CINEMA

Filme mostra Bruce Springsteen deprimido e genial

Protagonizado pelo ator Jeremy Allen White, estreia em BH 'Springsteen: Salve-me do desconhecido', retrato corajoso do astro

Mariana Peixoto
postado em 30/10/2025 04:00
Jeremy Allen White interpreta um Bruce Springsteen atormentado pelos fantasmas do passado, distante do mito
Jeremy Allen White interpreta um Bruce Springsteen atormentado pelos fantasmas do passado, distante do mito "The Boss" - (crédito: Disney/divulgação)

 

Com estreia hoje (30/10), “Springsteen: Salve-me do desconhecido” é tudo o que não se espera de um dos (últimos) grandes heróis do rock. Não é uma trama para quem conhece apenas “Born in the U.S.A.” e “The river”. Ou talvez seja, pois a história lança luzes sobre um dos trabalhos mais importantes (se não o mais) de Bruce Springsteen, que o fez atingir os 76 anos com a mesma relevância de quando foi alçado ao estrelato, mais de quatro décadas atrás.

É um filme, em suma, sobre depressão. Estrelado por Jeremy Allen White, em seu primeiro protagonista de peso desde a consagração na série “O Urso”, o filme coloca Bruce Springsteen entre 1981 e 1982, mal entrado nos 30 anos, à beira do estrelato, porém esgotado.


Fita cassete

Com roteiro e direção de Scott Cooper, o longa é baseado na biografia “Deliver me from nowhere” (também o título original do longa), de Warren Zanes. O relato jornalístico acompanha o músico durante a criação do álbum “Nebraska” (1982).

É um disco acústico, cheio de referências folk e de personagens marginalizados do interior dos Estados Unidos. Foi gravado de forma precária em fita cassete pelo próprio, sozinho em seu quarto. Ou seja, “Nebraska” vai contra o que a gravadora Columbia e todos os que estavam ao redor dele queriam, pois se esperava o sucessor do disco “The river” (1980). O trabalho cheio de hits só aconteceu com “Born in the U.S.A.” (1984).

Fugindo da hagiografia de produções do gênero, “Salve-me do desconhecido” tenta mais explicar o artista e suas questões do que propriamente acompanhar a trajetória de um astro. A narrativa começa no final dos anos 1950, com imagens em preto e branco apresentando o retrato frágil da infância de Bruce.

Aos 8 anos, o garoto, com a anuência da mãe, Adele (Gaby Hoffman), ia até os bares buscar o pai, Dutch (Stephen Graham). Bêbado e violento, ele gerava tensão na mulher e no menino – as imagens em P&B aparecem de quando em vez, expressando a difícil relação do garoto com a família.

A sequência inicial é rapidamente cortada para uma explosão de cores, quando assistimos a Springsteen adulto, suado e em êxtase com sua banda em um show em Cincinnati, em 1981, já nos finalmentes da turnê “The river”. No retorno a Nova Jersey, a vida real bate como uma grande ressaca.

Springsteen quer se isolar numa casa alugada no interior, à beira do lago. Ele sabe bem o que não quer: se repetir na música. O filme acompanha seu processo de descoberta, da sonoridade e dos temas, em meio ao trabalho em gestação. Em paralelo, o vemos na vida comum, passando quase despercebido pelos cenários que conhece, a Jersey local.

A inspiração para Springsteen gerar “Nebraska” vem dos contos góticos da escritora Flannery O’Connor, textos marcados pela violência; do filme “Terra de ninguém” (1973), de Terrence Malick, sobre dois jovens namorados que entram numa espiral de assassinatos. Em busca dos próprios fantasmas, ele passa repetidamente em frente à casa, hoje abandonada, em que viveu na infância.

Seu empresário, Jon Landau (Jeremy Strong, com aquele ar de poucos amigos que carrega desde a série “Succession”), é o único mais próximo de compreendê-lo. É ele quem insiste, diante das constantes investidas da Columbia, que o disco de Springsteen só vai sair quando ele conseguir a sonoridade que almeja.

Os pensamentos sombrios que rondam a cabeça do músico por vezes são anuviados pela única presença luminosa em sua vida. Ela é Faye (Odessa Young), mãe solteira que frequenta regularmente seus shows improvisados de blues no Stone Pony, onde ele faz covers estridentes de “Boom boom”, de John Lee Hooker, e “Lucille”, de Little Richard. A personagem feminina é ficcional, foi inspirada em alguns relacionamentos de Springsteen na época.


Êxtase

The Boss, como o grande público o conhece, é visto poucas vezes. Uma delas durante a gravação de “Born in the U.S.A.”. É um momento de êxtase, de respiro do filme, o que as feições dos músicos e dos técnicos do estúdio não escondem.

Mas o Springsteen que emerge em “Salve-me do desconhecido” é muito humano – ou seja, cheio de imperfeições. Tal retrato, difícil e melancólico, é o grande acerto deste filme, que foge, o tempo inteiro, da mitificação do personagem.


“SPRINGSTEEN: SALVE-ME DO DESCONHECIDO”
(EUA, 2025, 120min.) – Direção de Scott Cooper, com Jeremy Allen White, Jeremy Strong e Odessa Young. O filme estreia nos cines Boulevard 6 (IMAX), às 13h30, 18h40, 21h15 (qui a dom e qua) (leg); Cidade 5, às 16h (dub, no sab. será leg), 20h10 (leg); Cidade 8, às 13h40 (dub); Contagem 8, às 13h30, 16h, 18h40 (dub), 21h15 (leg); Del Rey 3, às 15h40 (leg), 18h20 (dub), 21h (leg); Diamond 2, às 18h20, 21h (leg); Minas Shopping 5, às 13h30, 16h, 18h35 (dub), 21h10 (leg); Monte Carmo 1, às 15h50, 18h30 (dub), 21h10 (leg); Pátio 7, às 19h, 21h45 (exceto sab e dom), 14h15, 17h10, 20h (sab e dom) (leg); Ponteio Premier, às 16h10, 21h15 (leg); Ponteio 3, às 13h50, 18h35 (leg); Via 1, às 16h10, 20h40 (dub).

 

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