CENTENÁRIO

100 anos de Paulo Freire: ensinamentos, citações e aspas são mais que atuais

Obra e trabalho do educador, filósofo e autor pernambucano mostra o quanto Brasil de 2021 não é tão distante daquele de 1921, ano de nascimento de um dos maiores nomes da Educação no Brasil e no mundo

Ronayre Nunes
postado em 19/09/2021 14:55 / atualizado em 20/09/2021 21:13
Paulo Freire, morto em 1997, foi declarado patrono da educação brasileira -  (crédito: Paulo de Araújo/CB/D.A Press - 22/6/11)
Paulo Freire, morto em 1997, foi declarado patrono da educação brasileira - (crédito: Paulo de Araújo/CB/D.A Press - 22/6/11)

A comemoração do centenário de Paulo Freire, neste domingo (19/9), permitiu uma revisitação à obra e a carreira de um dos nomes brasileiros mais celebrados da academia mundial — e ainda assim criticado no próprio Brasil. Perceber o trabalho do educador, filósofo e autor, contudo, é perceber o quanto a educação do país ainda enfrenta problemas apontados que já eram relevantes há 100 anos. 

Para entender melhor sobre como o tempo, a sociedade e a educação ainda são relevantes atualmente, de acordo com o trabalho de Freire, o Correio Braziliense separou cinco ensinamentos, livros, citações e aspas que de velhos, não têm nada.

Analfabetismo

Em 1963, Paulo Freire aplicou seu método de alfabetização de adultos em Angicos, cidade do interior do Rio Grande do Norte. O projeto conseguiu alfabetizar 300 adultos em apenas 45 dias. Naquele contexto, cerca de 40% da população brasileira era analfabeta. Quase 100 anos depois essa porcentagem diminui, mas ainda existe e é de fundamental relevância. 

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados em julho de 2020, o Brasil amargou uma triste realidade: a taxa de analfabetismo no Brasil subiu, passando de 6,8% em 2018 para 6,9% em 2019. Na prática, são ainda 11 milhões de brasileiros sem ler e escrever no país. 

A Pedagogia do oprimido e as realidades distintas

Outra grande percepção de Paulo Freire, há décadas, e que faz toda a diferença no Brasil de 2021 é o entendimento da existência de desigualdades, especialmente na educação. O educador defendia que elementos do cotidiano dos alunos mereciam ser tratados e abordados em aula, assim como a necessidade de uma contextualização do conhecimento para a realidade de cada adulto — que não é homogênea. Uma das obras que vislumbram a observação desta realidade, e que ganhou destaque mundo afora, é a Pedagogia do oprimido.

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.”

A frase de Freire é uma das inspirações de Maria Madalena Tôrres, professora e moradora de Ceilândia. Desde 1989, a educadora ajuda na alfabetização de moradores do local com o Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia (Cepafre). Desde o início, os organizadores estimam que ensinaram mais de 17 mil moradores de Ceilândia a ler e escrever. O perfil dos participantes é de pessoas com mais de 50 anos, em grande parte mulheres, negras e nordestinas.

Fake news

O tom inglês do termo “fake news” pode até parecer contemporâneo e modista, mas não se engane, as mentiras em volta do trabalho de Paulo Freire tentam destruir as décadas de trabalho do educador. Tendo isso em vista, o Instituto Paulo Freire lançou um livro em que tenta desconstruir as mentiras criadas sobre o filósofo. “Essa desconstrução tem um endereço, um propósito: atacar o que ele defendia, que era uma escola democrática, popular, emancipadora. O alvo da campanha contra Paulo Freire não é só ele: o alvo é o direito à educação pública”, afirma Moacir Gadotti, presidente de honra do Instituto Paulo Freire no prefácio do e-book Paulo Freire em Tempos de Fakes News.

Alunos e críticos

Outra fundamental vertente do trabalho de Freire é entender o aluno como um ser pensante e crítico, que não recebe informações passivamente e as aceita. Esta ideia de cidadãos críticos, pode inclusive, ser um dos pilares das críticas que o educador recebe da ultradireita brasileira, como explica a pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em entrevista ao portal G1: "A partir do momento em que temos alunos problematizadores, que não aceitam de imediato o que é ensinado, teremos menos pessoas alienadas. Isso nem sempre é interessante para a política brasileira".

 

 

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