
O Paraguai está desfrutando de um momento de consolidação esportiva. Pouco mais de 45 dias após encerrar, em casa, uma exitosa edição dos Jogos Pan-Americanos Júnior, Assunção foi escolhida, em 10 de outubro, como sede inédita dos Jogos Pan e Parapan-Americanos adultos de 2031. A decisão, anunciada durante a assembleia da Panam Sports em Santiago, provocou comoção nacional e, agora, coloca o país na encruzilhada da empolgação e dos desafios de entregar toda a estrutura e a gestão necessárias no maior evento multiesportivo do continente.
O tamanho da missão, porém, não provoca nenhum medo nos paraguaios. Surfando no ideal de viver um "sonho" desde as assembleias de apresentação da candidatura, o Paraguai aproveita o ímpeto da vitória para se fortalecer diante do continente. A decisão dos países-membros da PanAm Sports foi recebida como um símbolo de amadurecimento. "O relógio marcava 12h54. Então, veio o anúncio: uma frase curta, composta por oito letras e quatro números. Assunção-2031. Poucas palavras, mas com um significado profundo e força suficiente para mudar a história de um país e fortalecer o espírito esportivo de toda uma região", resumiu Camilo Pérez López Moreira, presidente do Comitê Olímpico Paraguaio (COP) e um dos principais articuladores da candidatura.
O projeto Assunção-2031 superou a concorrência brasileira de Rio-Niterói com um discurso de confiança e realismo. Um sonho vivenciado com os pés no chão, mas a mira voltada para grandes objetivos. Camilo descreveu a vitória como “um reconhecimento à credibilidade, seriedade e consistência”, sustentado em estruturas já existentes e na sinergia entre governo, federações e o Comitê Olímpico. "Essa conquista não pertence a uma única instituição. É o resultado de uma visão compartilhada entre o Estado, o movimento esportivo e os cidadãos. É a demonstração de que, quando o esporte se torna uma política de Estado que transcende as administrações, os resultados impactam gerações inteiras", salientou.
Os desafios
A vitória, porém, abre um tipo de desafio inédito aos paraguaios: o de entregar o prometido. O Pan adulto será realizado, basicamente, nos mesmos complexos utilizados no Pan Júnior. No Panzinho, evento de 4 mil atletas, a Secretaria Nacional de Deportes (SND) e o Parque Olímpico Paraguaio funcionaram bem, mas evidenciaram pontos a serem melhorados de olho na edição sênior do evento, com previsão de reunir mais de 7 mil competidores de 41 países, exigindo expansão, adaptações e capacidade operacional ampliada. “Os Jogos serão um modelo de compacidade, funcionalidade e sustentabilidade, sempre com o atleta como prioridade. Mais de 75% das competições acontecerão nos mesmos locais, otimizando recursos, logística e segurança”, confirmou Camilo, prometendo infraestrutura moderna, eficiente e responsável.
O plano inclui a construção de um estádio de atletismo para 20 mil pessoas, uma nova arena poliesportiva para 10 mil espectadores e uma Vila Pan-Americana, com a missão de se transformar em bairro residencial após os Jogos, por meio de parceria público-privada. Além disso, há metas de uso de energia 100% renovável e de implantação de economia circular. "Mais de 80% da sede já existe ou está em processo de modernização. O orçamento é garantido pelo Estado", pontuou.
Mas, entre os planos e a prática, há um abismo conhecido. No Pan Júnior, as limitações logísticas foram evidentes. O aeroporto Silvio Pettirossi, por exemplo, sofreu com superlotação no dia seguinte ao encerramento. As dificuldades de trânsito entre os polos esportivos é outra questão urbana a ser trabalhada até 2031. As promessas incluem o Trem de Carcanias, responsável por ligar áreas centrais à região do Parque Olímpico, e a modernização do terminal aéreo. O compromisso de garantir deslocamentos de até 30 minutos entre o COP e a SND é um dos principais desafios logísticos.
Ascensão como sede
A candidatura paraguaia também se beneficia do bom momento político do esporte no país e Camilo Pérez aparece como uma figura de alta aprovação popular. Nas cerimônias de abertura e encerramento do Pan Júnior, por exemplo, o público o recebeu com aplausos longos e gritos de apoio, enquanto o chefe de Estado Santiago Peña foi vaiado ao ser anunciado. Essa diferença de recepção reflete o prestígio conquistado pelo presidente do COP. Daqui até 2031, Assunção terá eventos como final da Copa Sul-Americana e um jogo da Copa do Mundo de 2030, da qual será coanfitrião.
O fato ajuda o país a acelerar obras de infraestrutura. "A estrutura técnica é baseada na experiência dos recentes Jogos Sul-Americanos Assunção-2022 e dos Jogos Pan-Americanos Júnior Assunção-2025. Os eventos compartilham o mesmo propósito: mostrar ao mundo um Paraguai aberto, organizado e orgulhoso de seu povo e de sua cultura. O país aspira a se consolidar como referência em gestão esportiva moderna, sustentável e humana, com forte foco na formação de atletas, treinadores e líderes em todo o continente”, pontuou Camilo.
Mesmo com entusiasmo institucional, as restrições de espaço e orçamento impõem prudência. As arenas do COP e da SND têm capacidade limitada e a ampliação exigirá investimentos em acessibilidade, bilheteria, hospitalidade e segurança. Nada disso, porém, diminui a esperança adicionada no país pelo direito de receber o Pan de 2031. "O Paraguai decidiu acreditar em si mesmo. E hoje, com humildade e determinação, projeta-se como um parceiro confiável para o desenvolvimento do esporte em todo o continente americano", prospectou Pérez.
"Esta estrada não foi construída da noite para o dia. É o resultado de uma gestão sustentada, orientada pela cooperação continental e pela convicção de que o desporto pode e deve ser um motor de desenvolvimento", seguiu. Camilo deposita a confiança em uma estrutura operacional mais enxuta. "Assunção-2031 será um modelo de compacidade e eficiência. Temos experiência, temos equipe e temos vontade de fazer bem feito", detalhou.
Na prática, o sucesso do Pan de 2031 dependerá da capacidade de conciliar discurso e execução. O Paraguai, agora, precisa provar: o mesmo entusiasmo responsável por guiar a canditatura pode sustentar sete anos de preparação intensa, controle orçamentário e entrega técnica à altura de um evento continental. O país se projetou ao continente e cabe a Assunção transformar a promessa em resultado e a empolgação em legado. "Assunção-2031 não será apenas um evento esportivo: será um ponto de encontro para as Américas, um espaço para celebrar a unidade, a diversidade e o poder do esporte como ferramenta de transformação", prometeu o dirigente.
