
Ivo Meirelles cunhou uma das melhores frases na transmissão dos desfiles das escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro. “Pode acontecer tudo, inclusive, nada”. O comentarista conseguiu sintetizar, com argúcia, duas ideias antagônicas ao lançar sua previsão sobre mais uma noite de disputa na Marquês de Sapucaí. Eis que o Botafogo se aproximou daquela sabedoria carioca ao encaminhar a contratação do italiano Davide Ancelotti, candidato a fenômeno e fracasso ao mesmo tempo. Com apenas 35 anos, o filho de Carlo Ancelotti, da Seleção Brasileira, jamais comandou uma equipe e sempre acompanhou o pai como auxiliar, seja na Espanha, na Itália, na Alemanha ou na Inglaterra. Ou seja, é um “novato experiente”, outras duas palavras que se contrapõem. Por isso, de antemão, é necessário se afastar de convicções e certezas nas análises primárias do novo técnico alvinegro. Todos nós, jornalistas, temos opiniões preestabelecidas.
Filipe Luís ou Domènec?
Davide Ancelotti pode ser o novo Filipe Luís, técnico que já estreou ganhando uma Copa do Brasil, levou um Carioca, uma Supercopa do Brasil e colocou o Flamengo na liderança do Campeonato Brasileiro antes da parada para o Super Mundial de Clubes. Ou pode lembrar Domènec Torrent, o auxiliar de Pep Guardiola que durou menos de quatro meses no Ninho do Urubu, quando o time rubro-negro era o atual detentor das taças da Libertadores e do Brasileirão. Haverá, assim, sempre um contraponto do outro lado. Risco, no entanto, é o substantivo que agrada a todas as correntes. Otimistas e pessimistas concordam que um treinador começar a carreira, na metade da temporada, em um gigante do futebol brasileiro, é uma aposta de altíssimo risco. Ninguém esperava. O big boss jogou todas as fichas no futuro e talvez não tenha dado a devida importância ao presente.
Passagens por quatro ligas de alto nível
A audácia do sócio majoritário da SAF do Botafogo chama a atenção. Davide Ancelotti é a primeira cartada destes novos tempos de um John Textor com as atenções voltadas somente ao Mais Tradicional, o clube que garantiu as maiores conquistas aos executivos da Eagle Football. O problema é que há jogos decisivos pela frente. Do fim de julho à metade de agosto, o Alvinegro disputará a vida nas oitavas de final da Libertadores e da Copa do Brasil, com rodadas do Brasileirão intercalando os dois campeonatos de mata-mata. Curioso para saber, por exemplo, com Ancelottinho vai sobreviver à altitude de Quito. Não há espaço para testes, experiências ou para resetar o jogo. O filho do atual treinador terá que chegar pronto para colocar em prática tudo aquilo que aprendeu no Bayern de Munique, Napoli, Everton e Real Madrid. Quatro culturas futebolísticas diferentes e ligas de alto nível que garantem uma diversidade no trabalho. Mas o novo técnico do Fogão nunca teve a palavra final nas comissões técnicas.
Bola no chão
O “botafoguismo” reagiu com espanto e incredulidade ao nome do jovem treinador italiano, na noite do último sábado (5). Horas depois, entretanto, enquanto colunistas da imprensa do 7 a 1 ainda esperneavam, o universo preto e branco colocou a bola no chão e passou a assimilar melhor o motivo pelo qual Davide Ancelotti foi o escolhido. A descrença cedeu lugar à curiosidade. Textor foi na contramão. O momento pedia um profissional com currículo e taças. Mas e se a promissora alternativa der certo? Por aqui, não torcemos por nossas teorias e, sim, pelo Mais Tradicional.
*Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10
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