Rio de Janeiro — Caio Bonfim começou no futebol e sonhava em brilhar nas quatro linhas. Fez categorias de base no Brasiliense. O pai dele, João Sena, banca que o filho era bom de bola, passava e finalizava bem. Isso ajuda a explicar a mania de “fominha” do talento Sobradinho. Claro, no bom sentido. Os melhores resultados do país na marcha atlética são dele. Esqueçamos a prata inédita nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Três meses atrás, foi dele o segundo lugar com esforço hercúleo nos 35km do Mundial de Atletismo de Tóquio, prova na qual não é especialista. Quando jogou na posição “correta”, na disputa dos 20km, não decepcionou ao conquistar o ouro que lhe faltava, na competição do mundo e se tornar o brasileiro com mais pódios na competição, com quatro, superando o velocista Claudinei Qurino. Nesta quinta-feira (11/12), em cerimônia de gala na Barra da Tijuca, o marchador teve a trajetória em 2025 reconhecida com o troféu de Atleta do Ano do Prêmio Brasil Olímpico, o “Oscar” do esporte nacional, entregue pelo Comitê Olímpico do Brasil.
"Queria ser jogador de futebol, mas o meu forte era preparo físico. Lembro da única coisa que ganhei no futebol. Numa partida, fiz dois gols, ganhamos por 2 x 1 e um menino me disse que fui o salvador da pátria. Cheguei com essa história em casa e levei um cascudo. Ele me fez ir ao time e pedir desculpas, pois ninguém ganha nada sozinho. Ali, aprendi que não se chega a lugar nenhum sozinho. O atletismo é o esporte individual mais coletivo que tem", compartilhou Caio, durante o discurso.
Caio Bonfim celebra a segunda marcha do triunfo na premiação criada em 1999 pelo COB. No ano passado, foi incontestável e desbancou Edival Pontes (taekwondo) e Isaquias Queiroz (canoagem velocidade). O brasiliense se tornou o terceiro atleta a abocanhar duas estatuetas de melhor do ano em edições consecutivas. Gustavo Kuerten, Guga, foi o dono das festas de 1999 e 2000. Dono do único ouro do Brasil na natação, nos 50m livres de Pequim-2008, e de múltiplos recordes, César Cielo reinou absoluto na temporada do megaevento e em 2009. O último a obter a façanha foi o baiano Isaquias Queiroz, em 2016 e 2017.
O brasiliense de 34 anos superou a concorrência de três figuras vitoriosas do esporte brasileiro em 2025, com ineditismo como trunfos. Henrique Marques, do taekwondo, tornou-se, em outubro, o primeiro homem do país a conquistar o título do Campeonato Mundial. O mesatenista Hugo Calderano furou a bolha chinesa e europeia ao reivindicar o troféu da Copa do Mundo. Quase repetiu a dose no Mundial do Catar, no qual ficou com a prata. O surfista Yago Dora deu ao Brasil o oitavo título em 11 anos na World Surf League (WSL).
Caio curte a vida de celebridade do esporte e sente o prestígio nos bastidores. Nesta quinta, era presença indispensável na cerimônia de gala na Cidade Maravilhosa. Diante do efeito dominó provocado pelos cancelamentos de voos em São Paulo, ele e a mãe, Gianetti Bonfim, embarcaram de Brasília em um voo fretado pelo COB. Pegaram "carona" as atletas Luana Lira e Anna Lúcia Santos, dos saltos ornamentais, que treinam no Centro Olímpico da Universidade de Brasília (UnB).
Nem só de Caio vive o Prêmio Brasil Olímpico, mas a família Bonfim subiu ao palco com a mãe e treinadora do marchador. Voz da consciência do medalhista olímpico e campeão mundial, Gianetti Bonfim foi eleita a melhor técnica do ano. Ela contribui com 20 anos de experiências oito vezes campeã brasileira, recordista nacional, medalhista de ouro ibero e sul-americana, competiu em alto rendimento até os 40, quando decidiu se dedicar a treinar um dos herdeiros e administrar o Centro de Atletismo de Sobradinho (Caso-DF).
Natural de Itaboraí (RJ), Diego Marques levou como treinador masculino. Ele iniciou a carreira em 2019, quando abriu uma academia no quintal de casa. Hoje, é considerado um dos principais da nova geração do taekwondo, foi a mente por trás do ouro de Henrique Marques no Campeonato Mundial da China, o primeiro título de um homem brasileiro na competição. Diego se destaca pelo trabalho junto a atletas de base, como Iris Tang Sing, a primeira brasileira classificada e convocada na modalidade para os Jogos Olímpicos do Rio-2016.
A eleição da principal atleta do país no ano foi equilibrada. Responsável por encerrar jejum de 20 anos do taekwondo brasileiro sem título no Mundial, Maria Clara Pacheco foi consagrada a melhor esportista verde-amarela na temporada. O feito foi suficiente para desbancar ninguém menos do que Rayssa Leal, tetra consecutiva da Street League Skateboarding (SLS) e dona de 27 troféus internacionais na carreira. Campeã do mundo no boxe, em Liverpool, Rebeca Lima também não seria surpresa, caso tivesse o nome dentro do envelope lido pelos mestres de cerimônia Bruno Fratus e Karine Alves. Destaque da Seleção feminina de vôlei e peça fundamental na campanha de bronze na Liga das Nações, a ponteira Gabi corria por fora.
