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FEIRA DO LIVRO

Literatura e cura: Kiusam de Oliveira é presença ilustre na Feira do Livro

Escritora reconhecida internacionalmente pelas obras voltadas ao público infantil e juvenil, com foco na educação antirracista estreia na Feira do Livro nesta quarta-feira (22/6)

Pedagoga, doutora em educação, mestre em psicologia e terapeuta integrativa, Kiusam de Oliveira participa pela primeira vez da Feira do Livro de Brasília este ano. Escritora do que chama de Literatura Negro-Brasileira do Encantamento Infantil e Juvenil (Linebeiju), ela participará de três eventos da programação.

No Palco Sesc, nesta quarta-feira (22/6), às 17h, falará sobre o livro Omo Obá: histórias de princesas (Maza Edições, 2009). A obra conta seis mitos africanos, apresentados com o objetivo de fortalecer a personalidade de meninas de todos os tempos. No dia seguinte, às 10h, na Sala dos Professores, Kiusam conversa com educadores na palestra A escritora que sou, experiência que vivi. Na sexta-feira, às 14h, apresenta-se no Espaço Infantil da Biblioteca Nacional de Brasília, com a oficina Desconstruindo o livro de literatura infantil: descolonizando o olhar.

Leia mais do especial produzido pelo Correio sobre a Feira do Livro neste link.

Com histórias que abordam questões étnico-raciais e diversidade de gênero, Kiusam é reconhecida internacionalmente pela produção literária. "Um dia, eu me deparei com a alegria de uma menina em me conhecer. Ela pulava com tanta alegria e movia os braços tão rápido, de punhos cerrados, dizendo: 'Ai, ai, ai, é a Kiusam, eu amo Tayó, eu amo Tayó'", conta a autora, orgulhosa.

Tayó é personagem de um de seus oito livros publicados, O mundo no black power de Tayó (Peirópolis, 2013), vencedor de prêmios como o ProAC Cultura Negra 2012 e considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um dos 10 livros mais importantes do mundo na categoria direitos humanos.

Origens

Nascida em Santo André (SP), Kiusam Regina de Oliveira é professora da Universidade Federal nd Espírito Santo. Educadora há 35 anos, atuando da educação infantil ao ensino superior, ela afirma que procura, nos livros, voltar o olhar para o "processo de construção de identidades infantis e juvenis saudáveis, buscando contribuir para uma educação antirracista e para o empoderamento feminino".

Quando fala sobre representatividade negra com crianças brancas, Kiusam diz utilizar materiais competentes, "que promovam uma literatura de cura". "Ao mesmo tempo que a literatura cura pessoas negras, independentemente da idade, ela também cura as pessoas não negras", resume.

A potência de sua obra tem origem na própria história da escritora. "Minha mãe conta que o pai dela determinou que o meu nome seria Kiusam quando ela estava com 13 anos de idade. Ele disse que fazia parte das origens ancestrais dele. Que eu seria uma rainha. Rainha da Noite. Meu avô paterno fazia parte de um grupo étnico, os Khoisan, que formam o grupo mais antigo do planeta. O DNA deles é encontrado no esqueleto mais antigo que se tem notícia. Era um povo nômade. Um nome que valorizei desde sempre", relata.

Alfabetizada aos 4 anos, diz que sua escrita vem da observação do mundo e do dia a dia do magistério. "Consigo escrever para crianças e jovens de todas as idades e com a linguagem própria deles", diz. Apesar de estar estreando na FeLiB, conhece o Distrito Federal há anos. "Frequento Brasília há mais de 25 anos. Meu pai de santo é de Brasília. A cidade tem um significado especial. É o lugar das manifestações em prol dos direitos humanos e da liberdade, das ciências e, de forma geral, da valorização do ser humano."

A visita à cidade desta vez, no entanto, carrega significado especial. "Para mim, pisar em Brasília, na Feira, neste momento, tem um sabor especial. Num ano que traz a possibilidade de recuperarmos nossos direitos e o respeito à vida com dignidade a todos que habitam o Brasil, é uma grande emoção pisar em Brasília", reforça.

Colaborou Mariana Niederauer