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Lockdown

460 mil alunos voltam às aulas remotas no Distrito Federal

As aulas ocorrem por meio da plataforma Escola em Casa DF ou, para aqueles que não têm acesso à internet, a Secretaria de Educação está distribuindo material didático na casa do aluno

O ano letivo das escolas públicas do Distrito Federal (DF) começou nesta segunda-feira (8/3) de forma remota. Ao todo, retornaram às atividades cerca de 460 mil alunos matriculados em 686 escolas da Secretaria de Estado de Educação do DF (SEEDF).

Ainda de forma remota, em decorrência do agravamento da pandemia de covid-19, as aulas ocorrem por meio da plataforma Escola em Casa DF ou, para aqueles que não têm acesso à internet, com material impresso, entregue na casa do aluno pela Secretaria de Educação.

Em fevereiro, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou que as aulas da rede pública de ensino do Distrito Federal seriam presenciais a partir de 8 de março, mas recuou para conter a pandemia. No entanto, foi autorizada a retomada presencial das escolas, creches e faculdades particulares.

De acordo com a SEEDF, a pasta oferece internet para professores e alunos de forma gratuita. Ainda segundo a secretaria, o Governo do Distrito Federal (GDF) está gastando R$ 46,8 milhões por ano para oferecer pacote de dados de acesso à internet a professores e alunos de baixa renda.

 

O diretor do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), Samuel Fernandes, contesta: “Além da plataforma Escola em Casa, professores também acabam usando o próprio WhatsApp para ensinar durante a pandemia”.

 

Sinpro-DF diz que retorno presencial seria “sentença de morte”

Samuel afirma que esse não é um bom momento para retomada presencial na rede pública. “As escolas hoje não têm estrutura para receber os alunos respeitando as regras de distanciamento social”, explica.

Segundo o sindicalista, retomar as aulas presenciais sem vacinar os professores é uma “sentença de morte”.

Samuel tem consciência que as aulas em formato remoto deixaram uma janela de conteúdo para trás no ano passado.

“Pode levar anos para recuperar esses conteúdos perdidos no ano passado e os professores sabem disso, mas o que importa agora é manter todos em casa. Conteúdo a gente recupera, mas vidas não”, declara.

 

Arquivo Pessoal - Samuel Fernandes, diretor do Sinpro-DF, declara ser improvável retorno de aulas presenciais sem vacina para professores

Professora relata surpresa positiva com o início do semestre

No primeiro dia de aula, a professora de química Vânia Luiz Mota, 54 anos, afirma ter se surpreendido com a maior quantidade e participação dos alunos em relação ao ano passado. Docente do Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab) em Taguatinga, a primeira aula dela no semestre contou com 40 estudantes.

“Eu acho que os meninos estão começando a ver que a gente está realmente impossibilitado de estar em sala de aula porque é a nossa saúde que está em jogo”, explica a professora.

Vânia espera que as aulas presenciais este ano, mas afirma que, sem vacinação, o retorno não seria viável em decorrência da lotação dos leitos de UTI. “Quando não tem pandemia é difícil achar saúde pública, imagine agora”, explica.

Nas escolas públicas, ainda não há previsão para esse retorno, mas nas particulares isso é realidade. Sobre a retomada presencial na rede privada, Vânia afirma considerar temeroso por conta da saúde de professores, alunos e dos familiares. “O fato de o aluno estar na escola particular não implica que ele tenha um excelente plano de saúde, não implica que ele não anda de ônibus”, ressalta.

 

 

Arquivo Pessoal - A professora de química Vânia Luiz, está otimista com a volta às aulas e com a presença dos alunos na sala de aula virtual

Professores pagam para trabalhar

No Centro de Ensino Médio Integrado do Cruzeiro (Cemi Cruzeiro), os professores fazem uma caixinha para bancar a internet do colégio e trabalhar. “A gente precisa tirar do nosso bolso para pagar a internet do colégio e das nossas casas” ,afirma o diretor da unidade Getúlio Sousa.

Para Getúlio, a volta às aulas mostra tanto preocupação quanto alívio. “Os professores ficam muito felizes com o retorno das aulas. Mas ao mesmo tempo que é gratificante, é um sofrimento”, explica.

O problema é que não há no colégio estrutura adequada para o ensino a distância. “Falta equipamento, como computadores, e a própria internet da nossa casa também não é suficiente. O professor precisa comprar um plano mais caro para dar aula, e, às vezes, não consegue pagar esse plano”, diz.

Mas as expectativas são boas no colégio. O diretor lembra que 2020 foi um ano de aprendizado. “No começo do ano a gente observou o que deu certo e o que não deu no ensino remoto em 2020. A gente fez correções e, hoje,a gente sabe chegar melhor nos alunos, diferentemente do que ocorreu no ano passado”, relata Getúlio.

Estudante acredita que alunos e docentes voltarão com muita força de vontade neste ano letivo

 

Arquivo Pessoal - Aluna do CEMI Cruzeiro, Eduarda Alves está animada para o ano letivo

Estudante do terceiro ano do Centro de Ensino Médio Integrado do Cruzeiro (Cemi Cruzeiro) Eduarda Alves Moura Magalhães, 16, relata ter expectativas bem altas para o ano letivo de 2021.

No primeiro dia de aula, os alunos e responsáveis receberam instruções sobre como usar o sistema e plataformas da escola. Também foi informado como serão as dinâmicas de avaliação, que variam conforme a didática do professor, e o calendário letivo.

“Acredito que os alunos e professores voltem com muita vontade e disponibilidade para correr atrás do tempo perdido e se esforçar em dobro”, disse a jovem. Segundo ela, o ano de 2020 representou um desafio: “principalmente pelo choque de realidade e a quase obrigação de aprender a manusear tecnologias que muitas pessoas não tinham o mínimo de afinidade”.

Apesar das dificuldades enfrentadas no início do ensino remoto, Eduarda diz que a disponibilidade de professores e coordenadores para tirar dúvidas fez com que o semestre fosse proveitoso. “Os professores têm se esforçado muito para manter a qualidade do aprendizado, mesmo que a distância, claro que não se compara ao ensino presencial, mas todos estão se esforçando”, finaliza.

*Estagiários sob a supervisão da editora Ana Sá