O Prêmio Brasil Olímpico foi marcado por novidades. A escolha popular de Atleta da Torcida foi dividida em masculina e feminina. Outras categorias foram criadas, como destaque dos Jogos Pan-americanos Júnior Assunção-2025, destaque entre as delegações dos Jogos da Juventude Brasília-2025, melhor clube e a medalha Vanderlei Cordeiro de Lima — que celebra o espírito olímpico, ética e humanidade. Os honrados com a insígnia em homenagem ao bronze em Atenas-2004 foram os remadores Andrei Jessé, Diogo Volkmann, Kayki Rocha e Miguel Marques, do conjunto quatro sem, bronze nos Jogos Pan-americanos de Assunção-2025, mesmo após perder um remo durante a prova.
O tradicional Troféu Adhemar Ferreira da Silva, entregue a ícone do esporte nacional pela contribuição ao Movimento Olímpico em 2025 foi entregue ao velejador Robert Scheidt, um dos maiores medalhistas olímpicos da história brasileira, dono de dois ouros, duas pratas e um bronze, entre Atenas-1996 e Londres-2012. Scheidt, inclusive, velejará no Lago Paranoá em 23 de janeiro no Campeonato Brasileiro da classe snipe, no Iate Clube.
Por fim, subiram ao palco da Cidade das Artes, centro cultural na Zona Oeste do Rio de Janeiro, os melhores atletas das 56 modalidades vinculadas. Atletas de 16 das 27 unidades da Federação foram premiados: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Alagoas, Distrito Federal, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Sul, Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pernambuco e Piauí.
Todos os vencedores
Melhor Atleta do Ano - Caio Bonfim (marcha atlética)
Melhor Atleta do Ano - Maria Clara Pacheco (taekwondo)
Equipe do ano - Conjunto ginástica rítmica
Melhor treinadora - Gianetti Bonfim, técnica de Caio Bonfim
Melhor treinador - Diego Guimarães, técnico de Henrique Marques
Troféu Adhemar Ferreira da Silva - Robert Scheidt
Medalha Vanderlei Cordeiro de Lima - Equipe de remo quatro sem
Atleta da torcida feminino - Gabi Guimarães (vôlei)
Atleta da torcida masculino - João Fonseca (tênis)
Atleta revelação - Rebeca Lima (boxe)
Destaque do Pan Jr. Assunção- 2025 - Stephanie Balduccini (natação)
Destaque dos Jogos da Juventude 2025 feminino - Clarisse Vallim (judô)
Destaque dos Jogos da Juventude 2025 masculino - Davi Lima (atletismo)
Delegação destaque dos Jogos da Juventude 2025 - SP, RJ e PR
Clube do ano - Esporte Clube Pinheiros
Os melhores de cada modalidade em 2025
Águas Abertas - Ana Marcela Cunha
Atletismo - Caio Bonfim
Badminton - Juliana Viana
Basquete 3x3 - Gabriela Guimarães
Basquete 5x5 - Yago dos Santos
Beisebol - Victor Coutinho
Boxe - Rebeca Lima
Canoagem Slalom - Ana Sátila
Canoagem Velocidade - Gabriel Assunção / Jacky Godmann
Ciclismo BMX Freestyle - Gustavo de Oliveira 'Bala Loka'
Ciclismo BMX Racing - Paola Reis
Ciclismo Estrada - Tota Magalhães
Ciclismo Mountain Bike - Ulan Galinski
Ciclismo Pista - João Vitor da Silva
Cricket - Laura Cardoso
Desportos na Neve - Lucas Pinheiro Braathen
Desportos no Gelo - Nicole Silveira
Escalada Esportiva - Anja Kohler
Esgrima - Isabela Carvalho
Flag Football - Karol Souza
Futebol - Marta
Ginástica Artística - Flávia Saraiva
Ginástica de Trampolim - Camilla Gomes
Ginástica Rítmica - Nicole Pircio / Maria Paula Carminha / Eduarda Arakaki / Sofi
Madeira / Mariana Gonçalves
Golfe - Fred Biondi
Handebol - Bruna de Paula
Hipismo Adestramento - João Victor Oliva
Hipismo Completo - Marcio Jorge
Hipismo Salto - Stephan Barcha
Hóquei sobre Grama - Yuri Van Der Heijden
Judô - Daniel Cargnin
Lacrosse - Titus Chapman
Levantamento de Pesos - Laura Amaro
Nado Artístico - Gabriela Regly
Natação - Guilherme Caribé
Pentatlo Moderno - Jhon Xavier
Polo Aquático - João Fernandes
Remo - Beatriz Tavares
Remo Costal - David Faria de Souza
Rugby 7 - Thalia Costa
Saltos Ornamentais - Anna Lúcia dos Santos / Luana Lira
Skateboarding - Rayssa Leal
Softbol - Mayra Sayumi Akamine
Squash - Diego Gobbi
Surfe - Yago Dora
Taekwondo - Maria Clara Pacheco
Tênis - João Fonseca
Tênis de Mesa - Hugo Calderano
Tiro com Arco - Marcus D'Almeida
Tiro Esportivo - Felipe Wu
Triatlo - Miguel Hidalgo
Vela - Mateus Isaac
Vôlei de Praia - Carol Solberg / Rebecca
Voleibol - Gabi Guimarães
Wrestling Greco-Romana - Pedro Henrique Rodrigues
Wrestling Livre - Eduarda Batista
*O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB)
