa. Isso é importante", advertiu.

Uma das referências de John, o ex-goleiro Jefferson faz parte da linhagem de goleiros negros do clube. Oswaldo Baliza, Manga, Wágner, Max, Diego Loureiro e Renan mantiveram a escrita. "O John tem um potencial enorme, um cara humilde e trabalhador", elogiou.

John não esconde o engajamento contra o racismo. "A gente sabe que o racismo está em todo lugar, não só com goleiros. Eu estive na Espanha e também passei por isso em alguns momentos. É uma situação delicada até de falar. Hoje, o mundo vem tentando fazer com que isso acabe. Mas está dentro do ser humano. Não consegue controlar pessoas", lamenta John.

Escola em alta

O Dia do Goleiro terá outros profissionais das traves em ação hoje pela sexta rodada. O jovem Antony é o anjo da guarda do Internacional contra o Juventude, no Beira-Rio. Everson tem a missão de proteger as traves do Atlético-MG dos ataques do Mirassol. Rafael ganhou a confiança da torcida do São Paulo depois da aposentadoria do ídolo Rogério Ceni e comandará a defesa tricolor no confronto com o Ceará, na Arena Castelão.

Em alta no mercado interno e externo, a fábrica de goleiros do Brasil evoluiu. Dos 18 times do Campeonato Português, oito utilizam brasileiros como titulares na primeira divisão da terra de Camões. São 26 inscritos na elite lusitana. Dois dos principais times da Premier League ostentam arqueiros nascidos no nosso país: Alisson (Liverpool) e Ederson (Manchester City). Ambos eleitos número 1 do mundo pela Fifa recentemente. O futebol árabe emprega uma das maiores promessas do país. Bento defende o Al-Nassr.

 


MP
postado em 26/04/2025 06:01
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